domingo, abril 28, 2019



 SEMENTES DA DEMOCRACIA
Na sequência das actividades desenvolvidas em Peniche, a propósito das comemorações do 45º aniversário do golpe militar do 25 de Abril e da reconversão da Fortaleza em Museu Nacional da Resistência e Liberdade, a Patrimonium organizou um encontro de pessoas para conversarem sobre o que foram os momentos de agitação Democrática que se viveram em Peniche entre 1962 e 1974. Foram muitos os momentos altos destas lutas. Enumerar um entre tantos é um pouco injusto.
Acontece no entanto que alguns dos presentes referenciaram a tarde de “Baladas e Poesia” como uma das actividades que mais os marcaram e que existem alguns amigos que ainda hoje citam excertos de alguns poemas ditos em circunstâncias particulares. Para memória futura fica aqui o folheto que anunciava a sessão e 2 poemas ditos então.
No que diz respeito ao folheto a referência à venda de bilhetes na loja “Traviata” é um pormenor significativo para quem conhecia Peniche daquela época.   


José Carlos Vasconcelos
 FOME
Somos uma pátria de fome
com esse ou outro nome
 
Seu latifúndio é ancestral
A fome já tem netos  bisnetos  tetranetos
 
- uma família que é a maior de Portugal
 
A fome não pode ser excepção
E como nos cartazes snis
é  muito colorida
há de ter a sua cor por a(c)ção
 
Uma senhora respondeu-me uma vez
(juro pelas alminhas que é verdade)
«se não fosse a fome    a miséria
se não houvesse os pobres    coitadinhos
que ia ser da caridade?»
 
Isto agora fia mais fino
A fome já tem aviões   foguetões
      leite em pó e muitas    condecorações
            para chegar ao seu destino
 
No ar está esculpida
No ar que não se respira
 
Edital para afixar
nos locais do costume
A fome dedeve ser muito agradecida
à indústria à lavoura e ao comércio
que a não deixam morrer de fome
para lhes aguentar a vida
 
A fome tem seus funcionários
seus protectores    seus profissionais
 
seus abades    muito paralelos
e suas madamas   muito horizontais
 
e vão revestir-se de grande brilho
as comemorações do seu milénio
a que se dignam assistir
as autoridades oficiais
 
Se à fome dessem
tudo o que há fome roubaram
a fome faria uma fundação
muito maior que a Gulbenkian
 
- para ajudar os ricos desprotegidos…
 
A fome      de tão  atanazada
até já anda de roda
 
Mas qualquer dia dá um estoiro
que rebenta com o oiro
desta merda toda
 
SAPE   SAPE   LAGARTOS
O tal fez uma conferência
em que de tal jeito
se casaram a forma e o conceito
que foi essencial     sua essência
e sempre em dó de peito
 
O tal fez um discurso
tão florido e tão floreado
que no final até um urso
bateu palmas com o rabo
 
                                   Sape    sape lagartos
                                   torpes tipos tortos
                                   venerandos mortos
                                   estamos fartos   estamos fartos
 
Não é com demagogia falsa
nem com novas proposições
que se resolvem as questões
Ordem aos patrões
continuar a dançar a valsa
 
Está-se a fazer um esforço
a favor dos trabalhadores
a prestações muito suaves
e sem prejuízo dos proprietários
pois se não haveria greves
inconvenientes e tumultos vários
 
                                     Sape    sape lagartos
                                   torpes tipos tortos
venerandos mortos
estamos fartos    estamos fartos
 
É preciso prudência    piedade
juizinho e muita resignação
quando chegardes à nossa idade
vereis que temos razão
 
É preciso manter a união
de todos sem execepção
e todos serão bem acolhidos
bem tratados e bem nutridos
sob… nossa orientação
 
                                   Sape   sape lagartos
torpes tipos tortos
venerandos mortos
estamos fartos    estamos fartos
 
Cuidadinho   cuidadinho
nessas coisas não te metas
só meia dúzia de patetas
se preocupam com o vizinho
 
Come o teu pão   Bebe o teu vinho
Arranja uma mulher
Faz os filhos que Deus quizer
e segue o teu caminho
 
                                   Sape   sape lagartos
torpes tipos tortos
venerandos mortos
estamos fartos    estamos fartos
 
