terça-feira, novembro 21, 2006


OS SUB-HUMANOS
Ao arrumar papelada que fui acumulando ao longo do tempo fui dar com uma página recortada de uma revista de índole cristã e de apoio às teses de expansão ultramarina que tinha uma distribuição porta-a-porta e que creio felizmente já desaparecida. Refiro-me à revista "ALÉM-MAR".
O recorte que conservei é de Janeiro de 1998. O que me me fez não desfazer dele tem a ver com a uma das suas páginas em que aparentemente se pretendia difundir as tradições oraís dos povos africanos. A história desta vez relatada intitula-se "O FILHO PATETA" e a história é a que segue:
"Era uma vez uma mulher que tinha um filho a quem Deus parece que se esqueceu de dar inteligência.Um dia, mandou-o a uma aldeia vizinha comprar uma agulha. No regresso a casa, encontrou um companheiro com uma cesta de canas de milho miúdo à cabeça e perguntou-lhe aonde é que havia de guardar a agulha para a não perder. "Mete-a aqui na cesta", respondeu-lhe a brincar. Evidentemente que, quando chegaram a casa, de agulha nem sombra: foi como encontrar agulha num palheiro!
"És mesmo burro! Porque não a espetaste na manga da camisa para não a perderes?", perguntou-lhe a mãe, irada.
Noutro dia, mandou-o comprar um pouco de banha, de que precisava para fazer o comer. Ele, lembrado da recomendação da mãe, enfiou-a na manga da camisa. Com o calor, derreteu-se toda pelo caminho. "Porque não a meteste numa vasilha? Mesmo que se derretesse, aproveitava-se", replicou-lhe a mãe.
Quando o mandou buscar um cachorrinho a casa de uns parentes que viviam longe, ele meteu-o num cântaro, como a mãe lhe tinha dito, e tapou-o bem para o bicho não sair. Resultado: o cachorro chegou a casa morto por asfixia. "És mesmo desastrado! porque não puseste uma trela ao pescoço do animal e o trazias, nem que fosse de rastos?", retorquiu-lhe a pobre mãe.
Dias depois, a mãe mandou-o ao talho comprer uma perna de gazela. Lembrado da recomendação da mãeatou-lhe um cordel ao jarrete e arrastou-a pelo caminho. Só que os cães, atraídos pelo cheiro da carne, atiraram-se a ela e, quando o rapaz chegou a casa, só levava o osso. A mãe saiu-se dos carretos: "Onde está a carne?" "Está ali...", respondeu o rapaz apontando para o osso preso pelo cordel.
Moral da história: "Ensinar um maluco é arranjar lenha para se queimar"

Esta história é exemplar daquilo que um certo espírito "bacoco" e doentio pode pensar sobre e ácerca daquilo que consideram ser os sub-extratos da população. E se para melhor ilustrar certas coisas se juntar "um atrasado" com um "preto", ainda melhor se pode compreender como foi possível durante tanto tempo sermos uma "raça superior", senhora e dona de territórios de uma riqueza extraordinária. Se batisarmos tudo isto com uma certa caridade judaico-cristã, estão conseguidos os ingredientes necessários para nos tornarmos exemplares únicos perante nós e os outros.

Há coisas que se leiem e que nos causam arrepios.

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