sexta-feira, novembro 10, 2017


A ZINHA

De seu nome Maria da Conceição Costa. Conhecia-a em 1981 em Peniche no decorrer duma acção de trabalho que aqui se realizou para elaboração de Planos Individuais de Trabalho que se teriam de organizar para a Formação de Professores em exercício. Mais tarde vim a retomar o contacto com ela quando fui trabalhar para a Escola Preparatória da Lourinhã em 1985.

Enquanto fui Presidente do Conselho Directivo daquela escola foi sempre solidária comigo naquele órgão de gestão (10 anos) e mesmo depois de vir para a Atouguia da Baleia e de me reformar, nunca mais perdemos o contacto um com o outro.

A Zinha era uma alentejana dos quatro costados.

Com muita facilidade nos tornámos amigos. Eu, ela e a Margarida fomos um trio de antes quebrar que torcer. Nunca fizemos das nossas relações profissionais ponte para as relações pessoais e vice-versa. De nós 3 se podia afirmar firmemente que serviço era serviço e cognac era cognac.

Muitas peripécias vivemos em conjunto a mais caricata de todas foi a de que na primeira vez que tomámos posse, esse mesmo dia, coincidiu com a visita de Cavaco Silva à Vila da Lourinhã. A Zinha estava farta de saber que eu era de esquerda, mas com a naturalidade alentejana que lhe era peculiar, veio pedir-me que a ajudasse a fixar uma bandeira do PSD num pau que teríamos de ir buscar a uma sala de Trabalhos Manuais. E lá fui eu o “gajo” de esquerda arranjar a bandeira do PSD para a minha colega de direita.

Com o tempo mantive a minha Utopia na esquerda e a Zinha perdeu as ilusões quer com o PSD quer com a direita. Isto sem nunca abdicar das suas ideias. É que ela era filha de um latifundiário alentejano e com a Reforma Agrária ficou reduzida com a família à expressão mais simples. Nunca foi ressarcida de quaisquer valores. Isso não a impediu nunca de ser uma mãe de família bondosa e poderosa. O conceito de matriarca era natural nela.

Na Escola desenvolvia actividade na área social. A Zinha sempre esteve ao lado dos mais necessitados. A Zinha foi minha amiga e minha irmã. A doença minou-lhe o corpo e a pouco e pouco foi tomando conta daquele sobreiro orgulhoso e digno.

Até que esta semana inesperadamente a Zinha tombou definitivamente. Não consigo encontrar palavras que me confortem perante esta morte dura e nojenta. A minha amiga merecia ter sido feliz e não teve tempo para o ser suficientemente. Como merecia. Que eu te possa merecer minha amiga.

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