sexta-feira, agosto 28, 2020


BILROS DA MINHA AVÓ GUILHERMINA

O meu avô Benjamim morreu tinha eu 10 anos. Durante algum tempo eu, os meus pais e o meu irmão paassámos todos para casa da minha avó Guilhermina para lhe fazermos companhia. Ao fim de algum tempo voltámos a viver na nossa casa excepto o meu irmão que desde os 3 anos de idade vivia com os meus avós. Até que em Outubro o meu irmão foi para o Colégio Nuno Álvares e passei eu a ficar à noite a fazer companhia à minha avó.

Tudo isto para vos dizer que desde os meus 10 anos que passei a conviver com rendas de bilros, almofadas e bancos, piques e linhas Âncora, bilros das mais diversas formas e alfinetes espetados na almofada segurando pontos e nós.

Recordo desses tempos algumas designações como cerzir, renda do casar, picar piques, tecer e vender.

Ao mexer um destes dias num dos baús da minha herança, deparei com amostras (?) de bilros dos mais diversos tipos. E veio-me à memória o barulho dos bilros a baterem uns nos outros enquanto a minha avó tecia as rendas ao longo dos dias. Era um barulho melódico, qual sinfonia que me fazia adormecer em dias em que eu me cansava mais nas brincadeiras físicas que ocupavam as crianças e adolescentes do meu tempo.

Decidi fotografá-los e deixá-los aqui como memória. Pelo que me fazem recordar. Por esse tempo. Pela rendilheira que foi a minha avó.







 

terça-feira, agosto 25, 2020


O MURO

Esta designação representou para a minha geração (que se identificava como de esquerda) um símbolo do que de mais abjecto podia ser criado pelo ser humano como forma de humilhar aqueles a quem não eram reconhecidos direitos de cidadania.

Para os da minha geração a noite de 9 para 10 de Novembro de 1989 em que se deu o derrube do MURO DE BERLIM representou que a Utopia era possível.

O derrube do MURO era o fim de uma ideologia opressiva e sufocante que em nome de “um sol” por nascer, colocava sectores das humanidade contra outros, filhos contra pais, irmãos contra irmãos, nações umas contra as outras. A queda do muro era para nós o inicio de uma paz sonhada mas nunca vivida, o fim dos Gulag, a libertação do pensamento.
A tudo isto eu e os da minha geração sempre associámos a designação de “MURO”.

Aprendi agora que existem 2 tipos de muros. Os muros que separam os países “ditos” comunistas dos países “ditos” democráticos, e os muros que separam os países da liberdade entre si.

Se um país da esfera de leste ergue um muro para o separar dos países ocidentais, é mau.

Se os EUA erguem um muro para impedir os mexicanos de entrarem no seu território, é bom. Trump é eleito porque prometeu isolar o México. Kruchev é derrubado porque ergueu o muro de Berlim.

Ser bom ou mau, depende do momento e do grau de evolução das ideologias. Depende da Guerra-Fria  ou de quem assume a liderança da dita civilização ocidental.

Ser muro não é suficiente, é preciso conhecer o p’edreiro que o construiu.

segunda-feira, agosto 24, 2020

SE AINDA CONSEGUES RIR… ESTÁS À VONTADE.
DIZ QUE FAZ BEM À SAÚDE!!!!





sexta-feira, agosto 21, 2020


COMUNIDADE

Nunca se falou tanto de comunidade como agora em que ela parece estar ausente do nosso quotidiano.

Estar, ser, viver em comunidade é acreditar no Outro. Saber que é fora de nós mesmos que nos encontramos. Este é o principio básico de todas as ideologias e religiões. É na Humanidade que nos reencontramos. Que sabemos o nosso caminho.

Os últimos tempos (falo do período antes do vírus) têm sido promotores de um egoísmo antinatural. Os valores perderam-se ou caíram em desuso. O sentido comunitário tornou-se vago e sem sentido.

Partidos políticos deixaram de produzir os Grandes Homens que arrastavam vontades de lutar pelo Outro. As religiões tornaram-se fontes de discórdia e em nome de deuses menores decapitaram-se vontades e relações humanitárias.

Nunca se matou tantos seres humanos em nome da Paz como nos últimos anos. A fome grassa por todo o planeta e atinge particularmente as crianças e os velhos e no entanto nunca existiu tanta abundância de comida e tanto desperdício.

