DA MORTE
MORRIDA MATADA DO CICARP
O CICARP
era um anacronismo. Não podia existir. Falar de Direitos da Mulher, Racismo ou
Xenofobia em 1969, não era só um disparate, era um suicídio. Co-existir fazendo
pensar, numa colectividade dirigida e orientada por personalidades locais da
UN/ANP só em circunstâncias muito peculiares com a liderança de jovens impetuosos
e meio loucos.
Ao fim de 3
anos de actividade tinha que correr mal. Assim é que recebe a Direcção do
cineclube a missiva que se segue:
Reconhecem-se
as assinaturas de José Fernandes Bento
(Presidente da Comissão Concelhia da UN/ANP), João Marques Petinga Avelar (membro da mesma concelhia), Gilberto Rosa Serafim, José Manuel Costa, Carlos Sá.
Ao que a
Comissão Directiva do CICARP respondeu nos termos seguintes:
Replica a
Direcção da ARP:
Como
consequência deste diferendo decide a Comissão Directiva do CICARP convocar uma
Assembleia de Associadas para que estes possam decidir sobre o rumo a tomar:
Na sequência
destes acontecimentos a Direcção da ARP eleita para o ano de 1970 decide
formalizar uma série de itens que pretendem condicionar a actuação das secções
da Colectividade, colocando-as na dependência directa das suas orientações:
Tendo
atingido os seus intentos a Direcção da AEFCRP, vem atirar aos associados do
CICARP a última pedrada, na certeza se que estes já não conseguiriam escapar da
tirania imposta:
Claro que
não poderiam os membros activos do CICARP tornarem-se marionetas nas mãos de
manipuladores mentais obscurantistas e servidores de uma vida sem livre
pensamento. Também o CICARP com as suas actividades já tinha ultrapassado os
limites da ilha de Peniche. Na sequência da extinção deste cineclube na sua
forma original, isto tornou-se notícia nacional dando origem a um impacto que
os seres pequeninos e doentes que formavam a Direcção da ARP nunca teriam
imaginado ser possível. No jornal local e em jornais nacionais surgem notícias
sobre a extinção do CICARP, algumas das quais aqui são deixadas. É bom não esquecer de que existia a Censura pelo que os textos escritos nomeadamente no jornal local teriam de aparecer envoltos em parábolas que escapassem ao lápis azul.
Existem ainda alguns documentos com alguma relevância acerca da extinção do CICARP mas que não se transcrevem por envolverem aspectos muito peculiares das tomadas de posição dos seus autores, não sendo no entanto determinantes para a análise deste processo.
Com estas publicações encerra-se uma análise de um tempo importante para a Vila de Peniche.
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