segunda-feira, setembro 30, 2013

PENICHE: UM CONCELHO ONDE TODOS (menos um) PERDEM

Sendo um dos concelhos a nível nacional com maior nível de abstenções (56,77%), dá para perceber que as forças cívicas aqui em Peniche perderam por completo a capacidade de mobilização das populações, logo tenderá este concelho a breve trecho a tornar-se amorfo, cinzentão, sem capacidade reivindicativa e sem força anímica para poder lutar contra a inércia que aqui se verifica. O não querer participar de forma alguma em actividades comunitárias tornou-se uma forma de estar das gentes deste concelho. Ainda se as pessoas se abstivessem por opção, eu seria capaz de compreender tal posição, mas absterem-se para não se darem ao trablho de contribuir para tomar uma decisão já é preocupante. Das eleições autárquicas anteriores (2009) para estas a abstenção cresceu 10 pontos percentuais. O que significa que mais eleitores deste concelho consideraram que o seu contributo não era interessante. O concelho de Peniche perdeu.

Também o número de votos em branco cresceu 100% das últimas eleições para estas. Sendo que o voto em branco tem o significado de o eleitor não se rever em nenhuma candidatura, mais uma vez e por culpa exclusiva dos partidos políticos, é o concelho de Peniche que perde. Podiam como noutras localidades promover o aparecimento de candidaturas independentes, mas por efeito da inércia já referida anteriormente, não existem alternativas que possam desencadear uma mobilização cívica. Também os votos nulos crescem cerca de 100%. Ilustrativo da vitória de “Pirro” de quem eventualmente tenha ganho (?) as eleições.

Para a Câmara a CDU perde a maioria absoluta conquistada no mandato anterior. O vereador que perdem é ganho pelo PS que se torna a 2ª força politica com os votos perdidos pela CDU e do PSD. O PS perde também a aposta que fez para reconquistar a Câmara Municipal e não atingindo sequer os 25% dos votos. Para um Partido Socialista que ganha em toda a linha a nível nacional, estes valores atingidos em Peniche significam tão-somente a derrota pessoal do candidato. Só o senhor Seguro não percebeu isto a tempo. A mesma água não passa duas vezes por debaixo da mesma ponte. Só não sabe isto quem é burro. Esperada e confirmada era a derrota do PSD que se estendeu ao comprido também aqui em Peniche. A CDU é vítima do autismo a que se foi reduzindo ao longo destes 4 anos. Prometendo e não cumprindo. Deixando degradar cada vez mais o nosso património municipal. Fechando-se sobre si mesma. Sem um papel eficaz na luta que melhor sabe desempenar que é a de cariz social. E no entanto foi alertada para isso por diversas vezes. A CDU continuando por este caminho, perderá as próximas eleições aqui em Peniche de forma natural. E terá que fazer uma longa travessia do deserto para recuperar o que perde de forma inglória.

A Assembleia Municipal não nos merece qualquer referência. É um Órgão inócuo onde nada acontece digno de ser descrito. Serve para quem lá está poder travar discursos orgásmicos que lhe justificam a existência. Dizer o PSD perde um mandato para o PS não representa qualquer valor acrescentado para melhorar os níveis democráticos concelhios.

Falta falar do único vencedor do passado dia eleitoral em Peniche. Foi o Henrique Bertino. Que varre a Junta de Freguesia da Cidade de Peniche de forma avassaladora. O Henrique Bertino não ganhou na campanha eleitoral. Foi durante os mandatos em que foi Presidente da Freguesia da Ajuda. Com o exercício dos seus mandatos na base da proximidade com os eleitores. Com uma atitude transparente e de uma verticalidade a toda a prova. Não surgiu agora para o desempenho destas funções vindo do nada. Fez uma campanha dando a cara por tudo o que realizou e por aquilo que não conseguiu fazer. Conhecendo os seus eleitores e eles sabendo que a melhor forma de resolverem os seus problemas era apelando ao sentido de justiça do Presidente da Junta da Ajuda. Não está nesta actividade porque não tem mais nada que fazer ou para ser simpático para os amigos. Os autarcas que fazem parte da Câmara Municipal deveriam por os olhos no Henrique Bertino e ver como se ganham as próximas eleições. Não é a fazer renda de bilros, nem a praticar surf por mais nobres e respeitáveis que sejam essas actividades. É a trabalhar pelos e para os seus eleitores, sobretudo os mais desfavorecidos e os cívicamente representativos.  

sábado, setembro 28, 2013

PORQUE...

Estou impedido de falar aqui hoje e amanhã de tudo o que cheirar a eleições autárquicas...
Porque importa reflectir motivado para o que é importante...
Porque é cada um de nós que avalia o melhor caminho para cada um dos seus municípios...
Porque votar é mais que um dever, é um DIREITO cívico...
Por tudo isto e por tudo aquilo que não sei dizer por me faltarem o engenho e a arte...
Deixo-vos com uma música de Fernando Lopes Graça e versos de Poeta José Gomes Ferreira uma forma ideal de vos acompanhar nestas 48 horas.
http://www.youtube.com/watch?v=QNDD1hf6UQ0

sexta-feira, setembro 27, 2013

OS DEUSES ESTÃO FARTOS

De toda esta pantomina que se ergueu à volta das autárquicas. Para contornar as razões impeditivas de haver cobertura televisiva destas eleições. Os líderes partidários viajam pelo país, parando na quase totalidade dos concelhos, e com maior ou menor impacto vão tecendo loas ou criticas desmesuradas aos outros partidos.
O PCP e o BE elegem como seus principais adversários ao partidos de direita e o PS. Para o PS os culpados de todos os males são os partidos do Governo. Para os partidos do Governo o ónus da culpa está no PS.
Mas de autarquias não se fala. De candidatos autárquicos não se fala. De propostas impossíveis de cumprir não se fala. De candidatos naif com a beleza que lhes confere a juventude e a inocência e credores de um olhar atento, não se fala. Dou de barato o exemplo do Flávio Nunes de 18 anos, candidato a Presidente da Câmara de Tomar pelo Partido da Terra, que consegue tornar-se um fenómeno de popularidade a nível nacional, pela criatividade e brilho que empresta à sua campanha.

