QUE ESCOLA
QUEREMOS?
Para o Pedro, meu
ex-aluno da Escola da Atouguia
com a minha maior amizade
A última
revista (E) do jornal “Expresso” na sua rubrica fisga publica uma
entrevista conduzida por Luciana Leiderfarb com o professor César Bona, que me
impressionou sobremaneira pelo desassombro com que são colocados problemas
sobre educação, que há muito constituem dúvidas com que todos nós que nos
envolvemos no processo educativo nos questionamos. O entrevistado é um dos 50
melhores professores do mundo, finalista do Global Teatcher Prize.
Pensei em
tantos colegas meus com que me orgulhei de trabalhar. E dei por mim a trabalhar
esta entrevista dando-lhe um outro formato. À autora peço desculpa pelo meu
arrojo. Ma sjulguei que arrumando-a de uma outra forma se tornaria mais
apetitosa a sua leitura. No fundo apropriei-me do texto e tratei-o à minha
maneira. Para contribuir para a sua leitura mais vasta e a sua discussão. O que
penso terá sido o objectivo da autora do trabalho
Por último
dediquei-o a um meu ex-aluno, que nunca consegui que os professores da minha
escola lhe conferissem sequer o 6º ano de escolaridade. Ficou-se pela sua
frequência. O que me provocou uma angustiante revolta que ainda não
ultrapassei. Este meu ex-aluno conseguiu nunca fazer a vontade aos seus
professores: este o seu mérito.
“Para que serve (a
escola)? A educação tornou-se uma competição desportiva, não é valorizada.
Perguntar aos alunos que
tipo de escola querem. O conhecimento é importante, Mas outros aspectos também
o são. Noções como a empatia, a imaginação e o respeito são essenciais numa
sala de aula.
Os vícios (mais
frequentes) coisas que, por inércia, a repetir. Um é pensar que o respeito se
impõe, em vez de se ganhar. Outro é achar que a escola serve para transmitir
conteúdos. A educação para a felicidade é banalizada, à escola não se vai para
ser feliz, vai-se para aprender.
Dar ferramentas (ao
aluno), entre elas o conhecimento. Mas também o respeito por si próprio e
perante o outro, a responsabilidade social.
Umaq criança pode
avaliar o seu próprio trabalho e dizer se eu não acho isto bom, o professor
também não vai achar. Isto é válido para o docente: não grites se não queres
que gritem; respeita se queres que te respeitem; usa correctamente a tecnologia
se queres que eles a usem…Não podemos pedir-lhes o que não lhes vamos dar.
Damos importância a
perguntas cujas respostas já lhes demos previamente. E queremos que a
reproduzam, esquecendo o processo. A pergunta serve para eles se envolverem,
investigarem, partilharem. Mas, no fim, o que conta é que repitam o que o
professor disse. Que saibam a resposta. Creio que devemos ensiná-los mais a
reflectir e menos a passar nos testes.
Em geral, (os
professores) aprendem cada vez mais matéria de língua e de matemática, mas não
as ferramentas para ensinar. E acredito que, no ingresso à universidade, notas
altas não deveria ser suficiente. Deveria ser possível medir o grau de
compromisso social do candidato, porque trabalhar em educação é um privilégio e
uma responsabilidade enorme.
(o professor) Deve
convidar os alunos a extrair o que está dentro deles. Eles são curiosos por
natureza. Bastaria sermos capazes simplesmente de alimentar essa curiosidade.
As 3escolas têm horas
estabelecidas, que se podem alargar consoante a necessidade dos pais. Isso é
uma questão. Depois está o tema dos TPC, que é o braço invasivo da escola e dos
seus piores vícios em casa. É o absoluto esquecimento da infância.
Porque o tempo voa, a
infância passa num instante. Se as crianças passarem as tardes a trabalhar, vão
perder coisas verdadeiramente importantes. Os TPC impedem que elas façam coisas
com os pais, mexem com o tempo interno das famílias, carregam os laços
familiares de tensão e de uma sensação de perda de oportunidades. E o mais
paradoxal é havere famílias que exigem TPC para os filhos. A essas gostava um
dia de lhes perguntar: conseguiram desfrutar da infância deles?
As crianças não têm
culpa que os currículos sejam tão extensos. E os TPC não podem servir para
compensar isso. Se existirem devem servir para complementar ou investigar
certas coisas. Mas pontualmente. A criança tem direito ao seu tempo, a chegar
ao fim de semana e desligar – e ao fim de semana levam mais trabalhos porque
têm mais tempo! Não podemos exigir-lhes algo que não queremos para nós.
Conheci escolas que
baseiam os programas nas perguntas dos alunos. Por exemplo: porque temos um
umbigo? Isto leva a uma explicação e a uma outra pergunta. E o impulso vem da
curiosidade.
Tendemos a educar como
fomos educados. E achamos que qualquer mudança vai levar ao cataclismo. Mas o
cataclismo já está a acontecer, os resultados não são bons e há cada vez mais
fracasso escolar. Porém, as crianças são a projecção dos pais, e os pais da
sociedade. Vivemos submersos em stresse, consumismo, competitividade – e é o
que lhes estamos a dar.
O exame não é
importante, o qu3e importa é a avaliação. E o que devemos avaliar é a
aprendizagem. Aprender é encontrar as ferramentas para obter a informação e
partilhá-la. Quem souber fazer isso pode fazer mil exames. Queremos dar às
crianças ferramentas para o futuro, mas quais são elas? Os conteúdos, aquilo
que todos nós esquecemos? Não. A maior ferramenta é saber pensar.”