Perdemos o sentido daquilo que hoje mais falamos. O sentido comunitário. A esperança para os filhos dos nossos filhos começa a ser uma palavra vã. Vejo-me rodeado de livros e de memórias e sinto um vazio enorme dentro de mim porque tenho uma ideia a fervilhar que me diz que transmiti muito pouco do que aprendi. O meu api, os meus avós e alguns familiares mais próximos, aqueles a quem chamo e chamarei sempre amigos legaram-me bens e valores que são autênticos tesouros. E o que fiz deles? Consegui passa-los a outros? Sou filho de uma geração perturbada que assistiu a hecatombes terríveis. Guerras mundiais, genocídios, prisões em massa, exílios forçados de milhares de de seres humanos, quedas de regimes ditatoriais e ascensão de outros, aparecimento de seitas, roubos em larga escala e saques do trabalho de seres humanos indefesos. A tudo isto assisti. E novos hinos de esperança ouvi entoar. No entanto, um vírus invisível põe a nú tudo quanto de pior a humanidade foi capaz de guardar.

Aqui d’ El-Rei que é preciso voltar à comunidade. M as saberemos mesmo o que é isso?

 

quarta-feira, agosto 19, 2020


RELEVANCIAS DOS TEMPOS DA OPOSIÇÃO DEMOCRÁTICA

Eu nasci em Junho de 1944. A nível local a primeira personagem de que me recordo ligada ao Estado Novo é o Presidente da Câmara, António Bento e o seu companheiro de jornada, o Zé Bento (José Fernandes Bento).

O António Bento inicia a sua tarefa de representação do Estado Novo no Concelho de Peniche em Agosto de 1949 e leva essa missão até Julho de 1961. Representa isso para mim, um período que vai desde os meus 5 anos até aos 17. Abrangendo pois a parte da minha adolescência em que se formam os meus princípios e formação, religiosa, politica e social. Em parceria com ele sempre o seu irmão, figura ímpar da nossa praça.

 

Talvez mereça a pena recuar um pouco no tempo para conhecer melhor estas personagens. Nados e criados no vizinho Concelho da Lourinhã, filhos de figuras com alguma relevância local, cedo se apercebem que Peniche e o seu Concelho em desenvolvimento latente, representam um meio eficaz para o seu crescimento social e económico. Instalam-se ambos no comércio local em firmas de figuras locais conceituadas e preparam de forma inteligente a sua ascensão. Ambos namoriscam e acabam por casar com as filhas dos seus patrões, interpretam as figuras dos católicos convictos, aderem às camadas sociais em desenvolvimento e a breve trecho são figuras representativas das forças políticas em exercício, primeiro a União Nacional e posteriormente a Acção Nacional Popular máscara renovada do que de mais podre a politica Salazarista produziu. Ambos comerciantes em ascensão, o José Fernandes Bento mais vocacionado para o sector económico e o António da Conceição Bento para os sectores político, social e religioso. 

A breve trecho o António ascende na UN e acaba por ser convidado seu dirigente local e de seguida para o inicio de um longo mandato como Presidente da Câmara do Concelho menos desenvolvido do Distrito de Leiria. No Concelho de Peniche na década de 50 não existe rede viária digna desse nome, a escolaridade vai em alguns casos raros até à 6ª classe e, os filhos dos mais abastados cedo eram colocados em Colégios ou instituições exteriores ao concelho. Não existia rede de esgotos domésticos, e a rede de distribuição de água era limitada a alguns (poucos) mais importantes filhos da terra. É importante referir aqui que a relação do poder político com o poder religioso se foi estreitando e desenvolvendo, constituindo uma dupla sempre visível o Padre Bastos e o António Bento.

A constituição da Fortaleza de Peniche como prisão do Regime do Estado Novo traz com ela forças militarizadas e repressivas do Estado Novo, como a PIDE, a legião, GNR, PSP e Guarda Fiscal. A decadência económica de largos grupos de membros da população, levam o Padre Bastos e o António Bento a tentarem e conseguirem prover algumas melhorias que conferissem a Peniche algum aspecto mais actual. É assim que surge uma rede de esgotos na Vila, uma rede viária a ligar Peniche aos concelhos de Caldas e Lourinhã bem como no interior do próprio Concelho. Na segunda metade dos anos 50 de século XX consegue-se aqui criar uma Escola Industrial e Comercial que permitissem alargar um pouco uma visão mais enriquecida do desenvolvimento local. Surge ao mesmo tempo a representação do Stella Maris e algumas Fábricas de Conserva ajudam a uma economia local de subsistência. E no meio disto tudo onde para o Zé Bento? Esse vai subindo no crescimento local da UN, criando um grupo de lacaios que o acolitam e se tornam seus braços de ferro. Aproveitando o conhecimento que vai tendo através da Câmara Municipal que o irmão dirige, torna-se detentor de um parque imobiliário digno de registo.

Os filhos do António Bento vão estudar para Lisboa e um obtém a licenciatura em Medicina vindo a tornar-se um cirurgião plástico de nome reputado e o outro licencia-se em Engenharia Química  pelo IST. Uma das filhas do Zé Bento licencia-se em ciências Fisico-Quimicas pela Faculdade de Ciências de Lisboa e a outra acabou por ser esposa de mais um Lourinhanense aqui acolhido, mas que já não teve o êxito do seu sogro.

Pós António Bento surge no poder politico como figura representativa um filho da Atouguia da Baleia a que se lhe seguiu o representante de uma das famílias mais conceituadas da Vila.  È com António e Zé Bento que termina uma época das mais negras deste Concelho e da miséria em que as suas populações viviam, mas em que ao mesmo tempo existiam perante as figuras que se lhes impunham pelo poder, repressão e domínio que representavam. Detendo ao mesmo tempo forças policiais ou para/policiais que lhes davam a cobertura necessária.

É desse tempo um poema (dos mutos) políticos que escrevi e que foi mesmo publicado no “Diário de Lisboa – Juvenil”:

 

BENTUS

Rastejantus

mais quebrantus que turcentus

ou turcentus que quebrrantus

conforme os pesus cimentatus se venderem

eis que vus apresentus:

 

Ser que ser ser não é

rastejantus quebrantus

truvejantus

eis bentus

que aqui vus tragus

para todos intragatus

 

terça-feira, agosto 18, 2020


PENICHE:

OS LÍDERES POLÍTICOS E AS OPÇÕES DEMOCRÁTICAS (OU NÃO) PARA GESTÃO DO CONCELHO

Em conversa com um amigo, foi-me sugerido a dificuldade em encontrar em Peniche líderes com que a população se identificasse e servissem de figuras que se tornassem incontestados e seguidos de forma inequívoca.

Foi então que me dei ao trabalho de ir buscar os Presidentes de Câmara (Administradores concelhios) que desde o inicio do século XX pudéssemos identificar ainda que pouco ou nada soubéssemos pela quase totalidade deles. Algumas curiosidades ressaltam dessa leitura.

Durante a 1ª República (e o mesmo no período do Estado Novo) a duração dos mandatos é perfeitamente aleatória o que leva a entender que depende da disponibilidade dos indigitados ou, da sua total adesão aos valores dos que o nomearam. Já na 2ª República a durabilidade dos mandatos é pré-fixada e se por razões que têm a ver com a disponibilidade dos eleitos, este se demite do cargo o eleito que se lhe segue só poderá desempenar o cargo até ao limite do prazo para que foi eleito.

Só na 2ª República é possível encontrar uma mulher a exercer o cargo de Presidente da Câmara e mesmo isso só acontece porque o autarca eleito se demitiu das suas funções.

É no Estado Novo que se encontra o exercício do cargo de Presidente por número de anos (12), por um nomeado pelo força detentora do poder ( mas isso já faz parte de uma outra história que noutra altura contaremos e comparável aquilo que hoje é possível atingir eleitoralmente. 

Assim são estas as figuras (ou figurões em questão):    
PRESIDENTES DA CÂMARA DE PENICHE
1ª REPÚBLICA
- Joaquim de Barros Vala
Início - 07 out. 1910
Fim - 31 dez. 1913

Início - 02 jan. 1926
Fim - 08 set. 1926

- Luis Maria Freire de Andrade
Início - 02 jan. 1914
Fim - 11 ago. 1919

- João Baptista da Conceição
Início - 12 ago. 1919
Fim - 31 dez. 1922

- José Nunes Ferreira Tavares
Início - 02 jan. 1923
Fim - 05 abr. 1923

- Jacob Baptista Ribeiro Guizado
Início - 09 abr. 1923
Fim - 28 jan. 1925

- Faustino da Gama da Costa Leal
Início - 29 jan. 1925
Fim - 31 dez. 1925

ESTADO NOVO
- Eduardo Eller Caldas Pereira
Início - 09 set. 1926
Fim - 10 mar. 1929

