PRO
PORTUGAL
Não há ano
algum em que se realize uma etapa do mundial de surf que não me teletransporte
para os anos 50 do século passado. Nesse tempo era Presidente da Câmara
Municipal o António Bento, e a alma mater da Câmara era o Fernando Lopes da
Silva. O António Bento foi nomeado presidente pelo Governo da Ditadura
Nacional. E o Lopes da Silva era um criativo da época todo virado para as
actividades desportivas do mar (ou não fosse ele o 1º proprietário da PROPESCA)
e ainda para actividades lúdicas que levassem ao país a designação “Peniche”. Foi
ele o autor da canção de Peniche, cantada por Maria de Lurdes Resende e que se
me é permitido o remoque, deveria ser reeditada pela Câmara Municipal pois não
conheço melhor que esta.
Nesse
tempo, por volta dos meses de Setembro/Outubro, víamos chegar a Peniche, mais
concretamente à Praia do Molhe Leste, umas carrinhas da Volkswagen com uns
tipos cabeludos e descalços que aqui se deixavam ficar até aos meses de
Março/Abril. A sua actividade era a de comer (pouco), beber (muito), fumar umas
coisas esquisitas, dormir com as suas gajas nas carrinhas e, durante o dia, com
umas pranchas de madeira deixar-se apanhar por ondas e deslizar sobre as
pranchas com o impulso das vagas, deitados nelas ou em pé. No fundo era aquilo
que nós aqui fazíamos com o corpo mas eles eram mestres na arte de navegar em
madeira sobre as ondas.
Não era na
zona apoiada por banheiros que eles o faziam. Era um pouco mais distante e às
tantas começamos a ouvir as palavras super e tubos embora que há 60/65 anos não
conotássemos aquele linguajar com alguma coisa que nos fosse próxima.
O que
ouvíamos na Vila é que se tratava de bêbados e drogados, pés-descalço que não
traziam nada de novo ao turismo que era desejável em Peniche. Essas tretas
também não nos diziam nada. Era uma terra pequenina, habitada por gente ultra
conservador, beateira e de pequeninas mentalidades. Para nós importante era a
novidade e o sentido de liberdade que aquela gente imprimia às suas atitudes e
que nos faziam perceber como estávamos presos aqui em Peniche.
Foram esses
jovens que levaram para as suas terras, Alemanha, Austrália, EUA, fotos de um
sitio porreiro em Portugal para apanhar ondas, chamado Péniche, onde a vida era
barata e a comida boa e muitas vezes gratuita no que tocava a peixe. Ao mesmo
tempo apanhavam-se uns tubos espectaculares e bom seria que àquele sítio se
começasse a chamar na Europa, os super-tubos.
Assim
nasceu a lenda, que se tornou realidade.
Passados 70
anos, quem é Lopes da Silva? Quem é o António Bento? Mas os Supertubos são
conhecidos no mundo global. Com a bênção de cabeludos e pés-descalços.
Sem comentários:
Enviar um comentário