quarta-feira, setembro 12, 2018


NO MEU TEMPO

Quando comecei a trabalhar no ensino não haviam férias pagas. O ano lectivo começava a 1 de Outubro e os que tínhamos sorte (?) terminavam o contrato anual a 10 de Agosto no limite máximo. Se tínhamos muita sorte o inicio da nossa actividade como professores era a partir de 10 de Outubro. A nossa colocação (refiro-me aos professores provisórios) dependia da boa vontade dos directores das escolas. Para os que éramos colocados pelos directores estavama reservados os horários menos convidativos. Recordo que no 2º ano em que trabalhei (na Escola Técnica de Alcobaça) leccionava aulas ao sábado até às 23 horas ao curso noturno e depois na 2ª Feira pelas 08 da manhã.

As coisas foram decorrendo assim até ao 25 de Abril. Em 1976 e para criar alguma estabilidade fui como cooperante para a Guiné-Bissau onde fiquei 2 anos até ingressar no estágio para professores em Coimbra. Concluído o estágio ainda tive que estar mais um ano como professor agregado até poder ingressar no quadro.

Resta dizer que para além da Guiné (como opção própria) percorri meio país. Em vez de me sentir revoltado aprendi a aprender. Tipos de cultura, formas sociais de vida, exigências pedagógicas. Procedimentos didácticos. Penso que algumas das coisas pelas quais passei não deverão passar ouros. Mas nunca desconheci que ao optar por trabalhar no Ensino existiam situações pelas quais corria o risco de ocorrerem comigo. E que não desejo para ninguém, mas não deixam de ser uma lição de vida. A dificuldade em chegar ao Estágio pedagógico que hoje os jovens não sabem o que é. A dificuldade em ingressar no quadro. A dificuldade em poder leccionar nas primeiras opções que fazíamos de escolas no concurso. Eu por exemplo depois de 1979 nunca mais consegui trabalhar na terra que me viu nascer. O melhor que consegui foi nos meus últimos 4 anos ingressar no quadro da Atouguia da Baleia. E portanto depender de transportes. Mas eu sabia que era o risco da minha profissão.

Quando vejo hoje a “lamechice” dos professores mudo de canal. Quando vejo alguém que não sabe o que é trabalhar numa escola a falar em nome dos professores, fujo como o diabo da cruz.
E não vejo os média preocuparem-se com quem tira licenciaturas na área da Gestão, ou do Direito, ou das Engenharias e não tem emprego. Porque raio de razão terão de ser os professores os únicos que despertam tanta misericórdia dos meios de comunicação social?

E não vejo preocuparem-se com o que estão a fazer no ensino os maus professores. Recordo uma professora de Inglês que dizia odiar os miúdos. E isto é só um exemplo entre os muitos a que assisti ao longo de 44 anos de actividade docente.

Haja deus.  

   

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