segunda-feira, março 30, 2015

FOGO-FÁTUO (ignis fatuus em latim)
«É um impressionante fenômeno que costuma ocorrer em cemitérios ou pântanos. De tempos em tempos, surgem misteriosas chamas azuladas, que aparecem por alguns segundos na superfície e logo depois somem sem deixar vestígios. Hoje, os cientistas sabem que esse fogo esquisito está ligado à decomposição dos corpos de seres vivos. Nesse processo, as bactérias que metabolizam a matéria orgânica produzem gases que entram em combustão espontânea em contato com o ar. "Ocorre uma pequena explosão e a chama azulada vem acompanhada de um estrondo que assusta quem está por perto", afirma o químico Luiz Henrique Ferreira, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). Com tudo isso, não é de se espantar que o fenômeno alimente lendas de fantasmas, assombrações e almas penadas. No Brasil, ele deu origem a um dos primeiros mitos indígenas de que se tem notícia: o boitatá, a enorme serpente de fogo que mata quem destrói as florestas.
O fogo-fátuo chegou a ser descrito, ainda em 1560, pelo jesuíta português José de Anchieta: "Junto do mar e dos rios, não se vê outra coisa senão o boitatá, o facho cintilante de fogo que rapidamente acomete os índios e mata-os."»
Assim é a realidade portuguesa. Um tremendo, imenso e assustador fogo-fátuo. Já ninguém acredita em algo mais para além do que é imediato. Mesmo que fugaz.
Vão (re)descobrir Herberto Hélder quando a sua postura de Homem já não afectar os invertebrados que tomaram conta deste país. Festejamos o que não deixa rasto. Glorificamos o que não deixa rasto.

Um dia destes uma televisão transmitiu uma reportagem sobre um programa de ocupação dos tempos livres para crianças no Oceanário. Uma menina feliz pelo que tinha visto dizia que tudo aquilo lhe fazia lembrar “A menina e o Mar”. Que lindeza tamanha. A Sophia deixou escapar uma lágrima no seu túmulo no Panteão por tantos anos depois ver a felicidade que conseguiu transmitir às crianças. E o seu sorriso ía na direcção da professora que tão bem soube ser a transmissora do seu legado.
Isto levou-me ao ódio que sinto pelo actual Ministro da Educação que ainda ousa existir. Como se sente um ser politicamente abjecto como este senhor, subsistir com o alarve sorriso que lhe emoldura o rosto tétrico?

Esperemos para bem dos filhos dos nossos filhos que não passe de um fogo fátuo. E que tão depressa a sua carne apodreça o seu rasto não passe de um momento fugaz.

sábado, março 28, 2015


CINQUENTA SOMBRAS DE GREY
em versão alentejana
Quatro alentejanos costumam ir pescar há muitos anos, sempre na mesma época, montando um acampamento para o efeito.

Este ano, a mulher do João bateu o pé e disse que ele não ia. Profundamente desapontado, telefonou aos companheiros e disse-lhes que, desta vez, não podia ir porque a mulher não deixava.

Dois dias depois, os outros chegaram ao local do acampamento e, muito surpreendidos, encontraram lá o João à espera deles e com a sua tenda já armada.

- Atão, João, comé que conseguisti convencer a tua patroa a deixar-te viri?

- Bêm, a minha mulheri tên estado a ler "As Cinquenta Sombras de Grey" e, ontem à nôte, depois de acabar a última página do livro, agarrô-me num braço e alevô-me a vêri o filme. Ósdespois arrastô-me para o quarto. Na cama, havia algemas e cordas!
Mandô-me algemá-la e amarrá-la à cama e opois disse: Agora, faz tudo o que quiseres...

E Ê ... VIM PESCARI !!!

 

sexta-feira, março 27, 2015

EM PENICHE… SÊ PENICHEIRO
O que é ser Penicheiro?

É gostar mais de Peniche que do partido em que militas ou com quem simpatizas

É olhar para a Fortaleza e sentir dentro de ti que: NUNCA MAIS!

É teres um comportamento cívico exemplar na tua terra, nas tuas atitudes como condutor e como peão.

É dares o teu contributo ainda que pequeno para causas transversais a todo o concelho, como por exemplo os Bombeiros.

É estares de coração aberto e de atitude franca para com serviços respeitáveis e nobres como o Hospital.

É seres critico no sentido nobre da palavra em relação à autarquia a que estás ligado e aos autarcas que pediram o teu voto.

É parares um pouco na tua pressa, para ver o mar e a beleza da Barragem de S. Domingos.

É disfrutares com a tua família num domingo de Primavera num piquenique no Pinhal da Câmara.