Somos todos      todos iguais
Ricos e pobres   negros e brancos
Só que uns calçam sapatos
E outros calçam tamancos
Somos todos    todos iguais
Só que há uns mais iguais
Do que outros
 
                                   Sape   sape lagartos
torpes tipos tortos
venerandos mortos
estamos fartos    estamos fartos
 
 
Uns pouco conhecidos agitadores
arrastam muitos   muitos
de boa fé
(logo os muitos são burros
e os Senhores também
que não arrastam ninguém
- pois é)
 
Pois é   Pois é
excelências   reverências
indecências  subserviências
falências    insolvências
superpotências
intransigências    transferências
in  ter  fe  rên  cias
excelências   reverências
 
                                     Sape   sape lagartos
torpes tipos tortos
venerandos mortos
estamos fartos    estamos fartos
 
estamos fartos
 
ESTAMOS FARTOS
 

sexta-feira, abril 26, 2019


VÃO LÁ 55 ANOS

Nos idos de 60 do século passado tive a alegria de receber na Associação Recreativa Penichense o Dr. Jorge Sampaio que veio moderar um debate sobre RACISMO, organizado pelo CICARP em 1968. Eu conhecia-o desde os tempos das RIA (Reuniões Inter Associações) dos tempos das lutas académicas de 1962.

Ontem vi o Dr. Jorge Sampaio, revi o companheiro de lutas, o intelectual nobre, o Digno Presidente da República. E fiquei a pensar que 55 anos marcaram todos nós.

Revi o meu colega do IIL Álvaro Pato, jovem estudante e companheiro da Associação de Estudantes. Recordei o funeral da sua mão, Albina Pato, assassinada de forma directa e indirecta pela PIDE/DGS. O abraço que trocámos foi para recordar sem palavras tudo o que ficou para trás.

Revi a Conceição Matos Abrantes, que conheci aqui em Peniche nos tempos da Húmus e os 2 recordámos tantos que tanto deram no apoio aos familiares dos presos políticos. E uma lágrima saltitou quando ela me falou do Zé Rosa.

Ontem na Fortaleza vi andar para trás o filme da minha vida sócio/política. Recordei com amigos daquele tempo a Taurina Zuzarte na República da Guiné-Bissau, os 2 cooperantes pós 25 de Novembro.

Terminado o descerramento do Mural vim-me embora. Aquele palco já não era o meu. Era dos políticos e de quem precisava de se mostrar. Eu já tinha encontrado os meus fantasmas e sobressaindo de todos tinha visto o meu avô, Benjamim Costa, que ali foi preso em 1927 depois do golpe contra a I República e que veio a instituir o odiado Estado Novo de odienta memória.   

   

quarta-feira, abril 24, 2019


QUEM É QUEM?



FESTIVAL «AMIGOS DE PENICHE» - PIRATAS E CORSÁRIOS

In “GRANDE DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA” de José Pedro Machado

Piratas – Pessoa que cruza os mares para roubar || Aquele que enriqueça à custa de outrem por exacções violentas || Velhaco, manhoso || Homem sem escrúpulos, de má índole;. pirata se chama desde o simples descarado até ao burlão de vulto ou gatuno de alto bordo.

Corsários – Navio armado por particulares, com autorização do governo, para dar caça às embarcações mercantes de uma nação inimiga; navio armado por piratas || O capitão desse navio; homem que anda a corso. || Pirata, bucaneiro. || Brejeiro, maroto. || o m. q. patife || Pasquim, jornal difamatório.

In leitura que acompanha o cartaz sobre o evento no site da CMP:

No âmbito da comemoração dos 430 anos do desembarque inglês em Peniche, no ano 1589, o Forte das Cabanas e a Ribeira Velha serão palco da primeira edição do Festival Amigos de Peniche, este ano dedicado à temática "Piratas e Corsários". Entre os dias 3 e 5 de maio será possível desfrutar de muita animação no Mercado Quinhentista, teatro, recriação do desembarque inglês, visitas à Caravela Vera Cruz, concertos com bandas locais e acampamento militar à época.

