terça-feira, maio 12, 2009

MEMÓRIAS DO MEU TEMPO DE PROFESSOR
Para a Dr.ª Carmelo Rosa e Dr. Óscar Montenegro (*)

Por esta ou por aquela razão o estudo das Línguas Estrangeiras nas nossas escolas perturbou-me sempre muito. Não compreendo que os níveis de insucesso no Francês e no Inglês sejam comparáveis aos da Matemática e da Língua Materna.
Não compreendo como milhões de Portugueses já adultos foram por esse mundo fora e tenham aprendido línguas e mais línguas e as nossas crianças nas nossas escolas, tenham tantas dificuldades em acompanhar os seus professores nessas aprendizagens. Tendo nascido no litoral, sempre vi a facilidade com que os nossos jovens estabelecem diálogos com as jovens estrangeiras que preenchem os seus sonhos de Verão, a facilidade com que aprendem letras de canções anglo-americanas. Os mesmos jovens que depois se comportam como perfeitos ignorantes face às suas professoras na sala de aula.
A última grande surpresa que tive foi com um ex-aluno meu da escola da Atouguia que depois foi colega da minha filha até ao 12º ano. O jovem era traquinas, irreverente e descuidado. A escola para ele sempre foi um meio de se divertir e não de vir a ter grandes voos. As aventuras dele eram em nossa casa descritas e ouvidas com carinho e entusiasmo. Na secundária a sua grande preocupação foi sempre ter os resultados mínimos indispensáveis para ir seguindo em frente. Claro que as Línguas Estrangeiras foram sempre a última das suas preocupações.
O que é certo é que o nosso amigo entrou na faculdade e tão longe das Línguas estrangeiras quanto possível. Mas também o ingresso na Faculdade não o entusiasmou assim tanto. Até que, encontrou abertura para concorrer a uma área que o deixou louco de alegria: - A aviação comercial. De teste em teste, vivaço como era lá foi passando até que chegou a um grupo extremamente restrito dos quais sairiam a meia dúzia que iria trabalhar para a companhia. E foi aqui que tocaram os sinos a rebate. Ele precisava de dominar o Inglês e o Francês em conversação.
Pois o meu amigo entrou para a entrevista com o mesmo savoir-vivre com que sempre encarou a vida. E não é que entre algumas dezenas de entrevistados ele foi um dos seleccionados e hoje é um ilustre tripulante de bordo de uma companhia aérea internacional. Como falou ele em francês e em inglês? Se calhar ainda hoje não sabe. Foi o espírito santo ou o génio que protege os audazes. E está a fazer o que quer e o que gosta.
Porquê então esta dificuldade em ter respostas positivas perante alguns professores de Língua Estrangeira? Alguém precisa de se interrogar sobre esta dualidade de capacidades das pessoas.

(*) – A Dr.ª Carmelo Rosa e o Dr. Óscar Montenegro foram os meus professores de Inglês e Francês na Escola Secundária Machado de Castro em Lisboa. Um e outro souberam num tempo em que só a Piaf e o Paul Anka tinham alguma graça, transmitir a ideia de que saber ouvir e falar era poder estar para além das limitações em que todos vivíamos. O meu mais profundo reconhecimento por isso.

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