REPENSAR
ABRIL
Falar de 45
anos pós o 25 de Abril e do que então se viveu, cada vez nos afasta mais de
toda uma massa de jovens dos 15 aos 30 anos. Por estes dias morreu uma menina
algarvia de 16 anos na Roménia quando regressava de uma viagem de estudo. Isto
era impensável para as pessoas que viveram a sua juventude antes de 1974. Tão
impensável para nós ontem, como para eles hoje um tempo sem NET, sem telemóvel,
sem liberdade de movimentos ou de expressão.
Como pois
chegar ao coração e à mente destes jovens falando-lhes de coisas como “Fascismo
nunca mais” ou “25 de Abril, sempre!”?
Penso que
existem no entanto algumas coisas imutáveis. Tão actuais hoje como ontem.
Liberdade, Igualdade e Fraternidade, continuam a ser expressões com sentido.
Democracia e Paz continuam a ser conceitos alcançáveis.
Com toda a
franqueza, eu próprio sinto como um anacronismo expressões conotadas com
fascismos e quejandos. O que recordo é o sentido de Fraternidade que uniu as
pessoas logo a seguir ao derrube do regime do Estado Novo. Vejo a invasão das
ruas em Liberdade e vejo pela primeira vez assumir o direito a participarem na
vida pública ricos e pobres, estropiados e escorreitos, pretos brancos e
mestiços, todos diferentes todos iguais.
Se
personalizarmos mais as coisas, O Clube deixou de ser a casa dos ricos e o
esfrega perdeu o sentido. As escolas são locais por direito de todos e tirar
uma licenciatura deixou de ser privilégio de uns quantos. Em Peniche o Futebol
já não movimenta milhares mas o surf que era mal encarado, sim. Apanhar peixe
que caia dos cabazes para vender na Cadonga numa economia de subsistência, já
não faz sentido. A “sopa do sr. prior” é coisa do passado. Ter carro deixou de
ser uma necessidade profissional para passar a ser uma razão lúdica. Peniche já
tem semáforos e não tem tabernas. É “in” andar de calções para novos e velhos,
homens, mulheres, crianças e jovens. Enchem-se as muitas praias de Peniche e
Concelho com milhares de turistas nacionais e estrangeiros. São jovens os que
povoam a noite. Até policias de outras nações temos no Verão para acudir às
mais diversas solicitações. Onde cabe nisto tudo o discurso do anti-fascismo?
Acabada a
vida dos que viveram o 25 de Abril, este passará a ter o mesmo sentido que o 5
de Outubro e o 1º de Dezembro. E nós passaremos ao estatuto de fósseis, objecto
de estudo e motivo para ensaios. Claro que irão ser repetidos os mesmos erros
do passado embora com outras roupagens. Irão surgir novas formas de tirania e
de opressão. Não é o exemplo das dificuldades que vivemos que vai impedir isto.
Temos o dever de tudo fazer para que não se percam valores que tornam os serem
humanos fraternais e felizes na Liberdade. Mas os tempos estão difíceis com as
novas capacidades criadas e com uma sofisticação diabólica que irão conduzir à
servidão milhões de seres humanos em todo o mundo e em Peniche também, pese
embora as marcas que poderemos deixar para as gerações futuras.
Pesem
embora todas as interrogações sobre o tempo que vivemos o futuro é de
esperança. Somos fruto de uma Liberdade conquistada e vivemos fraternalmente os
nossos dias. Cultivemos criativamente paixão nos nossos filhos e netos pela LIBERDADE e pela DEMOCRACIA. Que eles amem a natureza a terra, o país e o planeta em
que vivem.
Por isso a
foto com que termino este post. No pós 25 de Abril um grupo de pescadores faz
uma caldeirada que está a ser servida na rua da Alegria onde nasceu Peniche.
São eles que servem e se servem um primeiro ministro, um presidente da câmara e
um candidato.
Era um
tempo em que a Utopia se sentia estar ao nosso alcance.
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