quinta-feira, agosto 27, 2015

VISITAR O FOSSO DAS MURALHAS
Ontem à tarde e pela 1ª vez atravessei a ponte (passadiço) que liga o Parque do Baluarte à Prageira.
Inevitável recordar o meu pai e tantos momentos por ele vividos no velho campo do Baluarte. A “ponte” fica sensivelmente a meio de onde ficava o campo do Peniche. Recordo quantas tardes ali passei em pé a ver os jogos do GDP. Na parede da muralha do nosso lado esquerdo, para quem está de costas para a abertura da muralha, encontrava-se o velhinho marcador, uma casota em madeira onde se alteravam os resultados dos jogos. Do lado direito a “bancada central” em madeira.
Recordo os tempos de atravessar a Ponte Velha para ir ver os jogos do Peniche. E recordo apanhar os “foguetes” hastes da planta mais abundante naquela zona (os juncos) e ir com eles todo o percurso.
Recordo os momentos de glória do velhinho GDP e as tardes de pancadaria normalmente nos jogos contra o Caldas e o Torriense.
Tudo passou num rodopio enquanto caminhava ouvindo os meus passos que se confundiam com as vaias ao árbitro e os aplausos à nossa equipa.
Hoje aquele espaço não significa muito para os nossos jovens. Nem existem fotografias no Museu de Peniche que o recordem. No entanto ali se construíram sonhos e esperanças. Dali saíram jovens que acabaram a pontificar em equipas de 1ª grandeza, Sporting, Benfica, Belenenses e Boavista.
Em momentos de muito desânimo, o Campo do Baluarte foi o escape para dias sem peixe, para miséria que acabou em emigração, para a tristeza dos dias que os mais atentos sentiam sempre que iam para o mar e passavam junto à Fortaleza onde os demónios escondiam os mais lutadores filhos de Portugal.
Olho para o Fosso das Muralhas hoje, e sinto que me faltam o engenho e arte para transmitir memórias de um tempo que teima em regressar. E que os mais jovens precisam de conhecer para dele se poderem defender.
Lamento profundamente que o futuro em Peniche se construa sobre os destroços do passado sem que ao menos se acautele que restem símbolos que nos permitam compreendê-lo.
Nem uma Fábrica de conserva para a memória da nossa indústria. A Central eléctrica é nada. Um zero absoluto. Dos nossos espaços verdes e de desporto fica um ou outro registo. Somos um povo sem memórias prestes a tornarmo-nos um povo sem futuro.     

Carlos Tiago enviou-lhe uma hiperligação para um blogue:
Não me perguntes onde, nem quando, mas há tempos atrás li e guardei esta frase; Um povo sem o conhecimento da sua história, origem, e cultura é como uma árvore sem raízes. Infelizmente, de há muitos anos a esta parte, é o que eu sinto que nos estão a tentar fazer.

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