LER OU NÃO
JORNAIS
OUVIR/VER
OU NÃO TELEJORNAIS
Caiu o
carmo e a trindade com as palavras de Graça Fonseca Ministra da Cultura no
México quando afirmou: “Uma coisa ótima de estar em Guadalajara há
quatro dias é que não vejo jornais portugueses” 25 de novembro
Eu sou do tempo em que ler jornais era mesmo uma aventura. A dificuldade
era escolher entre os vários os vários jornais de referência. Em desfilada
passam por mim os títulos de “República”,
“Diário de Lisboa”, “Diário Popular”, “Capital”, “Diário de Notícias”,
“Século”, “Jornal do Comércio”, “Jornal
de Notícias”. Depois existiam outros títulos que caracterizavam as pessoas
que os liam. “Comércio do Funchal”, “Jornal do Fundão”, “O Dia”. Diz-me o jornal que lês, dir-te-ei quem és. Alguns serviam mesmo
como primeira referência para um informador da PIDE/DGS iniciar a sua pesquisa.
Recordo o meu avô Benjamim em casa a ler “O Século” ou o Diário de
Noticias” e ele já morreu vão lá 65 anos. E recordo ainda alguns jornalistas
que me marcaram. O Urbano Carrasco, o Ruella Ramos, mais recentemente o Adelino
Gomes, o Ferreira Fernandes, o Raúl Rego. São alguns nomes dos muitos que já
esqueci mas que ao tempo me faziam comprar jornais. Recordo Mário Castrim.
Alguns nomes maiores da nossa literatura passaram por trabalhar em jornais como
comentadores, repórteres ou enviados especiais a eventos mundiais.
E hoje? O “Diário de Notícias passou a online e eu tive dificuldade em
encontrar um jornal que o substituísse porque preciso de sentir o papel nas
minhas mãos. Restavam-me o “Jornal de
Notícias” e o “Público”.
Completamente fora de causa está o o Jornal do porno/crime “Correio da Manhã”. Acabei por me fixar
no “Público”. Vespertinos desapareceram todos.
Depois do que vos relato, correndo o risco de ser mais uma vez
politicamente incorrecto, quero dizer-vos que compreendo em absoluto a Ministra
da Cultura. Online restam-me o “Diário de Notícias e o “El Pais”. Mas como já
vos disse sinto que o meu dia falhou se não sentir o papel de jornal a
perpassar pelos meus dedos.
Outra diferença absoluta é no que diz respeito aos Telejornais.
Antigamente ouvir um Telejornal era um ritual sagrado que não podia ser
interrompido. Hoje são os filmes e as imagens da natureza que servem de pano de
fundo para a hora dos jornais televisivos. E até os desenhos animados. Tudo
menos os massacres a que me submetem às horas das refeições. Tudo menos ouvir o
Portugal dos pequeninos pela voz “grunhial” dos portas, dos mendes ou das moura
guedes.
E ainda estranham o comportamento dos seres humanos nos tempos que
correm.