Num destes últimos dias o Miguel Esteves Cardoso escreveu uma crónica que eu fui buscar para publicar neste tempo de excitação que vivemos...
É um apelo aos valores mais nobres do ser humano. Àquilo que de melhor somos capazes de encontrar nos que passam na vida ao nosso lado e que importa guardar. É uma recusa do ódio e de mensagens tolas e espúrias. Que os que já leram e agora releem, que os lerem pela 1ª vez, se sintam tão gratificados como eu me senti:
"Amigos ausentes (in “Público)
Miguel Esteves Cardoso
26/08/2015 - 00:41
Custa
mais perder os amigos que se perderam vivos do que aqueles que se perderam por
terem morrido. Mentira: com os amigos que morreram nunca podemos fazer as
pazes. Nunca nos zangámos com eles: morreram em paz connosco, fazendo-nos doer
mais.
A amizade é um gosto. A verdadeira amizade é um acto
de egoísmo: podemos ajudar os nossos amigos, mas do que mais gostamos é deles.
Até podemos não gostar de estarmos sempre com eles. Mas gostamos sempre de
gostar deles. E, sobretudo, gostamos e precisamos que eles e elas gostem de
nós.
A
amizade é superior ao amor. O amor é exigente e guloso: precisa sempre da
presença de quem se ama. O amor é ciumento e histérico. A amizade é leal,
constante e enfaticamente tão empática como irresistivelmente simpática.
O
amor — por muito romântico que seja — é sexualmente doido. É muito mais físico
e concreto do que a amizade. Na amizade, por exemplo, ocorrem, de vez em
quando, com ou sem um excesso de álcool, abraços que, depois de dados, se
revelam como inteiramente desnecessários e embaraçosos.
Ser
e ter amigos é capaz de ser a maior e mais alegre ambição que se pode ter.
Confunde muito o facto de "amigo" e "amor" partilharem as
duas primeiras letras, para não falar naqueles sugestivos ós que também lá
estão.
Quem
tem sorte de encontrar um amor nunca passa, graças a Deus, daquele.
Já
os amigos e as amigas podem ascender, milagrosamente, a dois, três, quatro ou
mesmo cinco, caso se tenha azar ou má memória."