O exemplo mais acabado de aproveitamento pelos candidatos locais da situação nacional, é o caso da candidatura em Peniche do Bloco de Esquerda, que se apresenta com candidatos que ninguém conhece, sem dizer uma frase que esclareça sobre os seus intentos, utilizando tão somente a cobertura jornalística que é dada nas televisões ao Partido que sustenta essa candidatura. Por isso quando ouço os dirigentes do dito Bloco a pregar moral e ética, farto-me de rir com gente que permita que em nome de nada os seus (?) se candidatem a coisa nenhuma no concelho de Peniche. Vade Retro satanás para o Bloco de Esquerda no nosso concelho. E por aquilo que acontece aqui eu imagino o que não se passará nos outros concelhos.

Por isto tudo os Deuses mandaram uma tempestade para Portugal no último dia de Campanha Eleitoral. Para reflectirmos mais cedo. Para interiorizarmos as nossas dúvidas e exaltações. A chuva cai e lava as nossas ideias.

quarta-feira, setembro 25, 2013

OS PROGRAMAS ELEITORAIS

Estive a ler o conjunto de lugares comuns que constituem os programas de candidatura dos principais partidos concorrentes às autárquicas do próximo domingo em Peniche.
Todos sabem que a Câmara Municipal não suporta mais endividamento. Algumas das propostas já apareciam nas candidaturas do último acto eleitoral. Repetem-se as promessas com despudor. Não quero dar exemplos porque podia cheirar a perseguição.
Um dos candidatos até diz que não promete porque sabe as dificuldades que o país atravessa. Mas logo a seguir desfia um rosário de candidaturas a tudo e mais alguma coisa, acabando por de forma subliminar fazer o mesmo rosário de promessas que todos os outros.

Os programas de candidatura são como a Assembleia Municipal. Existem porque têm de existir. Ficaria mal não serem feitos. Mas poucos os leem e ninguém vota pensando no que foi prometido.
Os candidatos julgam que alguém os poderia acusar de não terem ideias se os não apresentassem (aos programas eleitorais). Mas sabem que tudo quanto seja mais que 5 linhas, dificilmente é lido por alguém. Bem andam as candidaturas do BE e do CDS, que não prometem nada. Sabem que é uma dupla perda de tempo. Primeiro porque ninguém quer saber deles (os programas) para nada. Depois porque não são eleitos para que se iriam dar a esse trabalho?

O candidato do partido do governo que deveria saber como ninguém das restrições e dos sufocos a que os municípios ficaram submetidos, com um despudor que raia a pouca vergonha com que tudo isto é encarado promete para além do imaginário.
O ressuscitado fala do que foi feito na década passada com dinheiro do governo como se tivesse sido obra sua. Obra sua foram as inesquecíveis festas do Big Brother de santa memória. E as idas à Rússia e passeios semelhantes. Mas é melhor não falar mais de ruins defuntos.
O tri-candidato se fosse inteligente bastava-lhe por neste programa de candidatura o que prometeu nas anteriores e não cumpriu. Já tinha aí um óptimo plano de trabalho.

Perguntais então, se não é pelos seus programas que poderemos votar, então vamos votar baseados em quê? No grau de simpatia/empatia que sentimos pelo candidato. Na credibilidade que nos oferece a equipa em que suporta a sua candidatura. No respeito que nos merece pelas actividades que ao longo dos anos desenvolveu em favor do Concelho de Peniche e por quem o habita.
Para a Assembleia Municipal órgão municipal inócuo e supérfluo não merece a pena votar. O BRANCO é o seu destino.
Para a Câmara Municipal já que o que nos oferecem fica entre o nada e coisa nenhuma, é melhor levar o tratamento a BRANCO que foi aplicado no parágrafo anterior.
Merece a pena votar para as Juntas de Freguesia. São gente que trabalha e não prometem o que não podem cumprir. Claro que vou votar na lista em que aparece a minha mulher. Porque acredito nela. Porque acredito no candidato que a suporta. Que ao longo da sua vida sempre dedicou à causa pública o seu melhor. Não aparece vindo do nada, nem porque precisa de ocupar o seu tempo. Para a Junta de Freguesia vou votar Anita. Vou votar Henrique Bertino. Vou votar CDU que é onde eles estão.
E ponho neste voto o meu ponto final parágrafo para as autárquicas de 2013.

terça-feira, setembro 24, 2013

ESTOU LIVRE E ESCREVO O SOL

Morreu António Ramos Rosa. Com 88 anos. Poeta. Completamente livre, completamente a mais no universo dos dias portugueses. Não era bancário reformado, deputado a tempo parcial, surfista de ocasião, gerente emprestado. Era só um poeta e um português de espinha direita. Voto nele. Quero fruir a sua poesia sabendo que isso não me leva a lado nenhum. Antes poeta por um dia que medíocre toda a vida.

O sol do poema é o sol para lá do sol
O tema da minha poesia passa por uma busca de identidade.
Também ando numa deriva
à procura daquela
outra coisa
que quero encontrar
e que talvez encontre,
uma outra coisa
que está em tudo,
em cada coisa, mas
que ninguém vê
porque existirá
misturada na poeira
da existência.
Mas eu quero ver
Tenho a preocupação
de ver.

segunda-feira, setembro 23, 2013

23 DE SETEMBRO - O DIA DO RESTO DAS NOSSAS VIDAS

Há cerca de 3 anos que andam preparando os portugueses para o dia de hoje. O dia em que Portugal se emanciparia dos seus algozes financeiros, conseguindo nos mercados empréstimos que libertariam definitivamente da dependência do FMI, e os outros 2 financiadores que nos têm apertado o garrote até limites inimagináveis, com o apoio do maior dos trapaceiros que nos podia calhar em sorte. Com promessas de paraísos em período eleitoral, ganhas as eleições mandou-nos para o pior dos infernos e tornou-se mais papista que o papa, restringindo ainda mais a nossa vida que aquilo que os nossos credores exigiam.

