segunda-feira, novembro 08, 2010

VAMOS CONVERSAR SOBRE A MORTE
No último número da Visão é publicada uma entrevista que deveria ser de leitura obrigatória no Ensino Secundário. O assunto é o último livro de António Lobo Antunes, “Sôbolos Rios Que Vão”, na circunstância o entrevistado, e o entrevistador é Ricardo Araújo pereira (esse mesmo).
Sendo o assunto um livro, o tema da entrevista é a Morte (temática do livro) apesar de ninguém morrer nos livros de ALA. Fiquei a saber que existe outra pessoa que gosta tão pouca da “vaca da morte” como eu.
Fiquei a saber também que o que fez irromper o escritor terão sido as Selecções do Reader’s Digest do período da 2ª grande Guerra, o Almanaque da Bertrand, o Pato Donald e as "Aventuras do Mandrake". Presumo que o Flash Gordon não terá sido citado só por puro esquecimento. Sinto-me feliz por ter tido os mesmos gostos na leitura que um dos grandes da nossa prosa.
A morte, a leitura e o cancro aproximam-me de ALA.
A senhora de quem não gosto comecei a contactar com ela desde muito novo. A minha avó (Guilhermina Baterremos) era a cangalheira de Peniche. Num tempo em que se compravam os caixões em esqueleto e que eram alindados pela minha avó com seda e florzinhas que os tornavam mais artísticos e menos tétricos. Ainda hoje tenho em casa quadros feitos com os Cristos que sobejaram dos caixões. É uma espécie de vingança que tenho contra ela. Ajudei Cristo mais a sua Cruz a não serem enterrados e desaparecerem na voragem da oxidação.
No que ao cancro diz respeito (os dois) tratámos mal o fdp e ele parece que separou de nós como o Demo das cruzes da minha avó. Não me dá prazer falar desse mete nojo. É um mal execrável que apanha as pessoas distraídas e tenta corroê-las por dentro como se fosse alguém da sua intimidade. Eu pelo meu lado e ao que percebo o ALA também, não queremos nada com esse nojento e com os serviços que presta à Parca.
Do que não queremos fica o que pedimos emprestado. As aventuras que nos levaram muito pequenos nos braços do sonho, as rápidas das Selecções e os livros condensados que me permitiram ter um vislumbre sobre o que mais tarde haveria de conhecer. Também para mim estas coisas têm a ver com a herança de meu avô, homem que acreditava que era na Fraternidade e na Liberdade que tudo quanto é bom pode acontecer. Sobre os rios que vão sinto-me bem pelo caminho que percorri. Desde os tempos em que jogava às escondidas com o meu irmão no armazém dos caixões, às horas que roubei ao estudo lendo o Mundo de Aventuras, ou ao que usei com paixão para dar um murro nos cornos do sacana do cancro que ousou chatear-me.
Afinal, parece que não falei assim tanto da Morte. Ou terei falado?

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