NO MEU
TEMPO
Quando
comecei a trabalhar no ensino não haviam férias pagas. O ano lectivo começava a
1 de Outubro e os que tínhamos sorte (?) terminavam o contrato anual a 10 de
Agosto no limite máximo. Se tínhamos muita sorte o inicio da nossa actividade
como professores era a partir de 10 de Outubro. A nossa colocação (refiro-me
aos professores provisórios) dependia da boa vontade dos directores das
escolas. Para os que éramos colocados pelos directores estavama reservados os horários
menos convidativos. Recordo que no 2º ano em que trabalhei (na Escola Técnica
de Alcobaça) leccionava aulas ao sábado até às 23 horas ao curso noturno e
depois na 2ª Feira pelas 08 da manhã.
As coisas
foram decorrendo assim até ao 25 de Abril. Em 1976 e para criar alguma
estabilidade fui como cooperante para a Guiné-Bissau onde fiquei 2 anos até
ingressar no estágio para professores em Coimbra. Concluído o estágio ainda
tive que estar mais um ano como professor agregado até poder ingressar no
quadro.
Resta dizer
que para além da Guiné (como opção própria) percorri meio país. Em vez de me
sentir revoltado aprendi a aprender. Tipos de cultura, formas sociais de vida,
exigências pedagógicas. Procedimentos didácticos. Penso que algumas das coisas
pelas quais passei não deverão passar ouros. Mas nunca desconheci que ao optar
por trabalhar no Ensino existiam situações pelas quais corria o risco de
ocorrerem comigo. E que não desejo para ninguém, mas não deixam de ser uma
lição de vida. A dificuldade em chegar ao Estágio pedagógico que hoje os jovens
não sabem o que é. A dificuldade em ingressar no quadro. A dificuldade em poder
leccionar nas primeiras opções que fazíamos de escolas no concurso. Eu por
exemplo depois de 1979 nunca mais consegui trabalhar na terra que me viu
nascer. O melhor que consegui foi nos meus últimos 4 anos ingressar no quadro
da Atouguia da Baleia. E portanto depender de transportes. Mas eu sabia que era
o risco da minha profissão.
Quando vejo
hoje a “lamechice” dos professores mudo de canal. Quando vejo alguém que não
sabe o que é trabalhar numa escola a falar em nome dos professores, fujo como o
diabo da cruz.
E não vejo os média preocuparem-se com quem tira licenciaturas na área da Gestão, ou do Direito, ou das Engenharias e não tem emprego. Porque raio de razão terão de ser os professores os únicos que despertam tanta misericórdia dos meios de comunicação social?
E não vejo os média preocuparem-se com quem tira licenciaturas na área da Gestão, ou do Direito, ou das Engenharias e não tem emprego. Porque raio de razão terão de ser os professores os únicos que despertam tanta misericórdia dos meios de comunicação social?
E não vejo
preocuparem-se com o que estão a fazer no ensino os maus professores. Recordo
uma professora de Inglês que dizia odiar os miúdos. E isto é só um exemplo
entre os muitos a que assisti ao longo de 44 anos de actividade docente.
Haja deus.
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