O que me admira, o que me espanta e amedronta é que pessoas que eu conheço do meu quotidiano sejam solidários com o partido que dá alojamento a este vampiro, apresentando-se a eleições locais com um sorriso no rosto. Assusta-me pensar que existem portugueses solidários com quem demonstra tanto ódio pelos seus concidadãos. Assusta-me a ideia que em vez de condenarem ao ostracismo quem é capaz de nos devolver à miséria e ao opróbrio maior. Temo que nos estejamos a tornar insensíveis aos sinais de miséria e indigência cultural, intelectual e social, que nos circundam. Professores, licenciados, católicos e cristãos, veem a multiplicação da sopa dos pobres e não se revoltam. Assistem à criação de 2 Escolas, a dos ricos com direito a tudo e a dos pobres em que para além de saber ler e escrever e contar, pouco mais interessa.

Eu sinto uma mágoa profunda por ver amigos meus, ex-alunos, filhos de meus amigos, darem o nome e a sua representatividade para segurar ao poder aqueles que traíram e traem todos os dias os outros portugueses menos afortunados.  

sábado, setembro 21, 2013

EU ERA UMA FUNCIONÁRIA PÚBLICA FELIZ

Ganhava 800 e qualquer coisa euros de vencimento líquido. Tinha votado no partido do Governo porque até achava que o candidato a 1º Ministro tinha um ar fresco. E dizia-me que as coisas com ele iriam melhorar. Que não me tocavam nos vencimentos e subsídios. Que acreditava nas minhas capacidades e que com ele eu jamais correria o risco de ser despedida. Acreditei e votei.

Passados alguns meses ficaram-me com o subsídio de férias. Aplicaram-me uma taxa mensal sobre o meu vencimento. O subsidio de Natal vai seguir o mesmo triste destino que o subsidio de férias. Aplicam-me valores de taxas moderadoras que quase me inibem de ir ao médico. Liberalizaram os alugueres de rendas de casa e subiram-me a renda de tal modo que me obrigaram a ir para um quarto. Fui cortando na alimentação. Arranjei um 2º emprego e pus-me a alternar num bar porque tenho uma filha que está numa escola e o preço de livros e por aí fora, aumentou. Cortei ainda mais na comida para que ela se pudesse alimentar convenientemente. Acharam que eu já não dava rendimento como administrativa no meu serviço e mandaram-me para a mobilidade especial reduzindo mais ainda o meu vencimento.

Agora que cheguei ao estado que podeis ver na foto abaixo já nem o meu chefe me assedia e vou acabar despedida definitivamente. Quem me mandou ser burra e votar nestes gajos só porque tinham um aspecto mais apessoado que os anteriores. Eu mereço o que me está a acontecer.                

sexta-feira, setembro 20, 2013

O MEU AMIGO FRANCISCO


Não. Não estou a falar dos meus amigos Xico Pedra ou do Francisco Manuel. Nem de tantos outros Franciscos com quem me fui cruzando ao longo da minha vida.

O Francisco de quem eu falo não conheço pessoalmente, conheço-o através dos seus actos e das suas palavras. Foi eleito Papa há uns 6 meses. De então para cá tem-se notabilizado por escandalizar. Escandaliza em primeiro lugar os seus pares e depois todos os outros nos quais me incluo que são surpreendidos com a sua quebra de rigor quanto a atitudes e convenções eclesiásticas.
“ – Eu venho escandalizar…” Onde é que eu já li isto? Estou a vê-lo de açoite nas mãos expulsando os vendilhões da Casa do Pai. O sentido de humildade que empresta às suas atitudes não é um tique, é uma forma de vida. É uma atitude consequente. Quando diz “quem sou eu para condená-los?” isto não cheira a falso. No contexto em que é afirmado percebe-se que o meu amigo Francisco não se sente mesmo capaz de julgar ninguém pelos seus erros e que não percebe tanta falta de solidariedade humana.

quarta-feira, setembro 18, 2013

CAMPANHA ELEITORAL

Nota-se. Os partidos políticos espalharam cartazes pelo concelho, espalhando promessas de um futuro promissor se votarmos as suas propostas. Hoje, dos 5 partidos concorrentes à Câmara Municipal e à Assembleia Municipal, 3 já nos deixaram ver o seu grau de incompetência e de mediocridade.
São lançados 2 que nunca foram testados. A pobreza de meios com que se apresentam na passerelle não lhes augura grande futuro. E o desconhecimento que a generalidade dos eleitores tem dos seus proponentes. Será pois um voto no desconhecido. Acresce que estes neófitos candidatos se permitem a não comparecerem ao sufrágio para a as Juntas de Freguesia e deles só um concorre à assembleia municipal.

Reduzidas ao limiar da pobreza e da mediocridade as hipóteses de os eleitores terem alternativas que os lancem na dúvida, restar-lhes-á ler uns papéis de indigência confrangedora que se limitam a anunciar o que fariam se, ouvir o barulho de alguns carros com bandas sonoras pagas ao minuto anunciando o paraíso, concordar com as idiotices tremendas que lhes são sugeridas de todos os lados e fazer o gesto de Bordalo assim que se apanharem a sós.

Aguardemos que passem rapidamente estes 15 dias. Aconteça o que acontecer o número de abstenções crescerá, o número de votos nulos e brancos crescerá e uma minoria muito minoritária de cidadãos determinará o grupo de cavaleiros da triste figura que nos acompanharão nos próximos 4 anos com carnavais de inverno e de verão, surfando a nossa paciência. Tudo culpa de todos nós. Que deixamos as coisas correrem assim, porque a nossa zona de conforto é bem mais importante que um quotidiano partilhado e construído com os outros. Viver em sociedade é uma “chateza” das grandes.

segunda-feira, setembro 16, 2013

Ó CRATO, VAI-TE CATAR

Este último fim de semana, o sacristão do reino de Portugal, o dito prior do crato foi inaugurar escolas já a funcionar e alegadamente proceder à abertura do ano lectivo na zona centro do país.
Durante uma sua intervenção num anfiteatro foi interpelado por uma professora que o inquiriu sobre se ele sabia o que estava a fazer ao sector da educação em Portugal. O dito cujo ministro não respondeu à professora alegando que aquele não era o lugar e o momento próprios.
Terminado o conjunto de banalidades que achou por bem verter em vómito sobre a assistência, o mal parido ministro da educação já junto dos jornalistas, sem a presença de quem o confrontou com a sua nefasta actuação, afirmou que o problema da professora seria de origem de alguma perturbação mental.