O Festival «Amigos de Peniche» – Piratas e Corsários resulta de uma coorganização entre a Câmara Municipal de Peniche e a associação PATRIMONIUM – Centro de Estudos e Defesa do Património da Região de Peniche. Trata-se de um evento inspirado no episódio da História que, injustamente, deu origem à expressão “Amigo de Peniche”. No contexto da União Ibérica, entre 1580 e 1640, e da Guerra que opunha Inglaterra e Espanha, a expedição inglesa comandada por Francis Drake e John Norris foi enviada pela rainha Isabel I de Inglaterra, com os objetivos de destruir o poderio naval da Invencível Armada e apoiar D. António Prior do Crato na revolta contra o domínio espanhol, a fim de restaurar a independência de Portugal. Os soldados desembarcados em Peniche eram aguardados em Lisboa para concretizar uma operação militar que iria restaurar a independência do reino, contudo, pelo caminho, saquearam as populações e nunca chegaram a cumprir o acordo estabelecido.
Aqui pelo Blog…

Estamos embaraçados. Onde está o Barba Negra? Estará o Capitão Jack Sparrow acolitado na Berlenga Grande? Amigos de Peniche casa com Piratas&Corsários?

Convenhamos que o tema é apelativo. Que os Ingleses são uma cambada de piratas não duvido. Que os franceses não lhes ficam atrás também não tenho dúvidas. E os portugueses? Os penicheiros? Onde se encaixam? A História de Portugal tem sido contada de forma a fazer de cada um de nós um HERÓI e dos outros corsários. Mas será mesmo assim?

Quem desenvolveu a escravatura a níveis impensáveis? Quem submeteu povos e civilizações mais desenvolvidas que a nossa a farsas incontáveis? D. João II foi exemplar? E D. Manuel I?

Correndo o risco de me tornar um Penicheiro odiado e um portugês pouco conveniente digo que se as tropas inglesas só aqui desembarcaram e cometeram vilanias com o apoio do reino de Portugal.

No século XXI é altura de desmistificarmos a ideia de que nós somos os bonzinhos e os outros são “Piratas&Corsários”. Bem vistas as coisa ele há por aqui cada pirata…

Honra seja feita ao programa da Festa. É bonita e está bem conseguida.  

segunda-feira, abril 22, 2019


A CAMINHO DE…

45 anos do 25 de Abril. Com celebrações que para muitos portugueses parecem estranhas. Nomeadamente aqueles com menos de 25/30 anos.

É difícil imaginar um país sem Internet. Sem telemóveis. Um país em que para se ter isqueiro é necessário pagar uma licença. Um país com colónias onde se vai para matar e ser morto. Defender na Índia a integridade territorial de Portugal. Como é que se imagina isto? Como se imagina que dizer que o António Costa é “aldrabão” pode ser suficiente para se ser preso? Que era impossível escrever as nossas opiniões quando discordávamos do Governo? Que um jornal como o “O Correio da Manhã” nunca veria a luz do dia por interdição da Censura. Que 75% dos programas das TVs seriam de todo impraticáveis.

Como imaginar um funcionário sindical chegar a Presidente da Câmara? E por aí fora…

Hoje como se explica aos jovens como se vivia antes do 26 de Abril. Alguns pais e avós fizeram os possíveis por esquecer o que era a sua vida nesse tempo. Outros não se lembram mesmo porque a memória é a primeira coisa que desaparece quando associada a coisas desagradáveis.

Eu desafiaria professores de Língua Portuguesa da Escolas do 2º, 3º ciclos e Secundário a pedirem fotocópias do jornal local nos anos 50 e 60 para perceberem melhor o que era esse tempo. Não existia então 25 de Abril, nem 1º de Maio. Existiam feriados religiosos e pouco mais. O 5 de Outubro não era festejado e nem sei se muitos jovens saberão hoje o seu significado.

Os apoiantes do Salazarismo e do Caetanismo, faziam parte das listas da Acção Nacional Popular, o único partido permitido, e logo a correr vieram a matricular-se no PSD, no PS e no CDS. O pudor impede-me de publicar a última Comissão Concelhia da ANP por dela fazerem parte alguns que ainda hoje estão vivos.

Felizmente que em Peniche/Cidade estes 45 anos serão marcados pela criação de um museu do que foi uma prisão do Estado Novo para que os vindouros consigam saber que merece a pena acarinhar e alimentar a doce semente da Liberdade.

  

sexta-feira, abril 19, 2019

UMA PÁSCOA LINDA E CHEIA DE TERNURA E AMOR

quarta-feira, abril 17, 2019

O QUE MUDOU NO SISTEMA EDUCATIVO PORTUGUÊS EM 50 ANOS
Sem comentários...


domingo, abril 14, 2019


LEGIÃO PORTUGUESA

A Legião Portuguesa (LP) constituiu uma organização nacional, integrando uma milícia, que funcionou durante o período do Estado Novo em Portugal.

A LP era um organismo do Estado, normalmente dependente do Ministério do Interior. Em caso de guerra ou de emergência grave poderia passar para a dependência do ministro da Defesa Nacional.

Podiam pertencer à LP os Portugueses, de ambos os sexos, com mais de 18 anos de idade que tomassem, sob juramento, o compromisso de servir a Nação de harmonia com os intuitos do movimento gerador da organização. Os membros da LP formavam o movimento nacional legionário. Os legionários com instrução militar e fazendo parte das forças da LP constituíam a milícia legionária.

Criada em 1936 com o objetivo de "defender o património espiritual da Nação e combater a ameaça comunista e o anarquismo", a partir da década de 1940 a LP passou a ser essencialmente uma organização de defesa civil. A LP foi extinta no próprio dia do 25 de abril de 1974. In wikipédia

O meu pai começou como mecânico trabalhando para o meu tio-avô José do Rosário Leitão (Zé Baterremos) que tinha uma loja de peixe na Ribeira (A Amiga de Peniche). Passado algum tempo foi trabalhar para o Sr. Manuel Correia. Então, a certa altura (em 1951) decidiu começar a trabalhar por conta própria e alugou um espaço para a oficina na Cerca Andrade, por detrás da Escola nº1. Tratou então dos aspectos legais e é aqui que fica a conhecer uma das facetas do Estado Novo. Para que a oficina possa funcionar legalmente tem de ter autorização da Legião Portuguesa, um dos braços vigilantes do regime instituído por Salazar em 28 de Maio. Das suas exigências dou-vos uma amostragem com os documentos que então foram atingindo o meu pai na sua vontade de se autonomizar profissionalmente. 

 






quarta-feira, abril 10, 2019


VIAGEM NO TEMPO

(A UM TEMPO EM QUE NÃO HAVIA INTERNET NEM TELEMÓVEIS)

Em 1961 fui estudar para Lisboa. Já lá estava há 4 anos o meu irmão. Porque tinha ocorrido uma má experiência com a ida do meu irmão para o Técnico o meu pai decidiu não interferir em nada na minha ida para lá. Onde ia ficar, onde comia, como lavava a roupa e como me deslocava para a Escola teria de ser a minha descoberta. Acresce para que percebam as dificuldades que encontrei que só tinha ido uma vez a Lisboa com o meu pai e a minha mãe. Quando disse ao meu pai que nem sequer sabia como me havia de movimentar para ir à Escola fazer a matrícula e procurar quarto, o meu pai só me disse que perguntasse aos polícias.

E assim foi. De polícia em polícia lá cheguei à escola e consegui arranjar um quarto. Cheguei a Peniche como se fosse um vencedor.

Foi então que o meu pai me disse qual era a condição dele para eu lá estar. Teria de passar de ano. Quando chumbasse acabavam os estudos em Lisboa. Deu-me ainda um conselho, para eu ter um grande controlo sobre o dinheiro que gastava. Ele dava-me dinheiro para o mês e eu teria de pagar tudo o que gastasse desse dinheiro. Faz contabilidade disse-me o meu pai.

Então decidi escrever todo o dinheiro que gastasse, e no fim do mês enviar-lhe a conta corrente das minhas despesas.

Depois do meu pai morrer ao ver as coisas que estavam na secretária dele fui encontrar a minha correspondência para ele desde que saí de casa e entre essas cartas fui encontrar as minhas despesas dos meus primeiros 2 anos de Lisboa. Escolhi aleatoriamente umas quantas para vos mostrar. Isto parece ridículo nos dias de hoje. Pelos valores envolvidos. Pelas despesas efectuadas. Pelo seu relato. Mas são coisas que me ajudaram a crescer como pessoa e me permitiram nunca perder de vista a minha relação com os meus pais e quanto lhes devia. Hoje tudo isto parecerá absurdo. Mas será?






segunda-feira, abril 08, 2019


EM PENICHE 112 ANOS DEPOIS

A publicação é do jornal “O Volante” de 1951 e é um motivo para nos sentirmos felizes.

