quarta-feira, dezembro 14, 2011

VIVER POR AMOR
A D. Amélia faleceu. Com 95 anos de idade. Era uma senhora de uma bondade extrema. E que confiava em toda a gente. Filha de boas famílias do início do século passado, vivia numa quinta da zona saloia. Até que conheceu o primeiro e único amor da sua vida. Com quem casou indiferente à vontade dos pais. Casou com um marinheiro que escalava portos e mulheres com a mesma naturalidade.
A D. Amélia cedo aprendeu a esperar por ele. Pelo seu deus. Que podia demorar mas regressava. Regressava sempre. Até porque a D. Amélia era o porto seguro. Quer financeira quer espiritualmente. E a D. Amélia aprendeu a ficar sozinha. Cada vez mais isolada. Mas sempre cheia de amor por ele, tornando-se a sua recordação o seu alimento e os breves momentos em que estava com ele o suplemento alimentar que a fazia ter forças mais tempos de espera.
Até que a D. Amélia se apercebeu que entre todas as suas viagens e paragens havia uma que marcaram mais o seu amor que todas as outras. Ficou a saber que ele se sentia dividido entre a sua paz e excitação e aventura que ele encontrava junto da outra. A D. Amélia aprendeu então a dividi-lo. Ele era seu. A outra recebia as sobras. Tudo o que era dele era seu. Amor, segurança financeira, paz interior.
Só que os momentos de solidão se foram tornando maiores. A D. Amélia começou a perceber que a sua solidão iria ser cada vez maior. E aprendeu a viver feliz aguardando os momentos cada vez mais espaçados do regresso do seu amor. Que aparecia. Cada vez menos. Mas voltava. Mais velho. Mais decadente. E ela sempre carinhosa recebia-o sempre com o mesmo sorriso. Ela tornara-se uma mulher frágil na aparência mas determinada no seu amor.
Até que ele lhe apareceu para viver com ela os seus últimos momentos. Já a doença o dominava por completo. E ela recebeu-o. E com ele aceitou o seu último pedido. Que recebesse também a outra. A outra com quem ela o dividira. E ela mais uma vez disse que sim. Nada já lhe restava senão a compreensão pelos desastres individuais. E o amor por ele.
A partir daqui traçou-se o seu último calvário. Traçaram-lhe o destino. Ele morreu. Com a ajuda de um advogado manhoso e trapaceiro fizeram-lhe assinar papéis que a tornaram indigente. Foi recolhida num lar. A outra também morreu.
Ao longo do tempo em que fui tendo notícias dela sei que nunca se revoltou contra ninguém. Continuou a falar do seu amor como sempre fez. Com carinho. Até que agora se despediu da vida ela que já não tinha ninguém para se despedir. Ao encontro da Paz merecida e que nunca teve enquanto viveu. Um beijinho para si Srª D. Amélia.

1 comentário:

Manuel Leonardo disse...

So' Almas Puras teem o condao de saber Amar !!Mais uma vez ficou provado que o Amor Puro e' o que se da' sem tentar forcar que outra pessoa retribua em Si um clamor de hinos celestiais para que o sangue derramado em toda a terra possa vegetariar toda a seiva ardente que Ela Terra carinhosamente dispersa e da' Vida pelas geracoes vindouras .
Nao tenho a certeza se conheci ou se alguma vez dirigi a palavra a' Senhora Dona Amelia . Se nao lhe dirigi a minha palavra , lamento sinceramente pois sao pessoas Humanas como esta senhora que ainda me fazem ter uns sentimentos nobres que ainda quando posso faco tranparecer em Amor que subtilmente se dispersa a' minha volta
Respeitosamente desejo que os Anjos celestiais possam fazer deste cenario a tres uma Mensagem Humana em todos os Presepios Natalicios do Mundo
Respeitosamente
Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada