segunda-feira, julho 15, 2019


IN MEMORIAM

Ontem e hoje retomei a década de 50 do século passado. O meu avô morrera há 2 ou 3 dias. Mudámos de armas e bagagens para casa da minha avó para lhe fazermos companhia. Entretanto estava a decorrer o campeonato mundial de Hóquei em Patins que na época era o desporto nº 1 no nosso país.

Na época era impensável ligar um rádio em casa de alguém que tinha morrido. Era uma das etapas do luto. Eu e o meu irmão queríamos ouvir os relatos que eram verdadeiramente entusiasmantes. Tanto quanto me lembro era a equipa de Emídio Pinto e de Jesus Correia e de Adrião. Os relatos eram segundo creio do Artur Agostinho. Não haviam televisões, mas a forma de relatar era de tal forma brilhante que nós como que víamos tudo o que se passava em campo.

Como pois ultrapassar o dilema de querer ouvir o relato e não podermos ligar o rádio. Foi o meu pai que resolveu essa questão. Ele até era radioamador. E foi então que nos sugeriu utilizarmos uma “Galena”.

O ´radio de galena é bastante conhecida entre os aficionados em eletrônica por propiciar a confecção de um rudimentar receptor de rádio que não utiliza qualquer tipo de fonte de energia externa para funcionar. Estava montado o minério numa placa com 20x20 cms. Tinha uma espécie de rotor que com uma fina ponta percorria o mineral procurando a onda hertziana em que o relato era transmitido. Tinha ainda um “jack” onde se ligavam os auscultadores e eu utilizava um deles e o meu irmão o outro, mão havendo qualquer som transmitido para o exterior, evitando os comentários das nossas vizinhas. Que eram muito exigentes em questões de tradições de luto.

E assim foi que apesar da morte do meu avô podemos ouvir os relatos em casa do mundial de Hóquei de 1956.

Tudo isto me veio à memória ontem ao ver na TV a transmissão da final do Campeonato Mundial de Hóquei em Patins. Em 1956 tudo parava para gritar por Portugal. Hoje, na minha santa terrinha se não for futebol ninguém se movimenta. Reservo desse mundial dos idos muito do que devo ao meu pai e uma das vezes em que fui mesmo irmão do meu irmão.

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