Nossa terra era em 1907 um destino para alguns dos iniciadores do movimento automóvel em Portugal.

A notícia só por si já é motivo de destaque. A razão objectiva da deslocação da viatura automóvel a Peniche, seria o lançamento da 1ª pedra do sanatório marítimo. Este seria único em Portugal. Tão único que nunca se construiu.

domingo, abril 07, 2019


NO DOMINGO…
Pensamentos de quem não tem nada para fazer








últimas palavras de Cristo aos alentejanos



sexta-feira, abril 05, 2019


 SEM TIRAR NEM PÔR...
(Na sequência da postagem de ontem)
Diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV, na peça teatral Le Diable Rouge, de Antoine Rault:

Colbert: - Ah, sim? Mas como faremos isso, se já criámos todos os impostos imagináveis?
Mazarino: - Criando outros.
Colbert: - Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
Mazarino: - Sim, é impossível.
Colbert: - E sobre os ricos?
Mazarino: - Os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
Colbert: - Então como faremos?
Mazarino: - Colbert! Tu pensas como um queijo, um penico de doente! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres: as que trabalham sonhando enriquecer, e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório inesgotável. É a classe média!
 

 

quinta-feira, abril 04, 2019


GREVES greves greves mais greves E AINDA GREVES

A culpa é do governo. Anuncia êxitos, colhe tempestades. O mostrengo que está no fim do mar, ergueu-se a voar e disse: “A culpa é da geringonça”.

Todos sabemos que para o “bicho-mau”, tudo está mal. Não suporta ter sido cuspido para o caixote de lixo da História. Problema dele. Trata-se com um bom psicanalista.

Se os enfermeiros fazem greve, os médicos não querem ficar atrás. Se os dos impostos se sentem mal, também os militares e os polícias, e os polícias marítimos e os militares e os juízes.

Um destes dias um responsável pela gestão de um agrupamento escolar a propósito da greve dos alunos, dizia: “Haverá algum fechar de olhos em algumas situações, mas acho que eles sabem que têm deveres e que sexta-feira é um dia de aulas”. Reparem no que ele diz, em algumas situações sim. Noutras…

E isto tudo para pedir aos EEs que aceitem as greves dos professores, que não têm deveres, e que estão de dia livre à sexta-feira. Atrás dos professores vêm os alunos e depois os funcionários não docentes. Não satisfeitos com isso, em alguns casos são os próprios pais a fecharem as escolas.

Tudo isto começa a tornar-se cansativo. Deixei de ver tele jornais   na primeira meia hora de emissão. Interditei para mim mesmo os canais de notícias. E nos próximos meses coloquei isso tudo no índex. Enquanto durarem as campanhas eleitorais eu recuso-me para preservar a minha sanidade mental.

terça-feira, abril 02, 2019


CONSTRUIR A FELICIDADE

O meu passatempo favorito é deixar passar o tempo, ter tempo, aproveitar o meu tempo, perder tempo, viver a contratempo.

Françoise Sagan

Nascemos e aprendemos a gatinhar. A primeira vez que nos levantamos é uma vitória perante o mundo de gigantes que víamos de baixo para cima. Aprendemos a correr para os braços dos nossos entes queridos. Balbuciamos as primeiras palavras. Levam-nos a brincar com outros como nós. Depois tudo começa a complicar-se. Gente mais velha quer que saibamos coisas que não nos interessam para nada. Coisas de que gostamos são-nos interditas. Crescemos mais e achamos que sabemos tudo. O que não sabemos é que seria tudo tão difícil. Procuramos um sitio só nosso e para onde levamos alguém com quem julgamos poder ser felizes. Tornamo-nos escravos da sobrevivência e por conseguir coisas que nos fazem bem em cada momento. Tudo isso tem um preço. Que pagamos com o envelhecimento. Até que nos libertamos de tudo o que nos pesa e aprendemos de novo a viver nós com as nossas dependências e com aqueles que acham que sabem o que será melhor para nós. Aprendemos a viver outra vez em função do que nos dão. Ser livre começa a parecer-nos uma Utopia cada vez mais difícil de alcançar. Até que fechamos os olhos e pronto.