É sentires que te falta Peniche ao fim de uns dias em que dela te tiveste de afastar.

É visitares os teus antepassados e protegeres o são convívio dos teus descendentes transmitindo-lhes os saberes que ao longo da vida recolheste.

É gostares da tua rua.

terça-feira, março 24, 2015

MORREU HERBERTO HELDER (1930-2015)
O  poeta Herberto Helder morreu aos 84 anos na segunda-feira, em Cascais, onde vivia, avança o jornal Público. Não é ainda conhecida a causa da morte.
Nascido a 23 de novembro de 1930, no Funchal, Herberto Helder é considerado um dos maiores poetas portugueses. Viveu isolado, na sua casa de Cascais, não aparecendo em público e não se deixando fotografar. Chegou mesmo a recusar, em 1994, o Prémio Pessoa.
Sobre Herberto Helder que conheci pela mão e através do espirito brilhante do José Manuel dos Santos recordo sempre da história tenebrosa que comigo se passou em 1977 quando regressei da Guiné-Bissau. Dirigi-me à Bertrand para procurar o que havia do poeta à venda e quando fui ao balcão perguntar atendeu-me um jovem que se dirigiu ao PC para conhecer o stock. Quando o vi escrever o nome “Erberto Elder”, disse-lhe que o meu interesse estava desaparecido, saí e fui à Sá da Costa. Percebi que HH, o maior poeta da segunda metade do século XX estava ainda obscuro para muita gente.
Agora ao saber da sua morte fui procurar elementos para publicar aqui no blog. De muita coisa que encontrei vi um conjunto de textos no RIPLOV.com e considerei que para quem precisa de conhecer quem não conhece, nada melhor do que a seguir transcrevo com a devida vénia. Isto que irão ler (se quiserem dar-se ao trabalho) é uma lição para os escritores provincianos (poetas ou não) que por aí campeiam ufanos e inchados com a sua grandeza.
HH E O PRÉMIO PESSOA Rui Mendes (org)
Não digam a ninguém
António Alçada Batista

«Foi assim: ninguém tinha o telefone do Herberto Helder, eu só sabia o nome da rua porque tenho muita dificuldade em decorar números. Foi então que a Clara propôs irmos à procura do poeta na rua que eu tinha. Só havia dois prédios de habitação. Um deles era quase uma torre e tinha um painel de campainhas. A Clara tocou numa delas ao acaso. Daquela gradinha de rede veio uma voz. «Quem é?». A Clara perguntou se era da casa do poeta Herberto Helder. «Mas quem é?». Ela disse o meu nome. Então a porta abriu-se e nós subimos. A Olga estava à entrada da casa. Eu gosto muito da Olga, primeiro por ela e depois porque nos toma conta do Herberto. Digamos que ele faz parte do nosso Património e ela é a Conservadora. Eu disse-lhe baixinho - Olga, o Herberto ganhou o Prémio Pessoa, são sete mil contos. Como é que isto vai ser?
Ela fez-me uma cara de conformação e só com um gesto de cabeça fiquei a saber que ele não ia aceitar.
O Herberto estava na sala. Falou à Clara e depois a mim.
Eu disse, meio a brincar meio a sério: - Vimos numa díficil missão...
Ele, com toda a simplicidade dele, disse-me logo que não, calculando que era um prémio.
Não foi possível demovê-lo e sentimos que aquilo era tão fundo e tão importante para ele que não devíamos insistir. Ele disse:
- Voçês não digam a ninguém e dêem o prémio a outro...
- Não pode ser, o júri escolheu-te a ti, a decisão está tomada; respeitamos que digas que não...
Ele ainda acrescentou:
- Peço que vocês sejam meus mandatários e digam ao júri que eu agradeço mas não posso aceitar.
Eu queria transmitir bem que não havia aqui nenhuma arrogância: a sua recusa não era contra ninguém. Era uma decisão do seu eu mais íntimo, que logo nos mereceu o maior respeito. Eu só lhe disse: - Eu já gostava de ti e vi agora que é possível ainda gostar mais...
A Clara falou muito com ele porque ambos gostavam de se conhecer. Ela sabe fazer conversas inteligentes como se fossem banais. A certa altura viemos embora com alguma comoção por dentro e desabafámos no carro:
- Já ninguém faz isto...
- Todos ganhámos este prémio. Quando a regra é a procura de dinheiro, é bonito que um homem pobre dê exemplos assim.
Eu, confesso que passou pela cabeça de um bocadinho de mim que ele pudesse aceitar o prémio. Sempre eram sete mil contos. Talvez uma segurança até ao fim da vida. A verdade é que quase me apeteceu voltar atrás e pedir-lhe desculpa por este «mau pensamento». Mas eu era um homem feliz: o Herberto não nos deixou ficar mal...»
Louvor e simplificação de Herberto Helder
CLARA FERREIRA ALVES
«O dinheiro fazia-me jeito, estou a precisar de um helicóptero, diz o Herberto. Para as viagens ele utiliza - que seria de nós sem um cómico «cliché»? - as asas do poema. E no passeio em frente à casa do poeta, onde eu e o António medimos os passos em volta do poeta, é proibido aterrar. É não. Por razões pessoais e secretas, a pessoa recusa o Prémio Pessoa.
Há uma regra de senso nestas coisas da literatura. Nunca conhecer de perto quem se admira muito. Nos idos de 60, este senhor publicou Os Passos em Volta, que é uma prosa de diamante, clara e dura, eterna. E havia a poesia, ouro garimpado com esforço, separando as palavras da terra que as enlameia, da pedra que as confunde, da corrente que as arrasta. Quase ninguém tem paciência e braço para tal trabalho de homem, a tempo inteiro e mal remunerado. Como diz o António: «Tem um preço ser o Herberto Helder».
Sete mil contos não chegam.
A casa é pobre, de quem cuida mais dos versos do que de si mesmo. O monte de papéis, os livros à beira do abismo, os desenhos na parede, o costume. Os escritores ora são desabridos ora desarrumados. O que não são é desprendidos. O escritor respira a contemporaneidade e aspira à posterioridade, sabendo que para ter a segunda precisa da primeira.
Este senhor desprendeu-se. Os elogios caem-lhe das mãos, a notoriedade explode-lhe na cabeça. Enfim, «não quer dormir sobre o assunto? Este prémio não é um prémio literário, etcétera».
Ele quer falar de tudo menos de prémios. Ou de dinheiro. «Seria vil eu aceitar por causa do dinheiro». Diz as palavras como se estivesse a compô-las. Vil é uma palavra escolhida, serve para a ironia e a seriedade, embora o substantivo seja a especialidade do Herberto.
O António Alçada e eu demos mais uns passos em volta...Não? NÃO.
Partíramos de Seteais buscando um homem, como Diógenes, e tínhamo-lo encontrado. O António arrumou as emoções e, composto na frase: «Sabes que te digo? Ainda gosto mais de ti por causa disto».
Batemos para Sintra, por uma estrada sem mistério, ruminando o mistério das palavras dos que ainda as escrevem.
- in Expresso, 17 de Dezembro de 1994, página 10

Se eu quisesse, enlouquecia
Se eu quisesse, enlouquecia. Sei uma quantidade de histórias terríveis. Vi muita coisa, contaram-me casos extraordinários, eu próprio... Enfim, às vezes já não consigo arrumar tudo isso. Porque, sabe?, acorda-se às quatro da manhã num quarto vazio, acende-se um cigarro... Está a ver? A pequena luz do fósforo levanta de repente a massa das sombras, a camisa caída sobre a cadeira ganha um volume impossível, a nossa vida... compreende?... a nossa vida, a vida inteira, está ali como... como um acontecimento excessivo... Tem de se arrumar muito depressa. Há felizmente o estilo. Não calcula o que seja? Vejamos: o estilo é um modo subtil de transferir a confusão e violência da vida para o plano mental de uma unidade de significação. Faço-me entender? Não? Bem, não aguentamos a desordem estuporada da vida. E então pegamos nela, reduzimo-la a dois ou três tópicos que se equacionam. Depois, por meio de uma operação intelectual, dizemos que esses tópicos se encontram no tópico comum, suponhamos, do Amor ou da Morte. Percebe? Uma dessas abstracções que servem para tudo. O cigarro consome-se, não é?, a calma volta. Mas pode imaginar o que seja isto todas as noites, durante semanas ou meses ou anos?
in Os Passos em Volta - Estilo, Herberto Hélder
________________
«Herberto Helder nasceu no Funchal, ilha da Madeira, no dia 23 de Novembro de 1930. Frequentou a Faculdade de Letras de Coimbra, tendo trabalhado em Lisboa como jornalista, bibliotecário, tradutor e apresentador de programas de rádio. Começou desde cedo a escrever poesia, colaborando em várias publicações de que se destacam: Graal, Cadernos do Meio-Dia, Pirâmide, Poesia Experimental (1 e 2), Hidra e Nova. É um dos introdutores do movimento surrealista em Portugal nos anos cinquenta, de que mais tarde se viria a afastar. É o poeta mítico da modernidade portuguesa contemporânea, não só pela intensidade particular da sua obra (quer considerada em conjunto, quer na simples leitura de um único dos seus versos) mas também pelo seu estilo de vida discreto e avesso a todas as manifestações da instituição literária. Desde O Amor em Visita, 1958, até mais recentemente, em Do Mundo, 1994, passando por Electronicolírica, 1964, e por Última Ciência, 1988, a sua poesia atravessa várias correntes literárias, manifestando uma escrita muito singular e trabalhada, sendo exemplo de um conseguimento sem falhas, sem debilidades nem concessões. Na ficção, Os Passos em Volta, 1963 (contos), revela o mesmo tipo de elaboração linguística cuidada e encara a problemática da deambulação humana, em demanda ou em dispersão do seu sentido e da sua inteireza. Obras: Poesia – O Amor em Visita (1958), A Colher na Boca (1961), Poemacto (1961), Retrato em Movimento (1967), O Bebedor Nocturno (1968), Vocação Animal (1971), Cobra (1977), O Corpo o Luxo a Obra (1978), Photomaton & Vox (1979), Flash (1980), A Cabeça entre as Mãos (1982), As Magias (1987), Última Ciência (1988), Do Mundo, (1994), Poesia Toda (1º vol. de 1953 a 1966; 2º vol. de 1963 a 1971) (1973), Poesia Toda (1ª ed. em 1981), Ou o Poema Contínuo (2ª. ed., 2004) . Ficção – Os Passos em Volta (1963). »

