segunda-feira, novembro 27, 2017


AEROGRAMA

ESCREVE-ME QUE É GRÁTIS

Em 1961 Na Guiné-Bissau, Angola e Moçambique eclodiam grupos independentistas de luta armada no propósito de declarar a independência daqueles territórios sobre domínio e administração de portuguesa.

Surgem em Portugal animados por grupos de carácter religioso e fascista movimentos de apoio na retaguarda aos combatentes portugueses que são enviados “rapidamente e em força” para combater os ditos “terroristas” (guerrilheiros) que pretendiam “destruir” a unidade do território português.

Entre esses movimentos ganha particular relevância o MOVIMENTO NACIONAL FEMININO, fundado e dinamizado pelas esposas dos altos dignatários do regime do Estado Novo que pretendia ser a guarda pretoriana dos ideais salazaristas.

Recorde-se que em 1961 não existia Internet, nem telemóveis. Nem no melhor Júlio Verne era imaginável essa fórmula mágica de contacto. Uma grande maioria de portugueses andava descalça, nunca tinha visto o mar e um telefone era coisa de ricos. Mais de 50% dos portugueses nem sequer tinham a 4ª classe. As casas não tinham frigoríficos, nem fogões, e ainda não se sabia por cá o que eram micro-ondas. Existiam alguns rádios que só funcionavam em casas com electricidade sendo que a maioria delas era iluminada por candeeiros a gás ou a petróleo. As televisões era um bem raro que só eram possíveis ver nas casas paroquiais onde se pagava 2$50 (1,5 cêntimos) para se poder ver, ou então entregava-se a senha que tinha sido distribuída à saída da missa de domingo.

Pois bem as senhoras de casacos de peles, lançaram uma iniciativa de apoio aos soldados que combatiam no “ULTRAMAR” particularmente interessante. Com o apoio “TAP”, foi lançado um sistema de correspondência gratuito para alivio dos traumas de guerra dos nossos soldados, que se designava por “AEROGRAMAS”. Em papel muito leve e só com uma folha servia para enviar e receber notícias. Desempenhavam então a função que hoje representam as mensagens dos telemóveis e do Facebook. Vou buscar este paralelo para poder ser melhor compreendido o papel dos aerogramas para milhares de soldados e suas famílias.

Quem tiver mais de 45 anos terá uma enorme dificuldade em compreender este sistema de comunicação criado como desiderato para aliviar as penas e as dores de quantos tiveram de ser submetidos a uma guerra que teve tanto de injusta como de inútil. Aqui fica este meu testemunho desse tempo.   
 

 

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