terça-feira, março 20, 2018


O NOSSO PATRIMÓNIO

in memoriam de Arq. Cristina Salvador

Felizmente que hoje o âmbito da palavra património já ultrapassou o dos edificados mais ou menos grandiloquentes. A tradição oral, o artesanato, a música e o estar social já são considerados também neste domínio. É claro que Peniche é particularmente pouco sensível nesta matéria. Desde logo do ponto de vista natural, pois tem sido vitima de atentados nojentos ao património natural com que fomos dotados. Depois em relação áquilo que representa a identidade dos seus habitantes, da sua forma de vida, do seu habitat, e das suas respostas à necessidade de sobrevivência.

Assim é que entre outros casos os mais gritantes de todos serão o desaparecimento da indústria conserveira na nossa memória colectiva e o cemitério das rendas de bilros em que se converteu o dito “Museu das Rendas de Bilros”. Mas isto é matéria para outras conversas.

Hoje venho tão só àquilo que se passou a designar o Centro Histórico da Cidade de Peniche e que de forma estruturada foi desenvolvida pela Arquitecta Cristina Salvador, constituindo ainda hoje a única referência consolidada para abordagem do que constitui o edificado desta zona da Cidade. Não sem que de vez em quando se cometam atropelos às propostas de estudo apresentadas pela pessoa que melhor estudou o assunto de forma sistémica.

Um exemplo claro do que não deveria ser feito é o que a pouco e pouco tem descaracterizado um prédio que pertenceu à família da sra. Arquitecta e que constitui um dos poucos exemplares de Arte Nova em Peniche. Inicialmente com toda uma caixilharia em madeira, a pouco e pouco foi sendo substituída por caixilharia de alumínio que transformou aquele prédio numa modernice ordinária e execranda. Aliás recordo de ter acompanhado a Cristina numa visita guiada às últimas tabernas da Cidade e termos conversado sobre este crime tão corrente em Peniche: - recuperar o antigo com materiais modernos e sem critério, conduzindo essas recuperações a mamarrachos sem qualquer futuro para a nossa memória.  





 

 

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