segunda-feira, março 23, 2015

NEM TODOS SOMOS IGUAIS
Se perguntarmos à generalidade dos portugueses se considera que todos temos iguais direitos e deveres, tenho para mim que a resposta invariavelmente será não.
Eu por exemplo não tenho dúvidas que sou menos respeitado que o “sr. fulano de tal” só porque este cheira a dinheiro por todos os lados e eu cheiro a sobrevivência casual. O “sr. cicrano” merece vénias enquanto que eu levarei um “olá” circunstancial.
Isto para falar de aspectos de somenos importância. Porque se passarmos a aspectos substantivos ainda se tornam mais notórias as desigualdades.

Fotografias minhas não servem para nada em revistas do “jet set” enquanto que outros porque são de apelido “disto & daquilo” merecem ser referenciados.
Um funcionário das finanças de capote alentejano suscita um sorriso amarelo. Se for D. Duarte de Bragança é “chic”.
E podíamos arranjar mais de 1 milhão de possibilidades. Mas não resisto a citar mais uma: - O Licas é um marginal que não é bom saudar. O Ricardo Salgado merece apertos de mão do presidente da Comissão de inquérito e sorrisos benevolentes de quem o aguarda na Assembleia da República.

Não somos iguais em circunstância alguma. Mesmo que estejamos presos existem uns que são mais uns que outros.
Por isso não me insurjo contra a existência de grupos de VIP protegidos. Sempre existiram. O que a constituição diz não passa de uma figura de retórica. Aliás se alguém se preocupasse com a constituição há muito tempo que o actual governo e o presidente da república teriam sido despedidos.

O que está, está muito bem como está. Pelo menos não enganamos ninguém. 

 

sábado, março 21, 2015

ELAS TAMBÉM FAZEM HUMOR

Os homens são como as férias.
Não duram o suficiente.
  

Os homens são como as batatas.
Os novos só descascados e os velhos só a murro.

Os homens são como as bananas.
Quanto mais envelhecem mais moles ficam. 


Os homens são como o tempo.
Não podes fazer nada para mudá-los.

Os homens são como o café.
Os melhores são quentes, fortes e mantém-te acordada durante toda a noite.

Os homens são como o computador.
Difíceis de entender e constantemente sem memória.

Os homens são como a publicidade.
Jamais se pode acreditar numa palavra daquilo que eles dizem.

Os homens são como a conta no banco.
Sem dinheiro não geram interesse.

Os homens são como as pipocas.
Satisfazem, mas só um pouco.

Os homens são como um nevão.
Nunca sabes quando chega, quantos centímetros terá ou quanto tempo durará.

Os homens são como as fotocopiadoras.
Servem para a reprodução.

