segunda-feira, julho 23, 2018


OS MAIAS

Existirão pessoas muito mais habilitadas que eu para aferirem da importância da Leitura do Livro de Eça de Queiroz pelos jovens do Secundário.

Outros referirão da importância do Latim. Outros ainda da História contemporânea.

Eu próprio sublinharia da importância do estudo da Geometria Descritiva nos anos terminais do Secundário.

Esta questão de alterar programas é velha e tem barbas. Já o meu pai se queixava de que em relação à “sua Escola Primária” eu era um perfeito ignorante. De facto o que o meu pai estudava em Matemática e Português/História/Ciências Naturais, na sua 5ª e 6ª Classe, fazia de nós alunos do 2º Ciclo do Estado Novo completamente iletrados.

Recordo de alguma coisa que foi retirado dos programas da “minha” Escola Primária que me fez rejubilar. Refiro-me às linhas de Caminho de Ferro e ramais. Rios e afluentes nas ditas “províncias Ultramarinas”.

A partir do 25 de Abril alterar programas tornou-se moda. Muda Ministro, muda programa. Houve alguma estabilidade com a Reforma do Veiga Simão mas a verdade é que já ninguém se entendia. Os livros de leitura obrigatória foram mudando ao sabor das correntes mais ou menos liberais que infestavam o Ministério da Educação. Esses livros e as alterações a objectivos a atingir pelos alunos tornaram-se uma das formas de demonstrar poder. Foram-se “abandalhando” as actividades psicomotoras e de Educação Física. Aplicou-se ao ensino obrigatório a regra de ouro da economia. Os trabalhadores são para produzir, não para pensar ou exercerem destrezas. O Ensino Profissional desapareceu quase por completo, excepto como elemento dissuasor para alunos com dificuldades de aprendizagem. A escola pública era uma fábrica de indiferenciados.

Os alunos brilhantes eram absorvidos pelos serviços competentes do ME em licenciatura necessárias às amostragens externas. Os sindicatos mais procupados em barrar a avaliação dos professores e os seus ganhos não se preocupavam com isso. Nem sequer promoviam a discussão desses temas. A evolução das disciplinas do domínio psicomotor é disso um exemplo claro. Até mudar uma lâmpada e pintar uma parede se tornou uma especialidade. A História e a Geografia tornaram-se outras brincadeiras dos “assentados” nos cadeirões do ME.

Os Maias e Eça, são incómodos. Lá chegará a vez do “A Menina do Mar”. Quero dedicar esta minha capacidade de indignação pelo que vem acontecendo no desenrolar do ódio dos políticos pela inteligência dos portuguesas, ao Homem que foi meu professor de Português na Escola Industrial Machado de Castro, o professor Carvalho de Lima. Ouvi-lo dizer um poema de Antero, era uma bateria que nos carregava a alma para um período lectivo.

Não chorem pois pelos Maias. Chorem por aquilo que permitimos que vai acontecendo no nosso país. E pelo legado que dele fazemos a filhos e netos.    

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