quinta-feira, setembro 10, 2020

O JORNAL COR DE ROSA

Entrei para a tropa no Convento de Mafra em 11 de Setembro de 1966. Ali fiz a recruta e a Especialidade (transmissões de infantaria). Ao fim de sete meses e já com a patente de Aspirante a oficial recebi Ordem de Marcha para a Trafaria para onde fui tirar a especialidade de Operações de Segurança no BRT (Batalhão de Reconhecimento das Transmissões) e de onde saí só quando passei à disponibilidade em 12 de Dezembro de 1969. Dividia então o meu tempo entre a Trafaria e Peniche aos fins de semana desde que não estivesse de serviço no quartel. Este foi um tempo extraordinariamente rico para mim em termos de formação cultural, social e política. Enquanto militar no ramo em que estava inserido, aprendi o que era o regime por dentro. Em Peniche desenvolvia uma actividade cultural e associativa intensa. Na Trafaria, tão perto de Lisboa, permitia-me ter acesso a toda uma informação cultural que era notável para a época. Enquanto militar na minha unidade existiam companheiros notáveis como o compositor Jorge Peixinho, o poeta Gastão Cruz, o fadista João Braga, e uns quantos amigos que deambulavam pelas fileiras da oposição democrática. Um deles, já não sei qual, deu-me a conhecer um jornal regional (“O Comércio do Funchal”) que era publicado em papel cor-de-rosa. Uma diatribe do seu director ( um jovem mais novo que eu, de seu nome Vicente Jorge Silva) que passei a dmirar desde logo. Na altura eu era assinante pois do Comércio do Funchal, do Jornal do Fundão e da Seara Nova. Tudo isto imprensa pouco apropriada para quem fazia parte de um escol dos Serviços Militares. De entre todos estes jornais o CF era um exemplo do que eu considerava ser possível em Peniche, onde criativamente dávamos os primeiros passos em formas mais ou menos habilidosas de tornearmos a rigidez do Estado Novo. Apaixonava-me aquele jornalista em crescendo que era VJS e só deixei de ser assinante do CF quando ele deixou de ser seu director. Mais tarde dou por ele a lançar um novo Jornal, “O PÚBLICO”. Nunca mais o larguei de mão. Nem mesmo quando ele deixou o Público. Que eu também abandonei com a direcção de José Manuel Fernandes. Onde eu sabia que ele escrevia, eu lia e aprendi sempre. Despeço-me dele com o mesmo carinho com que o conheci. Até já, até logo, seja até quando for. Foste dos melhores professores da minha vida.

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