TRANSCRIÇÃO DE ARTIGO
DE OPINIÃO
No espaço NET do “EXPRESSO” leio coisas interessantes que
muitas vezes lamento que mais pessoas não leiam. Um desses casos foi com o artigo
referido em baixo. Dei por mim a pensar, quem eram, onde estavam e para onde
foram os Presidentes de Câmara que Peniche teve após o 25 de Abril. Não estou a
fazer juízos de valor. Estou a pensar e mais nada. Leiam o que se segue e
pensem no que está escrito. Sem ódios nem anátemas politico-partidários.
«Sobre
a ‘fuga’ de Adolfo Mesquita Nunes
Henrique Monteiro
Li muitos textos acerca do
até há pouco vice-presidente do CDS e sobre a sua opção de deixar o cargo de
liderança no CDS para ocupar um lugar de administrador não executivo na GALP
(onde ganhará não mais do que 42 mil euros anuais, ou seja, cerca de 1800
líquidos mensais, a 14 meses). Muitos acham mal que deserte para uma empresa.
Outros, totalmente primários, acusam-no de se vender ao chamado grande capital.
Associo-me aos que lamentam
a perda a tempo quase inteiro de um homem inteligente e culto na política. Mas
gostava, não em defesa específica de Adolfo Mesquita Nunes, nem por ataque a
ninguém em especial, de sublinhar algo que me parece óbvio. O jogo político português
não só não retém os melhores como, pelo contrário, os despeja. A política
portuguesa tornou-se infrequentável.
Recordo que muita gente boa
a deixou e passou para atividades radicalmente diferentes. Desde logo,
lembro-me de António Vitorino, uma mente brilhante. Mas recordo igualmente
homens de ação com provas dadas, como Jorge Coelho ou Fernando Nogueira.
Excelentes gestores, como Pires de Lima, Eduardo Catroga, Murteira Nabo,
pessoas que pareciam talhadas para qualquer cargo político, como Jaime Gama,
Luís Amado, Paulo Portas ou Lobo Xavier. De um modo ou de outro, com mais ou
menos tempo passado nas causas públicas, partiram para outros projetos. Alinhei
estes nomes sem esforço de memória, uma pequena pesquisa poderia devolver-me
outros tantos e mais umas centenas.
Quem fica? Os profissionais
da chicana, no geral pessoas a evitar. Os que não sabem mesmo fazer mais nada,
por entre um punhado de gente dedicada que ainda resta para se sacrificar pelo
país, e outro que espera a oportunidade recompensadora de se ir embora. O
próprio Mesquita Nunes andava à volta da política (de assessor de Pedro Feist,
vereador do CDS em Lisboa, com 25 anos, a secretário de Estado do Turismo no
governo anterior). Mais uns tempos e era o perfeito burocrata, obrigado a curvar-se
aos líderes, cheio dos trejeitos que dobram a cerviz.
Fugiu a tempo. Eu, que nem
o conheço assim tão bem, dou-lhe os meus parabéns por o ter feito. Sempre fica
mais um que, como quase todos os que referi atrás, falará com relativa
liberdade, concorde-se ou não com ele.
E a todos os que criticam
agora a opção de Mesquita Nunes, olhem para o que vai ficando na política.
Continuem a apoiar demagogias sobre políticos, a acusá-los de ganhar muito,
oponham-se a rever seriamente as formas de recompensa dos cargos, que é muito
mais do que dinheiro; aplaudam os impropérios e insultos que sobre cada um cai;
não distingam os sérios dos videirinhos e digam que são todos iguais.
Ou seja, continue-se o
caminho, esta dança macabra. Quando damos por isso, temos líderes que não sabem
se a Coreia do Norte é uma democracia, porque não sabem o que é uma democracia;
aqueles que sempre apoiaram Maduro e as esquerdalhadas folclóricas, enquanto
insultam tudo e todos com uma superioridade moral que só eles próprios
reconhecem; grupos de tristes inchados e impantes porque são dirigentes de um
partido mais à direita (mas que não se assume como direita) contentes com a
ideia de que estão a fazer uma oposição que ninguém nota; e no centro da vida
política, a família alargada que ocupa o Governo. Eis tudo o que nos resta.»
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