VIAGEM NO
TEMPO
(A UM TEMPO
EM QUE NÃO HAVIA INTERNET NEM TELEMÓVEIS)
Em 1961 fui
estudar para Lisboa. Já lá estava há 4 anos o meu irmão. Porque tinha ocorrido
uma má experiência com a ida do meu irmão para o Técnico o meu pai decidiu não
interferir em nada na minha ida para lá. Onde ia ficar, onde comia, como lavava
a roupa e como me deslocava para a Escola teria de ser a minha descoberta.
Acresce para que percebam as dificuldades que encontrei que só tinha ido uma
vez a Lisboa com o meu pai e a minha mãe. Quando disse ao meu pai que nem
sequer sabia como me havia de movimentar para ir à Escola fazer a matrícula e
procurar quarto, o meu pai só me disse que perguntasse aos polícias.
E assim
foi. De polícia em polícia lá cheguei à escola e consegui arranjar um quarto.
Cheguei a Peniche como se fosse um vencedor.
Foi então
que o meu pai me disse qual era a condição dele para eu lá estar. Teria de
passar de ano. Quando chumbasse acabavam os estudos em Lisboa. Deu-me ainda um
conselho, para eu ter um grande controlo sobre o dinheiro que gastava. Ele
dava-me dinheiro para o mês e eu teria de pagar tudo o que gastasse desse
dinheiro. Faz contabilidade disse-me o meu pai.
Então
decidi escrever todo o dinheiro que gastasse, e no fim do mês enviar-lhe a
conta corrente das minhas despesas.
Depois do
meu pai morrer ao ver as coisas que estavam na secretária dele fui encontrar a
minha correspondência para ele desde que saí de casa e entre essas cartas fui
encontrar as minhas despesas dos meus primeiros 2 anos de Lisboa. Escolhi
aleatoriamente umas quantas para vos mostrar. Isto parece ridículo nos dias de
hoje. Pelos valores envolvidos. Pelas despesas efectuadas. Pelo seu relato. Mas
são coisas que me ajudaram a crescer como pessoa e me permitiram nunca perder
de vista a minha relação com os meus pais e quanto lhes devia. Hoje tudo isto
parecerá absurdo. Mas será?
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