Interessante. Um ministro de um sector onde é fundamental o confronto de ideias e técnicas, apelida de perturbados os que não concordam consigo. Pessoalmente acho estranho este vómito não ser convidado a demitir-se. Julgo que estes ministros da treta estão a fazer um teste aos portugueses. Ver até onde podem ir sem que este povoléu perca as estribeiras. Tudo fazem para nos testar. Agora, também somos tresloucados.
O que me espanta é que há gente que se deixa seduzir por estes alarves. Já não são só estes que se apoderaram do poder que se tornam culpados. Os seus seguidores são tão culpados quanto eles. O partido em que militam também. Porque se os seus filiados lhes alimentam o ego, cresce em flecha este ódio ao povo e às gentes que governam. Não posso deixar de olhar para os cartazes que povoam a minha terra, e ver pessoas que eu conheço e dão rosto a este psd e sentir asco pela sua conivência.
Amanhã dirão que se enganaram. Mas entretanto já destruíram milhares de pessoas e de famílias. Conduziram muitos milhares à fome e à degradação sucessiva da sua qualidade de vida.

Já não estou só triste. Estou a começar a odiar esta gentalha toda.

sexta-feira, setembro 13, 2013

NATÁLIA CORREIA


Se fosse viva hoje faria 90 anos de idade. Nascida a 13 de Setembro de 1923, veio a falecer em casa com um fulminante ataque cardíaco em 16 de Março de 1993.
Figura marcante das letras portuguesas, influenciou gerações sucessivas de homens do pensamento, da política, das artes em geral. Açoriana, mulher de antes quebrar que torcer, era uma musa num corpo de mulher que detinha o valor da palavra fácil, do impropério repentista, das ideias mais arrojadas que ao longo do seu tempo de vida foi desenvolvida. Adversária do anterior regime, foi sempre solidária com os seus amigos, mesmo que os admoestasse com volúpia.
Conheci Natália Correia através de um amigo de ambos, o José Manuel dos Santos. Algum tempo antes da sua morte fui ao seu bar, templo das ideias, e reconheceu-me passados que eram alguns anos após o nosso último encontro. Dita por ela no Botequim a palavra Peniche, cheirou a mar a tempestades e a sal. Apresentei-lhe a minha mulher e com uma cordialidade inusitada cumprimentou-a e agitando o cigarro colocado na sua longa boquilha, dando-lhe dessa forma livre trânsito para aquele auditório do pensamento.
Foi deputada pelo PPD (era uma amiga do Sá Carneiro e da Snu) e bateu-se pela defesa da cultura e do património e dos direitos das mulheres. É desse tempo um poema que num repente lhe saiu quando se discutia o aborto na AR, quando um deputado do CDS afirmou que as relações entre o homem e a mulher só deveriam existir quando o seu fim fosse a procriação.

Os alarves que agora se instalaram no poder em Portugal teriam da sua parte sempre em riste, o chicote da palavra contra o ódio que manifestam pela humanidade em geral e pelos portugueses em particular.
Deixo aqui o célebre Truca-Truca, em homenagem à mulher, à amiga, à portuguesa e à Açoriana.

Truca-Truca

Já que o coito – diz Morgado –
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou – parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o orgão – diz o ditado –
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.

quinta-feira, setembro 12, 2013

ENA PÁ! QUE CHEIRO A PEIXE...

Acordei hoje às 7 da manhã e fui para a rua passear com o cão. O velho cheiro a guano que me acompanhou durante décadas tinha regressado às nossas ruas.
Isto permitiu-me regressar aos bons velhos tempos em que os carros da fábrica do guano passavam à porta de casa dos meus pais, carregados de chicharro, chaputa, cavala e outras espécies semelhantes, para virem a ser transformados em guano, quando a apanha superava a capacidade de venda para o exterior, ou para a indústria de transformação.

Este cheiro trouxe-me de volta aos tempos em que as raparigas novas do meu tempo trabalhavam nas fábricas de conservas e acabado o trabalho passavam para casa em frente aos cafés do centro da cidade. Elas não tinham condições de higiene no trabalho com um mínimo de dignidade, e nós que já lhes conhecíamos o mau feitio, não resistíamos a dizer de forma que elas ouvissem: “- Ena pá! Que cheiro a peixe…”. Era certo e sabido que ouvíamos os insultos mais rebuscados que a mente humana ousa imaginar.
Era um tempo em que os mais novos de hoje dificilmente poderão imaginar. Tempo de fome e fartura. Era muito o peixe, mas não tinha preço no mercado. A solução era vender para o guano.
Tempo em que as famílias de Peniche viviam do mar e para o mar. Homens, mulheres e filhos. Poucos escapavam a este ciclo.
Hoje é difícil acreditar em tão poucas soluções de sobrevivência. E este cheiro que então era natural e fazia de Peniche uma cidade conhecida internacionalmente pelo seu mau odor, hoje, é incomodativo e invulgar.

Que este mau cheiro permita ao menos recordar o quanto se tornou diferente nestes últimos 40 ou 50 anos viver em Peniche.

terça-feira, setembro 10, 2013

ÁLVARO CUNHAL - FOTOBIOGRAFIA

Nunca fui à Festa do Avante. Já li e ouvi pessoas manifestamente insuspeitas tecerem loas à capacidade de organização, a manifestação de vontades e a qualidade da programação que lá se verifica. Mas sinceramente eu nunca me deu para lá ir.
Talvez por no subconsciente pensar que me iria submergir em tanto comunista. São muitos. Demais para o meu gosto. É claro que quando atravessei o meu período de militância poderia e deveria ter ido. Mas não calhou e agora é tarde para arrependimentos.