Os homens são como o estacionamento.
Todos os lugares bons estão ocupados, os outros são deficientes.

quarta-feira, março 18, 2015

REGRESSAR ÀS COLÓNIAS
Estes dias de paragem forçada têm-me permitido arrumar papéis e memórias. Entre outras situações regressei a 1961. Ao ano em que estudando em Lisboa com 17 anos me inscrevi num “Curso de Formação Ultramarina” promovido pela Mocidade Portuguesa e que decorreu no Palácio da Independência (sede nacional da MP na época), no Largo de S. Domingos em Lisboa.
O curso decorreu durante uns meses (julgo que 6) e no final tínhamos de apresentar um trabalho sobre um tema à nossa escolha. Já não me recordo o tema do meu trabalho mas recordo que fiquei classificado em 3º lugar e com isso recebi como prémio uma estadia por 1 mês em S. Tomé e Príncipe.
E em julho lá fui.
Fiquei instalado na Roça de Monte Café. Que era o centro das minhas deambulações na ilha de S. Tomé. Percorri a ilha de uma ponta a outra e fiz uma deslocação num barco de guerra à ilha do Príncipe e ao ilhéu das Rolas tendo neste último ido visitar o marco geodésico colocado por Gago Coutinho e que assinala o local por onde passa a linha do Equador. Estive com um pé no hemisfério Norte e outro no hemisfério sul, o que confere uma sensação de grandiosidade imensa a quem o experimenta.

Recordo longas horas a cavalo pelo interior da ilha a subida a pé ao Pico de S. Tomé com 2024 m de altura.
Recordo as longas horas de conversa com os capatazes de Roças e portugueses ali deslocados em empregos da Administração Pública.

Ali aprendi o que era a escravatura em pleno século XX, com naturais de Cabo Verde e Angola recrutados para trabalhar nas roças e que ficavam endividados até ao resto das suas vidas. A roça pagava-lhes a deslocação de barco para S. Tomé e eles ficavam a pagar com o fruto do seu trabalho. A roça dava-lhes alojamento que eles descontavam no salário. A Roça vendia-lhes as mercearias e eles descontavam nos salários. Quantos mais anos passavam mais se endividavam. Mandavam vir as mulheres e a roça pagava e eles descontavam. As filhas eram para usufruto dos patrões brancos ( e eu assisti a isto).

Aprendi a ler nas entrelinhas e vi mais ali do que durante 6 meses que durou o meu curso de formação ultramarina. O que ali aprendi ajudou a fazer de mim o homem que hoje sou. Devo a S. Tomé e Príncipe o ter percebido o que foi a colonização portuguesa e o que eram “os bons ofícios do colonialismo português”. Mais de uma dúzia de anos depois consolidei o que ali aprendi com o que encontrei na República da Guiné-Bissau onde estive 2 anos como professor cooperante.
Quem melhor explicou o que foi a vida de escravatura em S. Tomé e Príncipe foi Cesária Évora. Aqui deixo em jeito de homenagem aquela terra lindíssima esta canção fabulosa:

segunda-feira, março 16, 2015

PENSAR
Aí está uma coisa que dá trabalho. Que o frenético percorrer dos dias tornou numa atitude acessória. Dizia-se de um patrão: “Pago para trabalhares e não para pensares”.

As notícias multiplicam-se todos os dias. Letras garrafais anunciam nos jornais o tema do dia, tornando obsoleto o do dia anterior. Trata-se da importância de vender jornais e não de levar à criação dum grupo de leitores fiéis que façam das reportagens e das informações fonte de novos saberes e uma consciência critica activa.

No Jornal “i” do passado sábado dia 14, José Gil considerado um dos grandes pensadores europeus dos séculos XX/XXI, afirma que temos de regressar ao “pensar” em oposição a este adormecimento e apatia em que vivemos e torna possíveis todas as tropelias com que nos pretendem atingir.

De propósito nem me referi às TVs como fonte de obscurantismo. O que se passa na generalidade dos canais é verdadeiramente dramático. E nem me refiro aos programas obscenos com que alguns nos presenteiam. Falo de certos programas em que a coberto de um pretenso “serviço público” se promovem sentimentos de impunidade para com os nossos agressores.

Ler e pensar. Ouvir e pensar. Dizer e pensar.
O que nos permite atitudes diferentes das animalescas imagens com que somos brindados diariamente é o sermos capazes de formar um pensamento próprio e baseado nos valores universais dos Direitos Humanos e ambientais.
A repetição acelerada e diária de “homens” e “crianças” degolando e assassinando os seus semelhantes não é mais que a banalização deste horror fazendo com que percamos a raiva inicial por tais atitudes. Banaliza-se o horror para o tornar possível entre nós. E ele já aí está em passos pequeninos mas seguros.

E no entanto surgem nestes tempos Homens com um sentido profundo de humanidade. E são os que se curvam perante eles que o atraiçoam Imagem mil vezes repetidas do amigo beijando o que está a ser traído.

