SER VELHOQuando o meu avô morreu eu tinha 9 anos. Nessa altura eu achava que ele era um velhinho carinhoso que me tratava muito bem. Ainda hoje guardo a memória dele, sentado na cama (esteve 3 anos sem se poder deitar), com as pernas num tabuleiro feito pelo meu pai, para onde escorria um liquido que lhe saía das pernas.
Era um filatelista assumido, com correspondência com todas as partes do mundo e que o meu irmão arreliava soprando sem ele sentir os selos que secavam em cartões, depois de colocados a soltar em tinas de água que a minha avó mal-disposta lhe alcançava.
Depois fui convivendo com outros velhos. A mãe do meu avô que morreu já perto dos 100 anos, na casa onde mais tarde eu fui morar na Praça Jacob.
Recordo os velhos do Café Aviz e da Oficina de meu pai. Alguns estabeleceram comigo uma grande cumplicidade como o velho Manuel Ferreira. A todos fui ensinado a respeitar e a todos me ligou um grande carinho. Até que de repente desapareceram os velhos. Fui deixando de ouvir falar em velhos e hoje ninguém ousa dizer tamanho “palavrão”. Já não há velhos.
Passou-se de velho, a membro da 3ª idade e daqui a sénior. Velho passou a ser uma obscenidade. Por isso se torna fácil aos filhos libertarem-se dos pais e colocarem-nos em “lares”. Morto um dos pais, é uma inevitabilidade o outro passar para um Centro de Dia e daqui para o Centro do Eterno Repouso.
Tudo começou quando se propagou a “treta” de que velhos são os trapos. Pois se não são velhos que se desunhem. Cuidem eles de si próprios.
Começou por se perder o respeito pelos mais velhos e depois por si próprios. Para isso foram necessários criarem-se eufemísticamente alguns nomes alternativos. E nisso nós portugueses somos hábeis. Com a mesma facilidade com que se passou da PIDE à DGS, passou-se de Velho a Sénior. Os Centros de Dia passaram a designar-se como Universidades e a Morte vai ter a designação de Sistema Transitório.
Apetece-me dizer o que o Vilarinho disse depois das eleições do Benfica.
Era um filatelista assumido, com correspondência com todas as partes do mundo e que o meu irmão arreliava soprando sem ele sentir os selos que secavam em cartões, depois de colocados a soltar em tinas de água que a minha avó mal-disposta lhe alcançava.
Depois fui convivendo com outros velhos. A mãe do meu avô que morreu já perto dos 100 anos, na casa onde mais tarde eu fui morar na Praça Jacob.
Recordo os velhos do Café Aviz e da Oficina de meu pai. Alguns estabeleceram comigo uma grande cumplicidade como o velho Manuel Ferreira. A todos fui ensinado a respeitar e a todos me ligou um grande carinho. Até que de repente desapareceram os velhos. Fui deixando de ouvir falar em velhos e hoje ninguém ousa dizer tamanho “palavrão”. Já não há velhos.
Passou-se de velho, a membro da 3ª idade e daqui a sénior. Velho passou a ser uma obscenidade. Por isso se torna fácil aos filhos libertarem-se dos pais e colocarem-nos em “lares”. Morto um dos pais, é uma inevitabilidade o outro passar para um Centro de Dia e daqui para o Centro do Eterno Repouso.
Tudo começou quando se propagou a “treta” de que velhos são os trapos. Pois se não são velhos que se desunhem. Cuidem eles de si próprios.
Começou por se perder o respeito pelos mais velhos e depois por si próprios. Para isso foram necessários criarem-se eufemísticamente alguns nomes alternativos. E nisso nós portugueses somos hábeis. Com a mesma facilidade com que se passou da PIDE à DGS, passou-se de Velho a Sénior. Os Centros de Dia passaram a designar-se como Universidades e a Morte vai ter a designação de Sistema Transitório.
Apetece-me dizer o que o Vilarinho disse depois das eleições do Benfica.
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