sexta-feira, dezembro 04, 2015


REQUIEM PELO CINEMA PARIS

Tenho estado de férias. Os reformados também tiram férias. Eu não sabia mas aprendi à minha custa. Como é que são as férias de um reformado? Eu explico.

Se adoece ainda faz menos do que aquilo que já não fazia. Se fica sem internet o reformado tira mais que fazer ao já não fazer “nadica” de nada. Nestes momentos de férias o reformado dorme de dia e à noite não tem sono. Quando chega o Natal, a decoração do “lar doce lar” ocupa os momentos já tão expressivos de lazer continuado.

Foi num momento de férias assim que a notícia me fez entrar em ebulição e me trouxe os meus dias de Campo de Ourique e da Estrela. O cinema Paris, ali na Domingos Sequeira, vai ser demolido.



Regressei aos meus 16/17 anos aluno da Machado de Castro e posteriormente do Instituto Industrial. Aos meus quartos alugados naqueles bairros tão semelhantes a Peniche. Às minhas tardes de domingo no Jardim da Estrela. Às milhares de vezes que passei junto ao Paris para ir para as aulas ou quando vinha delas e ía para casa. As dezenas (centenas?) de vezes que comprei bilhete e numa gazeta às aulas, fazia do Paris a minha Formação para a cidadania. Eu, o Jorge Machado, o Joseph. O meu afilhado Luís. O Zé Maria Martiniano. O Zé Puto. E tantos e tantos outros.

O Paris interrompeu-me as férias por tudo aquilo que representou (e representa para mim). Campo de Ourique sem o Paris, sem o “Vergas”, sem as tascas, sem o Jardim da Parada ou a Basílica é impensável para mim.

Estou a ficar irremediavelmente velho. As coisas que me ajudaram a crescer vão desaparecendo, tal como as pessoas. Eu vou restando. Nesta roleta da vida ainda não saiu o meu número. Sabe-se lá porquê. Por isso posso ainda escrever sobre as minhas memórias. E sabe-me bem fazê-lo. Mesmo que esteja de férias.  

Sem comentários: