segunda-feira, abril 30, 2007

Recordações do início do século XX:
– O meu avô Benjamim
O meu avô chamava-se Benjamim Costa. Morreu em 1954 (tinha eu 9 anos) com 62 anos de idade. Era funcionário dos Serviços de Correios, Telégrafos e Telefones do Distrito de Leiria. O seu local de trabalho era o posto semafórico que se situava onde hoje se encontra o “Restaurante Nau dos Corvos”.
O posto semafórico era o polícia sinaleiro dos navios que cruzavam o atlântico junto à nossa costa. Havia lá um grande mastro com várias cordas, onde se subiam bandeiras de cores garridas e desenhos variados, com que se faziam perguntas e se davam respostas aos navios que passavam.
Um pouco afastada do posto semafórico havia uma armação em madeira e ferro, com umas palhetas que mudavam de posição, o que permitia com a luz do sol reflectida enviar em morse para os barcos, as informações mais diversas.
Havia dentro do posto uma máquina em cobre, de morse, que o meu avô dedilhava de forma tal, que os meus olhos se trocavam todos ao ver a rapidez com que o fazia.
Tenho saudades destes objectos que desapareceram e que faziam a memória da importância de Peniche detinha nas actividades comerciais marítimas.
O meu avô era um republicano dos quatro costados. Adepto do Afonso Costa. Em 1926 o meu avô era um homem cheio de convicções e de sangue na guelra. Ele e outros companheiros de jornada da época não se adaptaram às mudanças que se adivinhavam.
Envolveu-se com outros penicheiros desse tempo em diversas actividades de afrontamento às autoridades que passaram a exercer o poder localmente. Assim é que em 1927 o meu avô com um grupo de cidadãos foram detidos por crimes políticos. Porque a cadeia de Peniche era exígua para tanta gente, foram confiados à guarda da guarnição militar que se encontrava na Fortaleza.
Assim se iniciou, com este grupo de penicheiros, aquilo que viria a ser a prisão política de Peniche. A foto abaixo mostra esse grupo posando no interior da Fortaleza, no período da sua detenção em Fevereiro de 1927. O meu avô Benjamim é o segundo a contar da esquerda na fila do meio. O regime ao longo dos anos foi-se aprimorando no tratamento dado aos seus presos políticos, e fotos como esta nunca mais foram possíveis.
Recordo anos mais tarde o meu avô já doente e impossibilitado de andar, sentado numa cadeira e a tratar dos seus selos. Inúmeros amigos o procuravam em casa a pedir-lhe conselhos ou ajuda para tratar dos mais diversos assuntos, pois ele era uma enciclopédia de saberes.
O meu avô continuou um republicano e um democrata até ao fim da sua vida. As minhas referências ainda hoje se dividem entre a bonomia do meu avô Benjamim e a firmeza do meu pai Horácio.
Entre eles girava como ficura omnipresente a minha avó Guilhermina “Baterremos”, matriarca que dominava marido, filho e netos. A cangalheira cá do sítio. Que era uma figura que a mim me infundia medo.
O meu avô de fortes convicções políticas (dando sempre oportunidade aos outros de manifestarem a sua opinião e procurando evitar conflitos interpessoais, e o meu pai antipolítico por essência, sempre senhor da última palavra, contundente, felina, definitiva.

O meu avô foi o primeiro político que conheci, admirei e admiro. Presto-lhe aqui a minha homenagem.

domingo, abril 29, 2007

PARA QUEM TIVER CÉREBRO...
Se você conseguir ler as primeiras palavras o cérebro decifrará automaticamente as outras...

3M UM D14 D3 V3R40, 3574V4 N4 PR414, 0853RV4ND0 DU45 CR14NC45 8R1NC4ND0 N4 4R314. 3L45 7R484LH4V4M MU170 C0N57RU1ND0 UM C4573L0 D3 4R314, C0M 70RR35, P4554R3L45 3 P4554G3NS 1N73RN45. QU4ND0 3575V4M QU453 4C484ND0, V310 UM4 0ND4 3 D357RU1U 7UD0, R3DU21ND0 0 C4573L0 4 UM M0N73 D3 4R314 3 35PUM4...4CH31 QU3, D3P015 D3 74N70 35F0RC0 3 CU1D4D0, 45 CR14NC45 C41R14M N0 CH0R0. C0RR3R4M P3L4 PR414, FUG1ND0 D4 4GU4, R1ND0 D3 M405 D4D45 3 C0M3C4R4M 4 C0N57RU1R 0U7R0 C4573L0. C0MPR33ND1 QU3 H4V14 4PR3ND1D0 UM4 GR4ND3 L1C40; G4574M05 MU170 73MP0 D4 N0554 V1D4 C0N57RU1ND0 4LGUM4 C0154 3 M415 C3D0 0U M415 74RD3, UM4 0ND4 P0D3R4 V1R 3 D357RU1R 7UD0 0 QU3 L3V4M05 74N70 73MP0 P4R4 C0N57RU1R. M45 QU4ND0 1550 4C0N73C3R 50M3N73 4QU3L3 QU3 73M 45 M405 D3 4LGU3M P4R4 53GUR4R, 53R4 C4P42 D3 50RR1R!! S0 0 QU3 P3RM4N3C3 3 4 4M124D3, 0 4M0R 3 C4R1NH0. 0 R3570 3 F3170 4R314.

sábado, abril 28, 2007

O CÚ DO CAVALO...Andamos nós a estudar para vir a descobrir que tudo ou quase tudo já está decidido!!!

A bitola dos caminhos-de-ferro (distância entre os 2 trilhos) dos Estados Unidos é de 4 pés e 8,5 polegadas (1435 mm).

- Porque foi usado este número?

Porque era esta a bitola dos Caminhos-de-ferro ingleses e, como os caminhos-de-ferro americanos foram construídos pelos ingleses, esta foi a medida usada.

- Porque é que os ingleses usavam esta medida?
Porque as empresas inglesas que construíam os vagões eram as mesmas que construíam as carroças antes dos caminhos-de-ferro e utilizaram as mesmas bitolas das carroças.
- Porque era usada a medida (4 pés e 8,5 polegadas) para as carroças?
Porque a distância entre as rodas das carroças deveria caber nas estradas antigas da Europa que tinham esta medida.
- E por que tinham as estradas esta medida?
Porque estas estradas foram abertas pelo antigo império romano aquando das suas conquistas, e estas medidas eram baseadas nos carros romanos puxados por 2 cavalos.
-E porque é que as medidas dos carros romanos foram definidas assim?
Porque foram feitas para acomodar 2 traseiros de cavalo!
Finalmente...
O vaivém espacial americano, o Space Shuttle, utiliza 2 tanques de combustível (SRB - Solid Rocket Booster) que são fabricados pela Thiokol no Utah. Os engenheiros que projectaram estes tanques queriam fazê-lo mais largos, porém tinham a limitação dos túneis ferroviários por onde eles seriam transportados, que tinham as suas medidas baseadas na bitola da linha, que estava limitada ao tamanho das carroças inglesas que tinham a largura das estradas europeias da época do império Romano, que tinham a largura do cu de 2 cavalos.

Conclusão:
O exemplo mais avançado da engenharia mundial em design e tecnologia é baseado no tamanho do cu do cavalo romano!

sexta-feira, abril 27, 2007

GUERNICA
Às quatro e meia da tarde de 26 de Abril de 1937, a aviação alemã lançava sobre uma povoação de Espanha pouco importante do ponto de vista militar, um ensaio do que viriam a ser os raids que mais tarde assolariam Londres.
70 anos depois que memória temos desta acção medonha e obscena sobre uma povoação indefesa? Não fora Pablo Picasso e a memória de Guernica já se teria perdida no tempo. No entanto em poucos minutos o centro da cidade ficou completamente destruído, restando 1600 mortos e 900 feridos.
Retomo aqui o que escrevi a 24 de Abril. E o que ouvi ao Presidente da República sobre a necessidade de reinventar a memória do 25 de Abril e o seu significado. De acabar com os rituais que não irão perpetuar nas novas gerações nenhum ideário de Alegria e de vontade cívica de participação. Touché diria eu perante a intervenção do Presidente. Aquele senhor, quando se coloca no lugar do cidadão comum até me surpreende agradavelmente.

quinta-feira, abril 26, 2007

SAÚDE cap IV
Já vos disse. De cada vez que tenho de ir ao Centro de Saúde de Peniche, venho com uma nova neurose. Esta última vez foi kafkiano. Ou surrealista. Ou qualquer outra coisa. Já não sei bem. Entro lá dentro e tudo me parece hostil. Pessoas que admiro e estimo e lá trabalham parecem-me diferentes e as suas feições tornam-se difusas e ameaçadoras.
A história agora é simples mas não menos elucidativa sobre os métodos de funcionamento daquela instituição de tortura mental: 1- No dia 14 de Fevereiro foi-me enviado um postal para me apresentar a 30 de Março às 09:00 horas.
2- A 23 de Março recebi um telefonema a informar-me que afinal a consulta tinha passado para dia 20 de Abril.
3- O objectivo diziam-me era “a fim de vir a uma consulta de diabetes com o Dr. Rodinei. Queira dirigir-se primeiro à Srª Enfermeira Isabel Fortes”
4- Mais de dois meses depois da convocação lá me dirigi ao Centro de Doenças Nervosas de Peniche, digo, ao Centro de Saúde de Peniche e depois de informado sobre o local aonde me deveria dirigir por pessoa amigável (ao balcão de atendimento é que eu não vou), sentei-me a aguardar pelas 09:00 horas.
5- Já estavam lá 2 ou 3 utentes que conversando entre si, dava para eu perceber no que me ia meter. Todos são convocados para a mesma hora. Depois é esperar e desesperar.
6- Já passavam das 09:35 quando chegou uma enfermeira finalmente. Sem me perguntarem nada a ideia era picar-me o dedo para ver o meu nível de glicémias. Isto é: 5 anos depois de eu ser declarado oficialmente como diabético, querem ver como estou de açucar no sangue. 4 anos depois de eu ter passado a injectar-me 2 vezes por dia com insulina, acham que eu não controlo os meus diabetes.
Conclusão: Não sabem nada de mim, nem querem saber. É claro que já não fui ao Dr. Rodinei. Para quê? Daqui a 15 dias quando fôr ao meu Endocrinologista vou contar-lhe mais esta história de 3º Mundo por que passei no Centro de Pesadelos de Peniche. Depois admiram-se que os trabalhadores de saúde competentes fujam para os privados...Quem é que atura isto.
Declaração Final: Enquanto o CSP, continuar assim, a minha prioridade de apoio não vai para as Urgências 24 horas por dia no Hospital de Peniche. Vai para uma nova forma de trabalhar com os utentes do CNS. Tudo começa aí.

quarta-feira, abril 25, 2007

25 DE ABRIL...
...apesar de tudo

terça-feira, abril 24, 2007

O 25 DE ABRIL FOI FEITO PARA METER NOJO?
Durante esta semana e com principal incidência no dia de amanhã, celebra-se com maior ou menor intensidade o 25 de Abril. Para quem não sabe o que isso significa, também não vou dizer! Vá ao Google.
Em Lisboa entre outras iniciativas mais ou menos monótonas e cheias de bafio, vai haver um desfile organizado pela “Associação 25 de Abril” que é patrocinada pelos militares que nessa data em 1974 se meteram nuns carros de lata que funcionavam de empurrão e que andaram pelo país a passear e a dar “traques” nas ventas da PSP, da GNR e da PIDE, que era esta última um grupo de idiotas que se embebedavam nas tabernas e que como em casa tinham medo das patroas, vinham prá rua com maus modos, baterem nos meninos bonzinhos que andavam a praticar o bem junto dos pobrezinhos.
Ora no final dessa manifestação vão uns velhotes falar uns com os outros e dizer Vivó Benfica e outros vivas a outras coisas que ninguém sabe o que é, porque ninguém viu nada de diferente daquilo que eles querem que se veja, onde não existe nada do que eles dizem.
A malta jovem não diz nada lá, porque não tem nada a dizer. Uns queriam pôr a falar um gajo que ninguém sabe quem é, a ler um discurso dos tempos da Juventude do Álvaro Cunhal. Outros queriam levar lá para pôr a rir o pessoal o gajo dos Gato Fedorentos. Mas o Ricardo Fedorento que em tempos era do grupo das múmias paralíticas, quando se sentiu apertado nas ligaduras dentro dum sarcófago fugiu com medo de morrer sufocado. Os gajos que são uma espécie de carpideiras alugadas ficaram furiosos e agora querem ver o Fedorento embalsamado outra vez. Não o deixam falar. Ponto final parágrafo.
Ainda hoje me faz confusão o que raio é que a data do 25 de Abril quer dizer...

sábado, abril 21, 2007

PEIXE SECOfotos de H. Blayer Quando embarquei para a Guiné-Bissau como cooperante em Dezembro de 1975, levava comigo duas imagens: a de um País que eu achava que tinha perdido a Liberdade alguns dias antes em 25 de Novembro, e a de um jantar de despedida com os meus amigos do MDP/CDE e do PCP no antigo restaurante do Romeu, onde hoje se situa o Bar Nº 1. Ainda hoje conservo na arca das minhas memórias um galhardete do PC, assinado por todos os presentes entre os quais o Aleixo, o Balde d’ Água, o Álvaro Zé, o Ivo e tantos, tantos outros... Uma vez na Guiné, as memórias do meu passado penicheiro assaltavam-me amiúde trazendo-me cheiros, sabores e imagens que me tornavam mais fácil a minha estadia naquele país para onde tinha decidido dar a minha participação militante. Um dia estava eu numa esplanada gozando com outros cooperantes o fim de tarde de Bissau, vejo passar um penicheiro daqueles que fazem dos barcos de tráfego internacional uma eterna Diáspora. Demos um daqueles abraços bem puxados e logo ali combinámos para dois meses depois um novo reencontro para quando ele regressasse a Bissau com novo carregamento. Ficou assente ele ir a casa dos meus pais buscar o que eu entretanto escrevesse a pedir e um jantar no Pidjiguitti onde eu residia. O meu embaraço inicial era o que pedir à minha mãe para enviar. Rápido conclui. Queria peixe seco. Carapaus e “arraia”. Para cozer com batatas com pele e cebola e comer uma parte de “molhinho”, e outra parte com azeite e vinagre. Alguns amigos cooperantes mais chegados, o Ministro Vasco Cabral que tinha estado preso em Peniche com o Mário de Andrade, a mulher a Luisa Cabral lisboeta de Alcântara, a Taurina Zuzarte médica, cooperante como eu e uma amiga fantástica, seriam os meus convidados para aqueles sabores de Peniche.
Foi dia de Peniche em Bissau. Que recordo para toda a minha vida. E não há vez em que coma carapaus ou arraia seca, que não me recorde desse almoço em África.

quarta-feira, abril 18, 2007

CÓDIGO DE CONDUTA
na BLOGOSFERA
Os jornais do fim de semana passada noticiavam que os pioneiros dos blogs apelaram à instituição de um "Código de conduta" para os Bloguistas. No site de Tim O' Reilly: www.oreilly.com foi lançada a ideia, uma vez que o universo dos blogs se tornou tão extenso, que só um conjunto de regras aceite por iniciativa individual pode, cuidar de alguma confusão e mesmo desatino verbal em que se converteram algumas iniciativas.
São sete as regras propostas, a saber:
  1. Assumir responsabilidade pelo que se escreve mas também por comentários inseridos no blog
  2. Não permitir comentários inaceitáveis - difamações, violações dos direitos de autor, ameaças, assédios
  3. Não aceitar comentários anónimos. No limite aceitar pseudónimos. Pessoa que comenta deve enviar e-mail
  4. Ignorar ataques, inibindo-se o blogueiro de fazer qualquer comentário ou contra-ataque
  5. Antes de se fazer uma denúncia ou censura deve o bloguista tentar falar em privado com a pessoa
  6. Defender uma pessoa que esteja a ser injustamente atacada com comentários inaceitáveis
  7. Não escrever "on-line" o que não seria capaz de dizer à pessoa cara a cara à pessoa

São regras e princípios elementares mas mesmo assim discutíveis, até porque existe um um princípio geral que é o de que "quem cria regras limita". Mas convenhamos que existem situações perfeitamente insuportáveis para quem cria os blogs e que urge pôr a casa em ordem. Afinal, quem entra no meu blog é como se entrasse em minha casa, e em minha casa tenho o direito de instituir regras de convivência.

Ciente de que qualquer coisa tem de ser feita, iniciei desde hoje a minha adesão ao Código de Conduta Bloguista proposto, limitando o acesso de comentários no "CONVERSAR EM PENICHE" aos que se identifiquem por e-mail. Sei que isto irá limitar o número dos que participarão. Mas que diabo, quem não se quer identificar, também não está interessado em conversar. Quer é chicana. E para isso há melhores locais.

segunda-feira, abril 16, 2007

A IDADE DA INOCÊNCIA
Vivi sem interrupção até aos 16 anos em Peniche. Que me recorde este viver teve umas breves incursões de férias na Atouguia da Baleia e uma ou outra ida aqui ou ali com o meu pai. Os meus amigos foram ao longo destes 16 anos o pessoal da minha rua, os da rua “lá de trás”, o pessoal que frequentava o Jardim e o Clube, e depois sucessivamente os meus colegas da escola primária, da Admissão, do Ciclo Preparatório e todos os da Escola Industrial e Comercial de Peniche. Aos leitores que parecer que todos é muitos, recordo que aos 9 anos quando entrei para a Escola na fábrica do Alemão (o tal alemão que era avô do Herman José), éramos cerca de 120 alunos e quando saí da Escola Industrial aos 16 anos, não passávamos de 300 alunos.
Nesse tempo Peniche não passava de um bocado de terreno com umas quantas casas, todos os habitantes se conheciam uns aos outros e estava fora de causa entre ao jovens e adolescentes, cruzarmo-nos uns pelos outros sem uma saudação (Óiiiii!) ou sem uma “pedrada”. A distância entres as duas coisas era se pertencíamos à mesma “companhia” ou a “companhias adversárias”. Nunca éramos indiferentes uns aos outros. Tornávamo-nos adultos gradualmente. Uns mais cedo que outros. Alguns de nós acabavam cedo a “Primária” e cedo começavam a lidar na vida dos seus pais e avós. O Mar tornava-se a sua casa e a Ribeira o seu Encarregado de Educação. Só os víamos aos domingos no futebol e os nossos Óiiiis, tornavam-se lamentos pela perda.
Outros acabavam a Escola Industrial e iam para as Oficinas Gerais de Material Aeronáutico em Alverca, ou para a Casa Hipólito em Torres Vedras, ou para a Sorefame, para a Siderurgia no Seixal e nesses locais de culto da nossa incipiente indústria Nacional, aprendiam a desmamar-se de Peniche e a tornarem-se cidadãos do pequenino mundo português.
Uma pequena minoria continuava a estudar e a sua independência era mais demorada e menos dura. Teriam de passar alguns anos e com a vida militar nasciam então para um novo estatuto mais adulto. A Inspecção era o reencontro de todos. E aí era o choque. Muitos reencontravam-se pela primeira vez depois da saída da escola primária. Para além de tantos sentimentos que se cruzavam naquele dia, chegava a haver alguma vergonha por alguns de nós se terem tornado adultos tão cedo, enquanto outros permaneciam protegidos do passar dos anos e da dureza da vida.
…Agora passados mais de cinquenta anos sobre isto tudo, é possível encontrarmo-nos sem nos cumprimentar-mos. Por onde se perderam aqueles Óiiiiiiiiiis? Em que percurso, em que guerra, em que partilha ficou aquela costela penicheira que nos aproximava uns dos outros?
Porque é que teve de ser assim? Porque não ficou o encantamento que era a gente reconhecer-se no Niassa quando partíamos para uma guerra que não era nossa.
Porque não resta aquela noite de boémia dos bares de Luanda ou de Nampula…
Ou a alegria que era irmos todos em excursão para ver o Peniche jogar em festa contra o Sintrense ou o Olhanense…
Hoje muitos de nós somos indiferentes uns aos outros. O que ganhámos com isso? Tornámo-nos melhores? Não o creio. Só sei que não sei, onde ficou a nossa inocência. Onde a sepultámos. E porque nos continua a faltar força e coragem para a fazer renascer.

domingo, abril 15, 2007

FAZ TÃO BEM AO EGO
ler notícias assim nos jornais sobre a minha terra...

sábado, abril 14, 2007

RECORDAÇÕES
Aqui, neste sítio das coisas, escrevi há uns dias “Escola do Filtro”. Ficou a martelar em mim esta expressão. Há cinquenta e muitos anos a escola do Filtro, trazia recordações de um tempo em que a palavra “tracoma” tinha lugar. Tracoma=aspereza da pálpebra. Doença infecciosa, grave, dos olhos; conjuntivite granulosa. A escola do filtro era a Escola para onde eram deslocados os alunos da Vila de Peniche que sofriam de tracoma. Esta, grassava de tal modo que havia um centro de tratamento numa casa com a fachada de arte nova, na Rua Marechal Gomes Freire de Andrade, traseiras do Matadouro Municipal. A Escola do Filtro era também a escola do pessoal de Peniche de Cima. Foi a Escola da Anita, a minha mulher. Foi a Escola em que desejei que a minha filha andasse. Foi onde desenvolveu o gosto pela leitura, pela matemática e pelo estudo em geral. Foi uma escola onde aprendeu a crescer, mercê, duma professora maravilhosa, de colegas lindos, e do ar da Papôa e do Quebrado. A Escola do Filtro, está em obras. Quando as obras terminarem é meu desejo que as recordações que enchem aquelas paredes, não se desvaneçam. A Escola do Filtro é só uma. Aquela e mais nenhuma!

quinta-feira, abril 12, 2007

HISTÓRIAS QUE EU OUVI
O Velho, o Rapaz e o Burro
O Mundo ralha de tudo,
Tenha ou não tenha razão,
Quero contar uma história
Em prova desta asserção.
Partia um velho campónio
Do seu monte ao povoado,
Levava um neto que tinha
No seu burrinho montado:
Encontra uns homens que dizem:
"Olha aquela que tal é!
Montado o rapaz que é forte,
E o velho trôpego a pé."
"Tapemos a boca ao mundo",
O velho disse: "Rapaz,
Desde do burro, qu'eu monto,
E vem caminhando atrás."
Monta-se, mas dizer ouve:
"Que patetice tão rata!
O tamanhão de burrinho,
E o pobre pequeno à pata."
"Eu me apeio", diz prudente
O velho de boa-fé,
"Vá o burro sem carrego,
E vamos ambos a pé." Apeiam-se, e outros lhe dizem:
"Toleirões, calcando lama!
De que lhes serve o burrinho?
Dormem com ele na cama?"
"Rapaz", diz o bom do velho,
"Se de irmos a pé murmuram,
Ambos no burro montemos,
A ver se inda nos censuram".
Montam, mas ouvem de um lado:
"Apeiem-se, almas de breu,
Querem matar o burrinho?
Aposto que não é seu."
"Vamos ao chão", diz o velho,
"Já não sei qu'ei-de fazer!
O mundo está de tal sorte,
Que se não pode entender.
É mau se monto no burro,
Se o rapaz monta, mau é,
Se ambos montamos, é mau,
E é mau se vamos a pé:
De tudo me têm ralhado,
Agora que mais me resta?
Peguemos no burro às costas,
Façamos inda mais esta."
Pegam no burro: o bom velho
Pelas mãos o ergue do chão,
Pega-lhe o rapaz nas pernas,
E assim caminhando vão.
"Olhem dois loucos varridos!",
Ouvem com grande sussurro,
"Fazendo mundo às avessas,
Tornados burros do burro!"
O velho então pára e exclama:
"Do qu'observo me confundo!
Por mais qu'a gente se mate
Nunca tapa a boca ao mundo.
Rapaz, vamos como dantes,
Sirvam-nos estas lições;
É mais que tolo quem dá
Ao mundo satisfações."
Nota: Desenho dos alunos da EB1 de Ceto (Resende)

terça-feira, abril 10, 2007

O BOATO
É como o HIV/SIDA. Ataca todos por igual. De forma insidiosa. Estúpido e maldoso. Nem precisa de ser lançado de forma inteligente. Às vezes quanto mais pobre de argumentos, melhor. É utilizado como arma de arremesso. Quando falham todas as outras maneiras de denegrir uma imagem, uma ideia ou uma causa, lança-se o “BOATO”. De forma sub-reptícia. Basta uma “dica” dada na altura certa, à pessoa certa.
“- Disseram-me e pediram-me segredo que... Até me custa a acreditar. Mas parece que é verdade.” Essa pessoa diz a outra, que diz a outro e a história à medida que vai caminhando, vai ganhando novos contornos. Tal qual como o vírus que ao propagar-se ganha novas características, tornando cada vez mais difícil o seu combate.
O último “BOATO” de que tive conhecimento de tão estúpido até impressiona. Mas chegou ao meu conhecimento de forma dita tão naturalmente que até fiquei “abananado”. Aí vai ele: “Um anexo que foi colocado na Escola do Alemão, é o posto de vendas da empresa que ao lado está a construir um novo empreendimento de que aqui já falei”. Sic. Esta não lembraria ao diabo. Mas lembrou a alguém. Não tive dúvidas da razão da colocação daquele pré-fabricado. Estando a Escola do Filtro em obras e tendo sido colocados os seus alunos provisoriamente na Escola do Alemão, teria sido necessário aumentar a capacidade desta Escola. Confirmei a veracidade do que pensava ter acontecido. Desmenti o BOATO com a veemência que me é habitual, e que aqueles que contactam comigo bem conhecem.
Pedi aos serviços de Educação que colocassem no tal pavilhão uma informação sobre a sua utilidade. Mais uma vez não basta ir às actas da Câmara. Esta precisa de informar para se precaver. E os munícipes não têm que correr atrás das actas. Têm de ser informados e ponto final. O melhor antídoto contra o boato é uma informação eficaz. Sobre isso não tenho que dar lições aos que neste momento estão na Câmara. São especialistas na matéria.

segunda-feira, abril 09, 2007

O que se escreve... lê-se
O que se diz... ouve-se
O que se faz, vê-se!
Provérbio chinês

sexta-feira, abril 06, 2007

A LÍNGUA PORTUGUESA EM PENICHE

NO SEU MELHOR...

PS:

quinta-feira, abril 05, 2007

O PADRE BASTOS
Quem viu o programa da SIC sobre a atribuição de prémios relativos a 2006 e, viu e ouviu o Herman José, reteve a história que ele contou sobre uma conversa com o seu primeiro encenador, em que este lhe disse que "só são verdadeiramente importantes as pessoas de quem se diz bem e... mal".
O Padre Bastos é uma dessas pessoas. Controverso qb. Teimoso até dizer chega. Com uma fé inabalável. Mas é ele.
Hoje a Igreja celebra a instituição do sacerdócio. Ele celebra este dia como se do seu aniversário se tratasse. Eu recordo aqui o amigo. O Homem que ajudou como poucos a transformar esta terra. Recordo aqui o meu padrinho. Que estimo e procuro merecer à minha maneira. Não lhe conto mentiras. Nem o adulo. Respeito-o. É isso que ele merece.

quarta-feira, abril 04, 2007

MARIA CAETANA ROSA LUIZ
Ao receber a última "Voz do Mar" fui surpreendida com a morte da D. Maria, nome pelo qual sempre a conheci. Em jeito de homenagem deixo aqui o meu testemunho pela Mulher que tive a honra de conhecer, poder admirar e que acabou por se tornar uma minha amiga e da minha família.

D. Maria : A mulher Coragem

Conheci pessoas fantásticas enquanto estive na Câmara. Mas a D. Maria é um caso à parte. Curiosamente nem sequer sei o seu apelido. A D. Maria mora na Carqueja. É uma das localidades do nosso Concelho que é atravessada pela fronteira invisível que separa Peniche e Lourinhã.
A D. Maria não sabe ler nem escrever. É uma espécie de regedora da sua localidade. Não há assunto que escape à sua argúcia ou à sua tenacidade e empenho. È uma matriarca na verdadeira acepção da palavra. À sua volta juntam-se amigos e vizinhos, família e mesmo os que não gostam dela têm o cuidado de não levar as coisas longe demais.
A D. Maria é uma mulher de armas. Uma padeira de Aljubarrota. Mulher de condição modesta na sua essência, luta pelas coisas em que acredita como ninguém. A Associação é a sua menina dos olhos. O nicho do Santo Padroeiro no Largo da aldeia, o seu sorriso. O caminho de acesso à localidade, o seu maior pesadelo.
A casa da D. Maria è um regresso aos nossos sonhos de criança. A típica casa de campo de há muitos anos atrás. As alfaias agrícolas, as capoeiras com as galinhas, os coelhos, os netos e netas. Os filhos à sua volta. Ali à vida. Aquela vida que já não se encontra nas nossas cidades e vilas. Ali, em casa da D. Maria não entrou a Comunidade Europeia. As pevides ainda são pevides e a fruta sabe a fruta. Ali os porcos são tratados como se fossem pessoas da família e, mesmo no dia em que um terá a honra de ser sacrificado, tem direito a uma conversa especial para não se assustar no momento do fado se cumprir.
A D. Maria não aspira a cargos públicos ou políticos. Só quer ser útil à comunidade em que vive e tem um grande amor pela sua aldeia. Para poder vir a Peniche tem de fazer longas caminhadas a pé, porque os transportes públicos não chegam lá.
A D. Maria quando fala é para ser ouvida com respeito e atenção. Não merece a pena dizer que sim só por dizer. Quando se diz que sim mais vale fazer. Porque não nos livramos dela enquanto o sim não tiver um ponto final.
Foi para mim uma honra ter conhecido a D. Maria. E a sua família. E os seus amigos e amigas. Adorei os ovos das suas galinhas. Eu, a minha mulher e a minha filha ficámos com uma dívida de gratidão para consigo. Pelo exemplo de humanismo que nos deu. Pela determinação que nos ensinou. Até sempre D. Maria. Mulher grande do meu concelho. Mulher coragem.

terça-feira, abril 03, 2007

ESTOU FURIOSO
Mais de um mês já passou e as obras na Ponte Velha continuam sem fim à vista.