Vem tudo isto a propósito que este ano havia uma razão acrescida para lá ir se a tanto me sentisse predisposto. É que se encontrava lá à venda a Fotobiografia do Álvaro Cunhal das Edições Avante. E eu queria adquirir o livro na sua 1ª edição. Mas se a montanha não vai ao Maomé…
Telefonei a um amigo que teria condições para mo trazer se lá fosse e ele arranjou-mo através de outro amigo.
Queria o livro apesar das críticas negativas que já li, por apresentar uma visão demasiado unilateral da figura mítica do dirigente do PCP. Mas eu que também adquiri a obra do Pacheco Pereira sobre o personagem, não temi sofrer uma lavagem ao cérebro, até porque “burro velho não aprende línguas”.
Queria essa visão na minha Biblioteca. Quero que a minha filha receba como meu legado algumas obras que considero imprescindíveis para perceber este “ser” português do séc XX/XXI. E Álvaro Cunhal marcou uma época do pensamento político português que convém reter. Isto não significa de todo quaisquer amarras intelectuais ou ideológicas. Mas essa visão não seria completa sem uma leitura do Partido a que entregou toda a sua vida. Não me incomoda que tenham sido banidas desta Fotobiografia algumas figuras de dissidentes ou de opositores. Uns e outros foram melgas que ele afastou com um safanão e que deixaram de existir no momento seguinte. Álvaro Cunhal também era isto mesmo.

Erguia-se do alto da sua integridade muito pessoal para atingir o que considerava ser o melhor para o povo português e para as classes trabalhadoras que defendia intransigentemente. E a sua luta marcou milhares de portugueses. E marcou uma época em Portugal. Centenas pagaram caro essa luta que ele representou como ninguém. Cem cedências.
Com isto não estou a defender o político. Estou a tentar entender o homem. É que não é fácil um percurso de vida como o seu, tendo ele condições para se o desejasse ser um bem instalado burguês. Era senhor de uma inteligência invulgar e de uma capacidade de trabalho incomum. Um orador magnifico e um interlocutor com uma dialéctica ímpar.
O Partido, foi a sua companheira, o seu amigo, o seu objectivo de vida, a sua fidelidade.

Onde estão os homens como Cunhal nos tempos que correm? O que vemos é “putos” sem fibra, meninos cinzentões, oportunistas de 3º linha, de pensamentos tacanhos, com inteligências pardas, vidrados em pequeninos objectivos materiais, sem capacidade de liderança.
Álvaro Cunhal foi moldado em aço, esta “canalha” são a escória da sociedade portuguesa.
Este livro deveria ser obrigatório nas escolas para ensinar a moldar homens capazes de reerguerem Portugal.     

segunda-feira, setembro 09, 2013

JOSÉ DO CARMO FRANCISCO

Fui ao Google procurar informação sobre um antigo colega meu do IIL, o Álvaro Pato. E por isso fui encontrar o Blog de José do Carmo Francisco, "Transporte Sentimental", onde li um texto que me maravilhou por me sentir próximo de muitas das situações nele descritas. Trata-se de um texto sobre um livro de Carlos Pato, que morreu às mãos da PIDE em 1950. Vou transcrever esse post na íntegra porque o quero sentir colado para sempre aos meus próprios sentimentos:
 
Quarta-feira, 05.09.12

a propósito de «Alguns Contos»

