quarta-feira, dezembro 02, 2009

“O SOL SÃO AS CORES MAIS BONITAS QUE HÁ”
Em 8 de Dezembro de 1975 embarquei num voo TAP para a República da Guiné-Bissau como professor cooperante. Durante 2 anos ali me mantive trabalhando na Escola Secundária de Brá (antigo quartel dos comandos) e posteriormente no Liceu Nacional Kwame N’ Krumah em Bissau. Estes dois anos terão de ser objecto das minhas crónicas posteriormente.
O que importa é que deixei 2 procurações em Portugal. Uma conferindo plenos poderes a meu pai para tratar o que fosse necessário e, uma outra, à minha amiga Juju para poder tratar dos meus assuntos a nível do Ministério da Educação. Assim é que em 1977 concorri a estágio profissional de Trabalhos Manuais e fui colocado em Coimbra.
Se é verdade que a cidade não me atraiu já a minha actividade numa área em que nunca tinha desempenhado qualquer actividade foi profundamente motivante.
Em três anos eu tinha passado dum período de lutas fratricidas em Portugal, para um período de dois anos numa ex-colónia à procura do seu espaço próprio, para vir a desembocar numa panóplia de situações multiculturais, com dinâmica extremamente motivadora nos exercícios de desenvolvimento pedagógico-didácticos que o estágio me proporcionava naquela escola, naquela cidade, com colegas de grupo com saberes incomparavelmente superiores aos meus e com orientadores de estágio tão exigentes e tão competentes.
Quando nos desafiaram a procurarmos um tema que fosse aglutinador de todos aqueles parâmetros de aprendizagem, eu relembrando todo o meu percurso no ensino e das etapas culturais e cívicas por onde nos últimos anos tinha deambulado, escolhi o título da minha crónica de hoje.
Claro que linguisticamente a frase encerra incorrecções. Claro que tive que defender perante os orientadores de estágio tais incorrecções. Na altura recordo que quem mais me apoiou foi uma professora/orientadora de Português que posteriormente vim a saber acabou por se doutorar e a leccionar linguística na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Ainda hoje sinto esta frase com o mesmo sabor com que entrei pela primeira vez como professor numa sala de aula. Ou sinto-a nas matas da Guiné num fim de tarde de cavaqueira com amigos Guineenses com quem trabalhava. Ou aquela turma de Alcobaça que me fez sentir pessoa nos laços de amizade que ainda hoje perduram.
O sol são. É tudo o que se pode esperar de uma vida vivida em pleno. Escolhendo a Guiné-Bissau quando outros emigravam para as Américas. As cores mais bonitas que há. E que moram no prazer de escrever. E de ler. E de ouvir música. E de tentar compreender para além do que está exactamente escrito. Estou em paz comigo. Com as minhas opiniões e com as minhas opções. Mesmo que sejam mal compreendidas.

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