A MÁQUINA
DO TEMPO
Acontecimentos
existem que nos transportam ao passado a memórias que nos marcaram. Hoje foi um
dia desses. Um acontecimento que eu não esperava levou-me à década de 50 do
século passado. O meu pai trabalhava que nem um louco numa oficina criada por ele
para poder melhor dar segurança à família e aos seus devaneios.
Aos fins-de-semana
íamos para casa da minha avó fundir chumbo que comprávamos a preços de
ferro-velho para fabricar “chumbicas” que seriam depois de tratados da fundição
caseira fornecidas às firmas de aprestos marítimos que as venderiam aos armadores para
intercalar nas redes da pesca de cerco.
O acréscimo
deste dinheiro serviria para ajudar a pagar empréstimos financeiros que tínhamos contraído
junto de um “agiota” dando como penhor a nossa casa da Praça Jacob Rodrigues
Pereira. A certa altura o meu padrinho Eduardo caldas Pereira emprestou-nos o
dinheiro necessário para pagar ao usurário e ficámos a pagar-lhe a ele a juros
de lei.
Recordo
como se fosse hoje que no dia em que pagámos ao meu padrinho a última
prestação, a minha avó matou uma galinha e foi dia de festa.
O Sr. Teixeira
que nos tinha alugado o rés-do-chão disse ao meu pai que nunca tinha acreditado
que conseguíssemos pagar a divida e que ele a certa altura sonhou ficar ele com
a casa. Não ficou.
A casa foi transmitida
pela minha avó ao meu pai e o meu pai transmitiu-a aos filhos. Os filhos
fizeram divisão de bens e aquela casa que me custou tantos fins-de-semana acabou
para ir parar aos meus sobrinhos.
Tenho
procurado manter uma relação com a casa que também foi minha para além do que
parece razoável. Julgo que esse meu contacto com “A CASA” irá acabar em breve.
Vou
procurar pensar no que o meu pai dizia, não te fixes no que passou mas sim
naquilo que ainda podes construir no futuro. Assim seja.
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