BULLYING E
MALDADE, A NOVA ORDEM DAS COISAS?
É corrente
hoje falar-se de bullying sobretudo em Esscolas. Normalmente as vítimas de
bullying são crianças que se apresentam com um comportamento pouco aceito pelos
restantes colegas, e essa diferença tanto pode ser física, como comportamental
ou de vivência fora dos padrões da comunidade onde estão inseridas.
De facto
não é só na escola que existem esses comportamentos que consistem em humilhar
os que aparentemente são diferentes. Isso ocorre também na rua, no Bairro ou
mesmo na aldeia ou lugar.
Também se
trata de um fenómeno a que só hoje se confere alguma visibilidade. Isso
acontece porque as câmaras das TVS generalistas se alimentam desses factos e
porque a liberdade de imprensa e as redes sociais favorecem a publicitação
desses fenómenos tidos como notícias ou “cachas”. E no entanto são
comportamentos que já existem há dezenas de anos, sem que noutros tempos alguém
ousasse pronunciar-se sobre eles. Conto-vos 2 histórias de Bullying passadas na
escola velha de Peniche, que agora completa 100 anos de existência nas décadas
de 50 e 60 do século passado.
A 1ª
história foi passada com a minha cunhada Natália e com uma colega dela, a
Edine, filha mais nova de um célebre opositor ao regime anterior, o conhecido
Zé da Costa.
Quando a
minha cunhada e essa menina foram para a Escola tiveram a infelicidade de terem
como professora uma tal de D. Violinda. Cedo ela soube que os pais dessas
meninas estavam presos por serem opositores do Estado Novo. Não sei se era pelo
nome que tinha o que é certo é que a partir daí tratava-as como as filhas dos
comunistas e descarregava todo o seu ódio nas meninas quer em reguadas, quer em
insultos. As meninas quando tinham de ir para a Escola sentiam o peso e a dor
de terem de estar num local onde eram violentadas todos os dias por uma mulher
odienta e de coração malvado. E o mais grave é que não podiam pedir ajuda a
ninguém porque ninguém as defenderia. O director da Escola era colocado naquele
cargo pelo Regime. E ser filha de um comunista naquele tempo era pior que ser
hoje muçulmano. Sofreram e o peso desse sofrimento deixou sequelas até hoje.
A 2ª
história é também passada na mesma escola. Eu frequentava-a e a minha sala de
aula na 4ª classe era a sala exterior da torre do lado esquerdo. Eu era aluno do professor Pires. Contigua a
essa sala era a sala de uma professora daquela escola de nome Ema. Irmã de uma
outra chamada Laura. Uma e outra eram conhecidas entre nós miúdos e mesmo pelos
nossos pais, como as pretas. Por serem de raça africana. Nós temíamos aquela
dupla como se do diabo se tratasse. Eu na minha sala ouvia as reguadas e os in
sultos com que elas tratavam os seus alunos. Nesse tempo os meninos filhos de
pessoas com graves dificuldades económicas eram aqueles que obviamente mais
dificuldades tinham e eram os que mais sofriam às suas mão e com as tiranias a
que os sujeitavam. Não sei se era uma qustão de ódio rácico. Mas sei que foram
muitos os que sofreram na pele as suas atitudes de violência. Mas sei que
naquele tempo, ser aluno das “pretas” era o maior receio dos meninos do meu
tempo. Hoje essas atitudes seriam motivo para manifestações, greves e posterior
expulsão das criaturas.
Mas não
ouço os meninos daquele tempo revoltarem-se com estas atitudes de bullying. Foi
passada uma esponja sobre tudo isso. Sentimento de culpa? Revolta por não terem
tido capacidade para impedir estes actos? Talvez tudo isto e mais. Que não
merece aprofundar para não corrermos o risco de nos sentirmos de alguma forma
solidários com estes actos de maldade pura.
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