ESTAVAS,
LINDA INÊS, POSTA EM SOSSEGO…
Camões,
Lusíadas, Canto III
Eu bem que
não queria incomodar-me (nem incomodar-vos). Mas ouço e leio as notícias e fico
perturbado. Desde logo 222 milhões por um jogador de futebol. Eu não sei se
vocês têm a noção do que serão duzentos e vinte e dois milhões de euros. Eu não
tenho. Acho este número completamente absurdo. Eu compreendo que a habilidade
inata de um homem (ou mulher) possa gerar valores astronómicos. Mas sou levado
a comparar estes valores pagos por uma pessoa que se distingue pela sua
habilidade, com outras que se distinguem pelo seu saber. E pelas suas
capacidades com que brindam a humanidade de avanços que permitem a todos nós
não só um momento de lazer, mas também uma melhoria acentuada da nossa vida e
do conforto que a rodeia. E isto, mesmo que eu não queira, bate-me cá dentro
como um murro no estômago.
Passados
dias ouço que emigrar para os EUA só poderá vir a ser possível se se falar
Inglês. E penso em todos aqueles emigrantes que há mais de um século sem
conhecer uma palavra do idioma importado para os EUA, contribuíram de forma
denodada para o crescimento daquele país. O idioma veio depois. Isso não
impediu que fossem esforçados e cumpridores das leis. Que dessem a vida por
quele seu novo país. Desde os tempos da guerra civil até aos teatros de luta
mais recentes. E se todos os países fizessem o mesmo? A que condenaríamos a
humanidade? Os refugiados que entram em Portugal (e mesmo alguns emigrantes) o
que sabem de português. Afinal os colonos que foram para os EUA não tiveram que
aprender Navajo, nem Sioux.
Abro o
jornal da paróquia local e encontro um mundo de novos “opinion makers” (fazedores
de opinião) que nem suspeitávamos que existiam. Afinal há muita gente que até
pensa em Peniche. Só pensam de 4 em 4 anos, em períodos eleitorais. Mas pensam.
Existem como o 29 de Fevereiro. São esporádicos. O próprio jornal tem
dificuldade em cobrir o que se avizinha. Afinal se a única candidatura que não
é referida, for a vencedora, como lida a cartilha com o facto? É simples. Sendo
um jornal católico, apostólico e romano, reza um acto de contricção e tudo fica
perdoado.
Eu não
queria. Eu estava aqui sossegadinho. Vieram desinquietar-me. Vade retro
satanás.
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