Penso logo Existo. Falo logo Penso.

sábado, março 14, 2015

Epitáfio
Este é o túmulo mais visitado em Utah-USA por causa do texto na lápide! 
Mr. Russell J. Larsen, de Logan, Utah, morreu sem saber que ganharia o túmulo mais visitado. 
Em sua lápide estão escritas cinco regras para o homem ter uma vida feliz...

Tradução:
 1. É importante ter uma mulher que ajude em casa, cozinhe bem, limpe a casa e tenha um trabalho;
 2. É importante ter uma mulher que te faça rir;
 3. É importante ter uma mulher em que possas confiar e não minta;
 4. É importante ter uma mulher que seja boa na cama e que goste de estar contigo;
 5. É muito importante que estas quatro Mulheres nunca se conheçam, caso contrário podes terminar morto como eu.





 

sexta-feira, março 13, 2015

A LISTA
Antigamente o rol. No rol apareciam as pessoas que deviam dinheiro. No tempo da Inquisição os suspeitos de não se devotarem e serem fiéis à Igreja de Roma também faziam parte do rol. Os livros, esses faziam parte do Índex que sobreviveu até aos dias de hoje e do que mais não é que o catálogo dos livros de leitura proibida pela Igreja Católica.

Por associação de ideias quando falamos de lista, rol, índex, estamos a conotar uma carga negativa. Faziam parte da lista no tempo do Estado Novo os comunistas e seus associados. No período negro do nazismo os judeus e homossexuais.

Quem faz parte hoje parte da lista? Os corruptos? Não. Só aqueles que não fazem parte do nosso grupo de interesses. Perguntem ao Deputado europeu Nuno Melo porque se assanhou tanto contra Victor Constâncio e não se lhe ouve uma palavra em relação a Carlos Costa.
Do rol fazem parte os criminosos? Nem todos…nem todos.
Faz parte então quem? Em primeiro lugar os que se opõem ao poder económico-político estabelecido.

Mas hoje com o refinamento, existem vários tipos de listas. A dos opositores e a dos nossos amigos. Os que estão sujeitos às escutas e à observação sistemática das suas contas bancárias e fiscais e os outros. Aqueles em que olhar para os seus interesses é motivo de processo disciplinar.
A um nível mais restrito e “piquenino” também existem listas. As das pessoas que contribuem para a perpectuação no poder de certos autarcas e aqueles a quem está vedado qualquer tipo de “boa-vontade” política ou social.

Hoje são os cinzentões, os “cortiças” quem vai escapando. Qualquer manifestação de personalidade, de “coluna vertebral” põe em risco quem o sustente.  

quarta-feira, março 11, 2015


O FREI TOMAZ
O tal frade do faz o que ele diz, mas não o que faz. Para todos os que pagam e se não pagam ficam se preciso for sem o leite das mamas da mulher que é confiscado, dificilmente se torna compreensível a insensibilidade de um primeiro-ministro perante os seus compromissos sociais e fiscais.

Mais incompreensível se torna que deputados que passam os dias a legislar contra os que mais sofrem, desculpabilizem tal atitude. A arrogância do poder não é apanágio de ninguém em particular. É de todos os que o atingem em geral. Salvo excepções muito excepcionais. Mas que digo eu que não tenha sido já repetido à saciedade?
E tem servido para alguma coisa? A gente abre os televisores e vê estes “malandros” que desviaram por caminhos ínvios milhares de milhões de euros e ou não sabem o que fizeram, ou não se lembram, ou foram outros que não eles, enquanto existem pessoas que por roubarem um pacote de manteiga num supermercado são condenados a penas de prisão e outros vão penhorando os bens que servem para dar de comer aos mais pobres de entre os pobres.

Que merda de país este.

 

segunda-feira, março 09, 2015

PORTAS, PASSOS E CAVACO…

É TUDO FRUTA DO MESMO SACO.

sábado, março 07, 2015

DE ONDE VÊM OS BEBÉS RUIVOS?
Depois do bebé nascer, o pai, aflito, foi falar com o obstetra.
 
"- Senhor doutor, estou muito preocupado porque a minha filha nasceu com cabelos ruivos. Não pode ser minha!"
 
"- Que disparate!" disse o médico. "- Mesmo que tu a tua mulher ambos tiverem cabelo preto, podem ter cabelos ruivos nos genes da vossa família."
 
"- Não é possível!" insistiu o pai. "- Ambas as nossas famílias têm tido cabelos pretos há muitas gerações."
 
"- Bem," disse o médico "- Tenho de perguntar... Com que frequência tu e a tua mulher praticam sexo?"
 
