sexta-feira, maio 02, 2008

CHUMBAR OU NÃO CHUMBAR EIS A QUESTÃO
Muito se tem dito para atacar a Ministra da Educação. Uma das atitudes lapidares é a de afirmar que a ministra pretende que se passem os alunos sem que eles tenham adquirido conteúdos mínimos.
Para isso acrescenta-se que é o facilitismo que impera. É a regra de “passar” de ano os alunos para poder corresponder às estatísticas de Bruxelas.
Julgo que a resposta foi dada pela própria ministra um dia destes ao afirmar que “facilitismo é chumbar. Rigor e exigência é fazer com que todos aprendam”.
Eu acrescentaria que é fácil e cómodo chumbar. Fácil porque desistindo do aluno, não dá trabalho ao professor. Cómodo porque dá uma imagem de um professor exigente perante a opinião pública. Normalmente são os “queques” quem ofende a ministra de forma espúria. Se os queques forem políticos melhoram os substantivos de ofensa. A estes juntam-se os professores que não querem que se olhe para eles. E quanto menos derem nas vistas melhor. Por isso as manifestações colectivas são tão a seu jeito.
A escola selectiva que queques e políticos frequentaram, deu lugar à escola inclusiva. Se é que sabem o que isso significa. Julgo que nem as escolas ainda o perceberam bem. Nem os professores. Que continuam a leccionar segundo os estereótipos com que eles próprios foram ensinados e que vêm do tempo da 1ª República.
Passámos de uma escola onde as crianças eram todas iguais, para uma escola do século XXI em que todas as crianças são diferentes. E lidar com a diferença nunca foi fácil. Desistir (chumbar) é o caminho mais cómodo. Mas seguramente vai ser também o mais caro do ponto de vista material e humano.
Nunca me esqueço do caso de L.(Chamo-lhe assim para não ser identificado). A mãe de L era prostituta. O pai alcoólico. Abandonado pelos pais foi criado pela avó que coitada, não mais fazia que gerir a miserável pensão com que vivia. L. vivia um dia de cada vez e assim foi andando até que chegou ao 1º ciclo. A sua maior ambição era sair da terrinha em que vivia e ir para a grande cidade. Por tudo isso foi vivendo aos trambolhões entre o 5º e o 6º ano. Chumbando consecutivamente. Os professores habituaram-se a esses chumbos consecutivos e já nem se incomodavam quando ele nem as aulas frequentava. A Directora de Turma dizia que não havia nada a fazer. Aos 14 anos e com o 6º ano por fazer conseguiu que a mãe o deixasse ir viver com ela. Pediram transferência para a grande cidade. Professores e escola continuaram a desistir dele e ele, aos 15 anos, abandonou definitivamente a escola com o 2º Ciclo incompleto.
A última vez que o vi percorria os caminhos da prostituição juvenil.
Os chumbos sucessivos e a incompetência da escola e dos seus professores (nos quais me incluo) fizeram dele o jovem que ele hoje é.

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