Dissertação à volta de um prefácio de Alves Redol num livro de contos Carlos Pato ou o homem que trazia o futuro no coração «Qualquer maneira de começar é uma boa maneira de começar» - aprendi esta frase e esta ideia com o escritor Dinis Machado. Um pouco como aquele obscuro jogador brasileiro que dizia: «Não há golos feios, feio é não fazer golos». Dou início a esta abordagem do prefácio de Alves Redol ao livro de contos de Carlos Pato com um poema meu lido em Vila Franca de Xira numa homenagem ao malogrado escritor em 2010. Vamos ao poema: Fala de Carlos Pato a Alves Redol 60 anos depois Não morri. Sei que vai sair um pequeno livro com os meus três contos por si guardados. Em Vila Franca pouca gente sabe do assunto mas em breve esse livro de contos vai esgotar. Continuo nas histórias breves que escrevi e no seu pequeno prefácio onde me recorda. Sou o Bairro, sou a Charneca, sou a Lezíria e os sonhos dos meus dois filhos por sonhar. Não morri. Continuo no olhar dos meus filhos Clara bebé e João Carlos que não cheguei a ver. No olhar e nos sonhos por mim transmitidos entre o rio de Santa Sofia e o Largo do Serrado. Ainda hoje, tantos anos depois, sobeja azeite no aroma intenso que se espalha pelas ruas. Vem das várias carroças, das raras camionetas das ceiras onde as azeitonas foram prensadas. Não morri. Aprendeu comigo a ler e a escrever o chauffeur de praça que levou Clara a Peniche. Meu irmão Octávio tinha então visitas breves e a viagem era tão longa por estradas velhas. Não queria já receber o dinheiro esse rapaz mas Clara insistiu sempre pelo pagamento. Também lhe ensinei à noite a não misturar os seus deveres e as influências sentimentais. Não morri. No Bairro, na Charneca e na Lezíria vi mulheres que não tinham tempo para cantar. Os sonhos dos engraxadores na estação da CP. entram no meu conto breve do livro pequeno. Todos os outros protagonistas saem de manhã e vendem o seu trabalho no campo à semana. O vento pampeiro penetra veloz entre as telhas e sacode o sono leve dos ranchos dos gaibéus. Não morri. Nas ruas escuras da Bica do Chinelo corre ainda hoje um forte rumor de esperança. Passam cavaleiros a caminho das Cachoeiras e não há ainda as camionetas para a Arruda. Gerações sucessivas trabalham uma memória que há nos prelos das tipografias clandestinas. No nome dos meus filhos Clara e João Carlos se multiplica o inventário dos meus sonhos.» Como todos sabemos a vida é um mistério e não um negócio. Ainda bem. Se fosse um negócio os ricos compravam a saúde sempre à procura de não morrer. Existe algo de misterioso na minha ligação afectiva a uma família à porta da qual passei quatro vezes por dia durante cinco anos lectivos. Foi o esplendor do acaso. Nasci em Santa Catarina, na Estremadura, algures entre Alcobaça e Caldas da Rainha e estou ligado ao Rio Tejo desde 1957 quando fui viver para o Montijo. Depois em 1961 fui para Vila Franca de Xira onde estudei na Escola Comercial e Industrial tendo sido colega de turma do Álvaro Pato, sobrinho de Carlos Pato. Tendo nascido em 1951, eu era uma criança em 1961 mas a morte violenta de Carlos Pato às mãos sujas de sangue da PIDE dez anos antes, ainda estava muito fresca na memória das gentes do Largo do Serrado, da Bica do Chinelo, de Santa Sofia e do Bairro do Bom Retiro. Dito isto e para me manter na verdade, devo acrescentar que ao tempo (1961-1966) eu não tinha a consciência da importância da obra de Alves Redol. O mesmo é dizer da obra de Carlos Pato que, pura e simplesmente, desconhecia. Só há muito pouco tempo descobri o pequeno livro editado em 1974 com três contos e um prefácio de Alves Redol. Essa descoberta surge como motivo à vista para uma crónica no jornal «Gazeta das Caldas» de 22 de Fevereiro de 2008. Na rubrica ESTRADA DE MACADAME o título da crónica foi «A Clarinha vinha de Santa Sofia a sorrir» «No passado dia 16-12-2007 o jornalista Adelino Gomes assinou na revista «Pública» uma curiosa reportagem que descreve o encontro de cinco «jovens» alunos, quarenta e cinco anos depois de terem sido colegas de turma na Escola Comercial e Industrial de Vila Franca de Xira. São eles Vidaúl Froes Ferreira, José Carlos Pereira Lilaia, Álvaro Monteiro Rodrigues Pato, Arnaldo da Silva Ribeiro e este vosso humilde cronista. O primeiro fundou o MRPP, o segundo fundou o PRD, o terceiro só conheceu o pai (Octávio Pato) aos nove anos de idade, o quarto era o prometido poeta da turma e, por último, este vosso cronista, que tinha algum jeito para estas coisas e deu o seu melhor: chegou a director de um jornal de (parede…) que se chamava «Velas do Tejo». Tudo isto, embora não pareça, tem a ver com a Estrada de Macadame. Desde logo quando fui para o Montijo em 1957, a minha rua (Sacadura Cabral) também era de macadame. Depois, quando fui para Vila Franca de Xira em 1961, o Bairro do Bom Retiro não tinha asfalto nos pavimentos mas sim macadame. Era por essa estrada de macadame que passava a Clara Pato. Ela vinha de Santa Sofia para o Largo do Serrado onde vivia o seu avô João Floriano Baptista Pato e a sua avó Maria da Conceição Rodrigues. E o seu primo Álvaro Monteiro Rodrigues Pato, meu colega de turma. Por artes mágicas dos meus amigos Ana e Joaquim (o Mundo é mesmo pequeno…) acabei por reencontrar em Janeiro de 2008 a Clara Pato que obviamente se lembrava de passar pelo Bairro do Bom Retiro, vinda de Santa Sofia, a caminho da casa do seu avô em Vila Franca de Xira. Ao mesmo tempo surgiu nas livrarias o volume «A história da PIDE» de Irene Pimentel, uma edição conjunta das editoras «Círculo de Leitores» e «Temas e Debates». Na página 392 lá está a referência à morte do pai da Clara, Carlos Pato. Vejamos: «Em 4 de Junho de 1950 morreu o jovem assalariado agrícola Alfredo Lima, assassinado por guardas da GNR em Alpiarça, no decorrer de uma greve por aumento das jornas. No mesmo mês morreu às mãos da PIDE Carlos Pato, do PCP, irmão de Octávio Pato. Segundo uma carta aberta publicada no Diário de Lisboa de 24 de Agosto de 1974, dizia-se que, detido em 28 de Maio de 1949, Carlos tinha morrido, aos 29 anos, na cadeia de Caxias, em 26 de Junho de 1950, de «um ataque cardíaco segundo o médico da cadeia.» Por seu turno, a mãe de Carlos Pato contou que, na primeira vez que visitara o filho, este dissera-lhe que o tinham torturado muito. Soubera-se depois que tinha estado 130 horas de «estátua» com os sapatos «todos rebentados devido a ter ficado muito inchado por causa das torturas». Carlos Pato morreu «em Caxias, na sala 7 do rés-do-chão onde estavam mais 14 presos» um dos quais contou posteriormente à família que, apesar de muitos detidos terem pedido assistência médica, esta não havia sido fornecida a tempo.» A Clarinha tinha 8 meses quando prenderam o pai, o irmão João Carlos nasceu 5 meses depois de o pai ter sido preso ou seja depois de 28-5-1949. Carlos Pato veio a morrer em 26-6-1950. Além de todos os sonhos pessoais e colectivos em suspenso ele deixou um pequeno livro de contos nas mãos de Alves Redol que o editou em 26-6-1951. É de facto espantosa a ligeireza de muita gente que anda pelos cargos políticos (autárquicos e não só) de hoje que se atreve a comparar a ASAE com a PIDE. É uma gente que não sabe nada de nada mas tem os microfones à frente do nariz. Mas isso agora é assunto para outra crónica, daqui por quinze dias.» Mais tarde em 7 de Março de 2008 publiquei uma segunda crónica no mesmo jornal. O título foi «Carlos Pato, um desses homens que traz o futuro no coração» «Preso em 28 de Maio de 1949, Carlos Pato veio a morrer na cadeia de Caxias em 26 de Junho de 1950, deixando órfãos dois filhos pequeninos, Maria Clara e João Carlos. O menino nascido em 4-12-1949 nunca foi sequer visto pelo pai. Este é o fio da meada da crónica anterior, quando recordei a memória da Clarinha a passar na estrada de macadame do Bairro do Bom Retiro, entre Santa Sofia e o Largo do Serrado. Consegui a fotocópia do livro «Alguns Contos» de Carlos Pato editado em 1974. O prefácio de Alves Redol, escrito para a edição de 1951 e aqui reproduzido, refere-se ao malogrado escritor nestes termos: «Compreensivo e digno, amoroso e forte, aberto às melhores promessas dos nossos dias, sensível à dor alheia, rebelde para as injustiças e bom, sempre bom, com esse sorriso tão suave que era a imagem de ti próprio, que era o reflexo dum coração onde não cabia o ódio nem a cobardia». O livro contém apenas três contos como que a dar a ideia de que o autor, na sua brevíssima vida, ainda teve tempo de escrever uma história para cada uma das divisões do Ribatejo: Charneca, Lezíria e Bairro. O primeiro («Ao receber a jorna») tem como heroína Maria Alexandrina, trabalhadora rural que levas duas filhas para o campo: «A uma afagava-lhe o rosto e amamentava-a para lhe abafar o choro; à outra dava-lhe parte da sua ração.» Depois de uma semana de trabalho chega o dia de receber a jorna: «Uma cantou para que o tempo passasse; as outras ouviram, caladas.» A fala do patrão não engana sobre o sistema cultural falsamente cristão que regia a vida dos portugueses e onde não havia espaço para creches ou infantários: «olhem que lá no campo, ganham três mil e quinhentos e vocês, aqui no norte, quase ao pé de casa, alambazam-se com quatro mérreis.» O segundo conto («Valados») mostra que o campo não é só paisagem («Terra de campo, onde se desvanecem ilusões e se sepultam energias; o Tejo bom quando traz pão, mau quando o leva e não o dá») mas também lugar de luta: «Quando Riacho e os camaradas começaram a compreender a vida, uma união intrínseca os ligou para sempre. Foi assim que edificaram uma base com que lutam contra os homens e contra o Tejo traiçoeiro.» A falta de assistência médica é o drama em gente desta história. O terceiro conto («Graxas») fala de um grupo de miúdos que brinca no Tejo: «As roupas estavam escondidas e à guarda do Chico não viesse o Cabo do Mar e os surprezasse a tomar banho. Os corpos nus a galgarem para dentro da água como uma enfiada de rãs que de repente notasse gente.» Nesse grupo de engraxadores nem todos sonham com o campo; o Chico quer outro destino: «Quando for homem vou para a fábrica trabalhar com o meu pai. Hei-de usar fato de ganga e fumar superior.» Divididos entre o trabalho e o desporto, entre a Estação da CP e a aberta no Tejo onde nadam, eles são um elo na corrida de estafetas por um mundo melhor: «Têm uma mágoa profunda a residir no íntimo, como uma coisa enorme que faz parte dos seus órgãos – são os lamentos e as lutas dos seus parentes. Lamentos e lutas que se vieram depositar, juntos, nos corpos esguios dos graxas que trabalham e brincam no passeio da estação e na aberta do Lamas.» Também sonham e perguntam entre si («Quando virá o dia que a gente muda a vida?») para logo um deles responder: «Não vem longe, Chico!» Entre os apitos das fábricas e as palavras dos capatazes, o seu futuro vai ser rogar trabalho sem condições, até um dia. Estes três contos de 1949 são uma dolorosa descoberta hoje em 2008: Carlos Pato poderia ter sido um grande escritor. Há na tessitura dos seus contos a ampla respiração dum talento criador, um domínio perfeito da língua. A sua morte por enfarte depois de muitos dias de tortura é mais um crime da PIDE que, sem consciência, alguns pobres diabos da política hoje comparam à ASAE.» Do prefácio de Alves Redol que espero em boa-fé já estar disponível neste momento, numa edição mais cuidada do que a de 1974 que tenho apenas em fotocópia, quero apenas salientar as três citações de três grandes poetas portugueses do século XX. José Gomes Ferreira escreveu: «Volta-te e olha para a terra, / - a carne da tua sombra / de flores acesa./ Céu para quê? / O céu é para os que esperam / e tu morreste por uma certeza!» Carlos de Oliveira também escreveu: «Mais vivo porque sofreste / a morte não veio, foi-se. / A eternidade constrói-se / na beleza com que viveste». Sidónio Muralha escreveu por sua vez: «Largos versos irrompem do teu silêncio de granito / e tu vives inteiro em cada grito / tu que foste maior que todas as poesias». Uma vida breve e uma obra brevíssima mereceram esta concordância de um romancista e de três poetas portugueses. Afinal não é todos os dias que morre com 29 anos de idade um jovem escritor que traz o futuro no coração. E eu que passei quatro vezes por dia à porta da casa da sua família no Largo do Serrado em Vila Franca de Xira que hoje tem o nome de Largo Carlos Pato, apenas posso compor as peças do puzzle sentimental e deixar-me envolver pela emoção.
publicado por José do Carmo Francisco às 15:29
 