O respeito que a edilidade tem por mim enquanto cidadão, é nenhum. Eu devo ser informado porque é que um caminho público que utilizo regularmente me foi interdito. Eu tenho o direito de saber por quanto tempo é previsível que as obras se mantenham.
Peniche tornou-se uma terra sem gente que se indigne. Hoje somos um povo cinzentão e sem capacidade de exigir. Cada vez mais nos habituamos a esta “doce paz podre” boa para os políticos no poder que no imediato colhe sem oposição, mas que no futuro acabará por ser sinal da sua insolvência. Julgo que as pessoas que estão na política pensam que esta é uma boa forma de governar. Sem que os critiquem, sem que sejam exigentes com eles, sem que lhes peçam contas do que andam a fazer. Sabe-lhes bem esta apatia e sonolência. Só que o futuro se encarregará de lhes mostrar, ou aos que lhe sucederem que a morte lenta é a pior das mortes.

Reparem na capacidade de mobilização que vemos por esse país fora, quando se “toca” em valores que as populações consideram invioláveis e o que acontece em Peniche (Concelho).
Somos cada vez mais um povo ao sabor do vento (das marés) e sem capacidade de resposta em relação aos que nos atropelam valores e direitos mínimos.

segunda-feira, abril 02, 2007

Histórias lindas da minha terra
Um destes dias encontrei um antigo colega de escola que muito prezo. Falámos do seu trabalho, do meu dia-a-dia e de muitas outras coisas que as conversas compridas vão permitindo.
A certa altura disse-me que na Argentina os meus “escreveres” e os da Luísa Inês eram acompanhados com especial atenção. E contou-me então uma história linda que passo a transcrever pela maravilhosa mensagem que encerra de calor humano e respeito por valores e memórias...
Um nosso conterrâneo nascido em Geraldes em 10 de Março de 1905 (vão fazer agora 100 anos), Isidro da Costa Campos, trabalhador rural e pescador, emigrou para a Argentina em 1928. Por lá casou com uma senhora de Zamora emigrante como ele e dessa união vieram a nascer dois filhos.
O nosso conterrâneo, dedicou a sua actividade à vida do mar e veio a falecer com apenas 48 anos num acidente a bordo dum cargueiro. Os filhos do Isidro e de Maria, foram educados de forma a não esquecerem nunca as suas raízes familiares e as nações que lhes deram origem, Portugal e Espanha.
O seu familiar e meu amigo (sobrinho do emigrante Argentino), ao tomar conhecimento desta diáspora deste ramo da família, decidiu deslocar-se à Argentina e tentar encontrá-los o que veio a acontecer. Tinha morrido o Isidro e a esposa, sendo vivos os dois filhos do casal, Hector e Osvaldo. Ao entrar em casa dos primos (casa que tinha sido dos seus pais), o meu amigo deparou com as fotografias dos avós que também lhe eram comuns e do seu tia e esposa. Mas o que verdadeiramente o fez ficar chocado e arrepiado até ao mais íntimo de si próprio, foi ver uma bandeira portuguesa e uma guitarra portuguesa que o seu tio tinha transportado consigo quando em 1928 foi para a Argentina. A guitarra só tinha 3 cordas, porque achavam os filhos daquele nosso conterrâneo só em Portugal deveria ser cordoada.
Estabeleceu-se uma corrente fraterna que veio depois a ser consumada, com a visita do ramo argentino da família do meu amigo a Geraldes e à aldeia Zamorana de Badilla. Para que se perpetuem as memórias, os filhos fizeram-se acompanhar das cinzas do pai e da mãe que ficaram depositadas em Geraldes e em Badilla.
Ao ouvir este relato, senti-me feliz por um nosso conterrâneo ter conseguido transmitir aos seus filhos esta capacidade de amor representada nos símbolos que guardaram e veneraram. A bandeira pátria de seu pai o símbolo maior da alma portuguesa atravessou o Atlântico e continua vivo e perene no coração dos filhos daquele Homem grande que por ser meu conterrâneo eu daqui me curvo ante a sua memória.
A guitarra, dedilhar do seu coração junto da sua família argentina, foi a lição de saudade que só o fado interpreta e que ele soube reproduzir para sempre nos seus filhos quando estes afirmam: - afinar e as restantes cordas, só em Portugal! São estas as histórias que hão-de perdurar na minha terra. É este sentimento de ser filho de uma terra e não a esquecer mais que vale a pena transmitir de pais para filhos. Por todos os que são capazes de transmitir amor e memórias.