O homem, envergonhado, respondeu:
"- Este ano tenho andado cansado de trabalhar muito. Só fizemos amor uma ou duas vezes nos últimos meses."
 

"- Então aí está!" disse o médico confiante.

"- É ferrugem!"

sexta-feira, março 06, 2015

O QUE SOU E O QUE NÃO SOU
Fui estudante até 11 de Setembro de 1966. No dia 12 desse mês apresentei-me em Mafra para prestar o serviço militar onde permaneci até 10 de Dezembro de 1969.
Em 7 de Janeiro de 1970 iniciei a minha actividade como professor na Escola Secundária, função que só abandonei em 1 de Junho de 2004 quando me reformei. Neste período só não exerci actividades lectivas uma vez pelo período de 1 ano quando me extirparam um cancro no pulmão e de uma outra vez por um período de 2 anos e meio quando exerci as funções de vereador em regime de permanência na Câmara Municipal de Peniche.
Os lugares que ocupei na minha carreira profissional foram-no sempre por concurso público interno ou externo ou por mérito.
Paralelamente desenvolvi actividades associativas em diferentes colectividades. Escrevi para jornais. Fui declamador e actor de Teatro amador. Fui praticante da Igreja Católica. Tornei-me agnóstico.  Filiei-me em partidos políticos. Editei eu próprio jornais. Escrevi um livro. Casei 2 vezes. Tive 2 filhos. Participei em campanhas eleitorais por mais de um partido político.
De mim posso dizer que fui um professor com uma actividade cívica muito intensa. A vida política foi sempre uma paixão para mim.
Assim me caracterizo.

Nunca fui funcionário partidário. Sempre tive empregos não ligados à politica. Só recebi da politica remunerações por um período limitado de tempo em que suspendi as funções no meu emprego permanente.
Não sou um profissional da política.
Sou um cidadão empenhado na vida do seu país e da comunidade onde vive. Não sou um profissional da política. Sou um profissional que se interessa pela politica.

quinta-feira, março 05, 2015

MUSEU DAS RENDAS DE BILROS
Resposta do Vice-Presidente da Câmara Municipal de Peniche  ao Blog aqui publicado em 3 de Março pp

 Vice-Presidente - C. M. Peniche (vice.presidente@cm-peniche.pt)

 Boa tarde,
Segue em anexo, texto de direito de resposta.
Abraço
Jorge Amador
Vice Presidente da Câmara Municipal de Peniche

 Estimado Zé Maria
Em primeiro lugar espero e desejo as tuas rápidas melhoras e o regresso às atividades normais de um cidadão aposentado.

O texto não tem nada de ingénuo. O texto pretende colocar em causa coisas tao importantes como a aquisição do edifício da antiga casa do António Bento, a obra de reabilitação, os conteúdos e equipa que está a produzir os conteúdos do Museu de Rendas de Bilros de Peniche.

Vamos a factos:

O Executivo Municipal de Peniche, liderado desde janeiro de 2006 pela CDU, adquiriu a última parcela (rés-do-chão) do chamado edifício “António Bento” e o edifício contíguo (n.os 7 e 9 da Rua Nossa Senhora da Conceição) por 120 000,00 euros. Obteve financiamento comunitário no valor de 102 000,00 euros (85%) para a sua aquisição. Nesta matéria, não há qualquer dúvida. 

As outras parcelas do edifico já eram propriedade municipal, aquisição feita pelos executivos anteriores.

 A existir qualquer irregularidade, que desconheço, é dever de qualquer cidadão, com responsabilidade acrescida por ter sido Vereador de um Executivo Municipal, pelo PS, como foi o Professor José Maria Anjos Costa, enviar toda a informação disponível para o Ministério Público.  

A (importante) obra em curso, com um custo de 422 069,92 euros, foi adjudicada à empresa Arada, Construções Lda, através de concurso publico. Prevê-se que a CMP obtenha um financiamento comunitário de 358 759,43 euros (85%).

Uma vez que a candidatura inclui ainda outras componentes como a elaboração de projetos de arquitetura e especialidades (aquisição do edifício, elaboração de projetos e execução da empreitada) o custo total de será de 623 676,46 euros, cabendo à autarquia suportar apenas 15% desse montante, ou seja, 93 551,47 euros.

Sobre o Museu em construção, ele está a ser preparado por diversos técnicos da área da museologia da autarquia – Dr. Rui Venâncio, Drª Raquel Janeirinho e Drª Marisa Ferreira, e pela equipa constituída pelo signatário, Prof Raúl Santos, Joaquim Meireles e D. Ida Guilherme, sempre com o objetivo de valorizar a Arte de Saber a Renda de Bilros de Peniche.