 

domingo, setembro 08, 2013

AH! AH! AH! AH!

Pedido de Emprego
Constitucionalista de faro apurado e de muito bom-senso, oferece-se para assessor de partidos políticos carentes e com amargos de boca.
Vencimento a combinar que pode ser substituído por atribuição de lugar elegível na próxima lista da candidatos à Assembleia da República.

sexta-feira, setembro 06, 2013

2 TEMAS ACTUAIS

Prémio Champalimaud
De 2 em 2 anos é atribuído a quem, pessoas ou instituições, se tenha distinguido no com bate à cegueira. É um lugar-comum dizer-se que é o prémio pecuniário mais elevado atribuído nesta área. O que eu quero destacar aqui é que um homem que foi um exemplo do capitalista combatido ferozmente pela classe trabalhadora, acaba ao morrer por criar um fundo pecuniário com tantos zeros que custa a enumera-los, para uma Fundação que se ocupe de questões de saúde que afectam em primeiro lugar os mais desfavorecidos. Ironias do destino.
Este ano foi premiada uma organização Nepalesa que se tem distinguido no combate à cegueira naquela zona do globo, com intervenções cirúrgicas às cataratas com parcos meios e a custos ínfimos. Um médico dessa instituição dizia na TV que enquanto uma operação às cataratas em Portugal custa valores da ordem dos 200 dólares, com os processos e meios utilizados por eles fica em 4 dólares, o que permite auxiliar milhares de pessoas carenciadas ali e em África que de outra forma estariam condenadas à cegueira total.
Que grande lição de vida nos legou o Sr. António Champalimaud. Ficamos sem perceber muito bem esta coisa da luta do trabalho contra o capital. Que se conste não existe nenhum legado da União Soviética marxista em favor dos mais desfavorecidos. E no entanto hoje sabemos das fortunas acumuladas na URSS por alguns que se diziam defensores das classes trabalhadoras. Nem tudo é preto. Nem tudo é branco. Existem zonas cinzentas às quais convirá estar atento e compreendê-las.

