24 DE ABRIL DE 2018
Nos idos de
1974, vão lá pois 44 anos, um grupo de militares do Exército, Marinha e Força
Aérea decidiu sublevar-se contra um regime caduco e a cair de podre onde eles
não vislumbravam qualquer saída para os seus desejos de progressos pessoais e
profissionais. Nesse tempo impossível de reproduzir agora de forma credível ou
pensável nos tempos das redes sociais e
dos telemóveis nada existia de forma a satisfazer minimamente os mais simples
dos sonhos. Eu penso mesmo que era um tempo em que muito poucos sonhavam.
Estou a
descrever um tempo absurdo e inimaginável para todos os que têm menos de 35
anos, e que mesmo aos mais velhos vai passando da sua memória tão pronta em
omitir tudo aquilo que lhes desagrada.
Era um
tempo em que não existiam Centros de Saúde e Hospitais abertos a todos os que
deles necessitassem. Era um tempo em que mais de 1/4 da população andava
descalça. Era um tempo em só os filhos da classe média ou dos ricos
frequentavam a escola. Não havia escolaridade obrigatória. Mais de 60% da população era analfabeta. Era um tempo em que os
mais pobres viviam em bairros de lata. Era um tempo em que só os funcionários
públicos tinham reformas dignas desse nome. Não existiam subsídios de desemprego.
Havia a sopa dos pobres. E pedia-se esmola à porta dos ricos. Existiam em
Peniche cerca de 300 telefones. Poucas casas tinham casa de banho. E muito
poucas tinham água corrente e esgotos. Carros tinham os
compradores/distribuidores de peixe e legumes. Automóveis só uns quantos ricos
nos quais se incluam os armadores e mestres. Não existiam centro comerciais nem
lojas de eletrodomésticos. As ruas eram de pedra e os caminhos de terra batida.
Portugal
era um dos países do mundo de maior mortalidade infantil. Foi uma parteira que
ajudou a minha mãe para eu nascer e assim era com praticamente todos os partos que
ocorriam no concelho de Peniche.
Não
existiam bares, existiam tabernas que eram locais onde se jogava à bisca e se
bebiam copos de vinho tinto ou branco.
Não havia
computadores e os alunos que iam à escola e tinham dificuldades na matéria
era-lhes aplicada a lei da palmatória, que era uma régua de madeira que servia
para bater nas mãos e na cabeça dos alunos menos atentos e menos estudiosos.
Não haviam mais que 2 pastelarias em Peniche e cafés também seriam meia dúzia
deles.
Hoje
existem pessoas que se interrogam sobre para que serviu o 25 de Abril de 1974.
Se existem pessoas (algumas com mais de 45 anos) que se interrogam sobre isso então
é porque não serviu para nada ou são essas pessoas que há muito deixaram de existir.
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