O projeto em curso pretende apostar na valorização desta Arte, enquanto elemento de reforço da matriz identitária da comunidade, setor de diferenciação territorial e promotor de desenvolvimento económico e social sustentado, numa perspetiva de qualificação da oferta turística e promoção da especialização profissional.     

Sobre a aposta prioritária do Executivo Municipal dirigido pela CDU, ela é feita tendo por base o voto largamente maioritário do povo do concelho de Peniche, na promoção e valorização da Renda de Bilros que tem merecido valorização de todas as forças vivas de Peniche.

Sobre a questão referida no seu post, a propósito do trabalho da Dr.ª Ana Batalha, apenas duas notas: a primeira para dizer que ninguém colocou em causa esse trabalho; a segunda é para lhe realçar que esse trabalho deveria ter merecido (este seu tardio) reconhecimento, o acompanhamento e apoio necessários quando o Professor José Maria Anjos Costa fazia parte do Executivo Municipal

Para finalizar e sobre a sua pergunta final “Porque é que certos políticos e partidos são tão exigentes com os outros e tão pouco exigentes consigo próprios?”, posso dizer mais duas coisas: a primeira é que deverá ter outro alvo, porque como poderá verificar o Edifício “António Bento”, sendo municipal, tudo temos feito para o reabilitar e rendibilizar. A segunda, em forma de duas questões: como é que há políticos que falam dos outros como se nunca o tivessem sido? Como é que se insinuam coisas, sem provar nada, nem apresentar elementos que sustentem essas insinuações?

 Nota do autor do Blog: Ao que são as opiniões do “camarada” Jorge Amador não acrescentarei nada. Está tudo dito.

Só uma correcção: - O estudo a que me refiro da Drª Ana Batalha só foi concluído e apresentado na CMP posteriormente à minha demissão do cargo de vereador.

 

quarta-feira, março 04, 2015

CORRECÇÃO A NOTÍCIAS DE “A VOZ DO MAR”
A propósito da atribuição do Grau de Comendador a João Augusto Barradas pelo exercício de 3 mandatos consecutivos como Presidente do Município de Peniche cometem-se no último número daquele jornal, 2 incorrecções importantes para uma leitura futura do que foi o final do século XX em Peniche e que de todo não deverão ficar em claro.

A 1ª é a de que em Peniche existem não 2 mas 3 comendadores, sendo que aquele a quem foi atribuído em primeiro lugar esse título honorífico pelo General Ramalho Eanes (então Presidente da República) foi Carlos José Canha Monteiro (vulgo Calon).
A 2ª correcção (ou falta de explicitação clara) é a de que é no mandato de João Augusto que é lançado o projecto de construção ( e é edificada) a Escola EB-2.3 de Atouguia da Baleia, uma iniciativa do Afonso Clara, do Rogério Cação e dele próprio João Augusto. É a atribuição de terrenos para a Escola no local onde o foi, com o plano de Urbanização da zona, que criou o maior fluxo migratório dentro do Concelho de Peniche, criando na Vila da Atouguia da Baleia um pólo de desenvolvimento como não houve outro semelhante nos últimos 30 anos.

Estes 2 dados são importantes, para quem pretende pensar Peniche e ser justo com o que nos trouxe hoje aqui.  

terça-feira, março 03, 2015

O MUSEU DE RENDAS DE PENICHE
Sempre que regresso do Hospital para casa e passo junto à antiga casa do António Bento, perpassam em mim 2 sentimentos. O da dúvida e o da angústia.
A dúvida pela compra daquele edifício pela Câmara Municipal. As circunstâncias em que se efectuou. Quando, porquê, onde, como e quanto. Quem interveio nessa compra e em que circunstâncias. Terá sido transparente todo este processo?

Falemos agora do Museu. Que Museu? Que características? Quem foram os técnicos responsáveis pela sua estrutura funcional para Museu de Rendas. Sendo um Museu de rendas é um Museu de “velhas” diga o que disser o vereador responsável e tenha ele gasto o dinheiro que gastou para lhe dar outra visibilidade. Sabemos que existe um trabalho excelentemente produzido pela Drª Ana Batalha para a criação de um Museu de Rendas. O que foi aproveitado desse estudo? Tão caro ou mais do que os custos da recuperação do edifício será a sua preparação para ser utilizado como Museu. Mas sobre tudo isto ergue-se um muro de silêncio.

Porque é que certos políticos e partidos são tão exigentes com os outros e tão pouco exigentes consigo próprios?