Autarcas para o futuro
O TC veio a dizer que o único limite para o desempenho de funções de presidente de câmara (e de junta) após 3 mandatos, são os limites territoriais. Isto significa que nada obsta a que no concelho de Peniche, Henrique Bertino possa ser candidato à novel freguesia de Peniche.
Aliás até era compreensível que o BE a impugnasse pelos fundamentos apresentados pelo candidato do PS a presidente de câmara. Agora tendo este partido apresentado situações semelhantes no país, este caso contra HB até parece uma atitude vingativa e pueril.
A queixa apresentada ao Tribunal de Peniche e a reclamação contra a sua decisão de não a deferir, vão para onde merecem, para o caixote do lixo da história autárquica deste concelho.

Nota: Sim. Eu sei que a decisão do TC é sobre candidaturas a presidentes de câmara. falta a decisão sobre candidaturas a JF. De todo seria surreal, que as razões invocadas para permitir umas, não viesse a permitir as outras. Era quase como "existem uns portugueses com maior legitimidade que outros". Continua a ser a candidatura a unidades territoriais diferentes que está em causa. Repare-se que não sou jurista. Sou só uma pessoa de bom-senso. Aliás, depois de ouvir o scretário-geral do PS sobre a decisão do TC, causa-me perplexidade que alguns socialistas (?) continuem a tentar impedir a manifestação de vontade democrática dos cidadãos. Mas é isso que pode fazer com que quem vota, no fim acabe por falar claro.

quarta-feira, setembro 04, 2013

EM PENICHE ENCERROU O MERCADO DE TRANSFERÊNCIAS

Não. Não estou a falar do GDP nem de futebol. Transferências e trânsfugas são o grande mote das listas autárquicas que se irão apresentar a sufrágio em Peniche no final de Setembro.
Não me recordo de tanta “viração” nos últimos anos no nosso concelho.
É verdade que elas se consubstanciam mais entre o PS e o PCP/CDU.
É verdade que existe uma tendência natural para as pessoas se aproximarem de quem detém o poder.
É verdade que cada vez mais, existem menos pessoas disponíveis para abraçar a “porca da política”.
Mas lá que causa perplexidade olhar para aquelas caras e ser capaz de perceber o que é que aquelas pessoas fazem ali. E isto tanto vale para os que mudaram de comboio, como os que agora se preparam para entrar na primeira das viagens do resto das suas vidas.

Com o PS nota-se que quem por lá passou, evita repetir trajectos que incomodam com companhias dolorosas. Também se nota alguma recuperação de figuras que pagaram as suas penas em Gulags de arrependimento. Resta saber o que o eleitorado que vota para além do símbolo de um partido, recolhe como benéfico para o futuro do concelho estes surrealismos de última hora.

Com o PCP/CDU a “coisa” pia mais fino. Em primeiro lugar não se mexe (?) em equipa que ganha. Resta saber até que ponto esta é uma atitude prudente, galvanizadora e vencedora. Onde parece que existe um historial político mais volátil, vai-se ao mercado de transferências e a troco de alguma atitude mais conciliatória e engrandecedora das capacidade adivinhadas individualmente, conseguem-se reforços surpreendentes. Serão os votantes da mesma opinião?

O PSD que não merece o meu respeito neste momento enquanto conciliar a sua existência com as figuras dantescas que transformaram Portugal no Inferno de Dante, recupera forças entre o passado e o presente. Entre os que têm dívidas de gratidão e os “jótinhas” habituais. Para os que sofrem na carne o despudor deste  PSD, não são definitivamente flor que se cheire mesmo que venham ungidos com a mirra das benzeduras.

CDS, BE e quejandos limitam-se a autojustificarem-se como se isso importasse alguma coisa.

Veremos os próximos capítulos desta novela de cordel.  

segunda-feira, setembro 02, 2013

O TRIBUNAL CONSTITUCIONAL E A MINHA IGNORÂNCIA

Aqui há muitos anos atrás, junto à casa onde então vivia na Praça Jacob R. Pereira, um “ilustre” cronista de “A Voz do Mar” que se caracterizava por criticar atitudes de outras pessoas, estacionou a sua viatura junto a um sinal de estacionamento proibido que ali se encontrava. Chamei-lhe a atenção para a incongruência de atitudes entre o que escrevia e o que fazia e a sua resposta foi lapidar: “- Eu não estou mal estacionado. O sinal é que está mal colocado.”
Assim é o 1º Ministro de Portugal. Não é ele e o seu governo que são uma “cambada de incompetentes”. A Constituição é que está errada. Não é ele e os seus acólitos que não sabem ler e interpretar a constituição. São os Juízes do Tribunal Constitucional que não têm bom senso.

Sou definitivamente estúpido e burro.

Quando o Presidente da República toma posse afirmou:
“Juro por minha honra desempenhar fielmente as funções em que fico investido e defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa.“

Quando os membros do Governo tomam posse subscrevem a proclamação que se segue:
"Afirmo solenemente por minha honra que cumprirei com lealdade as funções que me são confiadas." 

 Isto é. Os membros do Governo fazem restringir a sua actuação aos ditames que o PR defende.
Quando Portugal aderiu à CE e ractificou os sucessivos tratados já a nossa constituição estava em vigor e nunca nos foi imposto que a alterássemos.
Quando Portugal aderiu ao FMI já a nossa constituição estava em vigor e isso nunca foi motivo impeditivo.
Quando o actual PR e o actual Governo tomaram posse já a nossa Constituição estava em vigor.
Quando o Memorando da Troika foi subscrito pelos partidos que sustentam o Governo e o PR já a nossa constituição estava em vigor.

Os Juízes do TC limitam-se a ler e a interpretar o que lá está escrito e a determinar que o País tem de ser governado de acordo com a nossa Magna Carta.
O Sr. Passos Coelho e a sua “pandilha” se não estão de acordo devem demitir-se. Não sei se irá para o lugar deles alguém que faça melhor. Mas terá de ser pelo menos alguém que saiba ler, interpretar e escrever.

Se o Passos e este “grupelho” que o rodeia fossem alunos do 12º Ano, o Crato exigiria que reprovassem por falta de capacidade intelectual e cívica.