- António Maria de Oliveira
Início - 11 mar. 1929
Fim - 16 jul. 1930

- Armando Sampaio Sena
Início - 29 jul. 1933
Fim - 25 jan. 1939

- João Mendes Madeira, Sobrinho
Início - 26 jan. 1939
Fim - 05 jul. 1939

- Luis Pedroso da Silva Campos
Início - 06 jul. 1939
Fim - 30 out. 1941

- José Bonifácio da Silva
Início - 27 nov. 1941
Fim - 08 fev. 1945

- José da Mota Conceição Garrido
Início - 23 fev. 1945
Fim - 21 jul. 1949

- António da Conceição Bento
Início - 04 ago. 1949
Fim - 31 jul. 1961

- Vitor João Albino de Almeida Baltazar
Início - 21 ago. 1961
Fim - 11 ago. 1969

- Francisco de Jesus Salvador
Início - 18 set. 1969
Fim - 02 mai. 1974

2ª REPÚBLICA
- José António Ferreira
Início - 11 mai. 1974
Fim - 06 nov. 1974

-  Carlos Alberto Freitas Mota
Início - 22 nov. 1974
Fim - 31 dez. 1976

- Jerónimo Freixa Lúcio Barbosa
Início - 05 jan. 1977
Fim - 16 mar. 1977

- José Maria da Silva Cruz
Início - 17 mar. 1977
Fim - 07 jun. 1978

- António Assalino Rosa Alves
Início - 21 jun. 1978
Fim - 31 dez. 1979

Luis Alberto Matos Almeida
Início - 21 jun. 1978
Fim - 31 dez. 1979

- José Maria Malaquias Antunes
Início - 04 jan. 1983
Fim - 06 dez. 1983

- Maria da Fátima Mendes Serra Pata
Início - 13 dez. 1983
Fim - 30 dez. 1985

João Augusto Tavares Barradas
Início - 03 jan. 1986
Fim - 28 dez. 1989

Início - 03 jan. 1990
Fim - 28 dez. 1993

Início - 04 jan. 1994
Fim - 30 dez. 1997

- Jorge Manuel Rosendo Gonçalves
Início - 06 jan. 1998
Fim - 26 dez. 2001

Início - 02 jan. 2002
Fim - 28 out. 2005

- António José F. S. Correia Santos
Início - 28 out. 2005
Fim - 11 out. 2009

Início - 11 out. 2009
Fim - 18 out. 2013

Início - 18 out. 2013
Fim - 20 out. 2017



quinta-feira, agosto 13, 2020


AO LER PEDRO MEXIA

Estou muito mais dado à leitura que à escrita. O meu blog sofre com isso. Recordo que em 2006 quando o iniciei, pensei muito em que só o iniciaria se fosse capaz de assumir um compromisso comigo próprio no sentido de manter uma certa regularidade de escrita. 14 anos depois e com uma pandemia pelo meio as promessas tornaram-se sem sentido.

Um dia destes ao ler, salvo erro no expresso, um artigo de Pedro Mexia, recordei os  meus tempos de aluno da Escola Industrial e das discussões acesas que mantínhamos todos uns com os outros. Quem era o Mestre que apanhava mais sardinha… Outra disputa que vinha à coacção era a das potencialidades da Nª. Srª. de Fátima em oposição à Nª. Srª. da Nazaré. E o Peniche versus caldas ou Torres.

Isto vão lá 60 anos e normalmente os locais de debate eram os vestiários das Oficinas de Serralharia enquanto nos lavávamos ou nos preparávamos para as aulas.

E algumas destas discussões eram levadas muito a sério.

Tantos anos passados, leio e quedo-me a pensar no que li. Será possível que tenhamos evoluído tanto para de forma mais ou menos simples voltarmos às mesmas questões, ou a outras muito semelhantes?

O que a partir de agora irão ler são palavras de Pedro Mexia, virão noutros caracteres e em itálico paranão nos prestarmos a confusões:

“A fé não é argumentável… a religião é muito argumentável. Tem que ver com comportamentos humanos, com práticas, com decisões. Pode  falar-se de religião como de politica. A fé baseia-se em imponderáveis…  

terça-feira, agosto 11, 2020

COISAS DO BICHINHO 19







segunda-feira, agosto 10, 2020

QUEM TEM TELHADOS DE VIDRO…
Um cidadão português foi assassinado por um outro cidadão português. Em plena luz do dia e à frente de outros cidadãos que de imediato o detiveram e entregaram às autoridades. O assassinado era actor e ao que se diz um homem de bem. O assassino era um homem septuagenário misófobo. Segundo agora se diz tinha traumas não resolvidos desde os tempos das guerras coloniais. A polícia judiciária tomou conta da ocorrência e como infelizmente tantos outros casos de demência repentina que terminam em assassínios por razões sem sentido, este será mais um caso que irá aguardar o seu tempo de julgamento com o autor do crime aguardando entre grades que a Justiça se pronuncie. Esta ocorrência constituiu um menú delicioso para aproveitamento dos que têm dificuldade em viver consigo próprios e foram promovidas manifestações e e encontros de quem não se revê neste tipo de crimes. Até aqui nada de estranho. O que me surpreende e revolta é a República da Guiné-Bissau vir-se constituir como “dama” agravada porque o assassinado é geneticamente um dos seus. Vocês perceberam bem. A Rep. da Guiné-Bissau. Um país onde são assassinados diariamente todos aqueles que se opõem ao poder instituído sem que alguém seja detido ou julgado. O país mais corrupto de África, quiçá do mundo, pretende ser juiz em causa que não lhe pertence. Isto faz-me recordar um dito da minha avó: “Chama-lhes filho, antes que te chamem a ti”.