Amor:
Em todo o homem existe a imensidade e a pequenez... A pequenez é isto, a terra, a casa, a cama fofa, a mulher quente, horários e deveres, o filho com que tu sonhas. E o dinheiro, a posse das coisas. Os homens julgam-se donos delas, mas são prisioneiros: das coisas, do amor, dos hábitos. Só é pobre quem quer ter mais, ser rico... O mundo é todo meu, se o desejo como imensidade, sem termos nem fronteiras. E a mulher é parte disto, um património, um contrato, uma prisão. A estabilidade, a vida regular. Tu queres que eu fique, que eu renuncie à liberdade, para um afundar no teu dia-a-dia...
Mas ser homem é dominar os desejos e ambições, romper as cadeias! Eu não tenho nada, ninguém, pior que tu, mas a mim nada me pode prender: pertenço à imensidade, o céu é meu mesmo através das grades, anda comigo, está-me no sangue. Nem a fome, nem o frio, nem o chão duro, nem a noite, nem a polícia, nem as navalhas mo podem tirar. Livre. O que me sufoca e me destrói é sentir-me retido, possuído...
O amor prende. E que mulher se sujeita ao que eu passo, ao preço que eu pago? Tu irias comigo, e não tardaria que quisesses parar, ter uma janela com cortinas, flores, um berço...
Não eras capaz de resistir. De passar sem isto. Farias tudo para me reter e punir, acabavas por ser pior que um tropeço: uma inimiga! Ou era eu que acabava por te odiar. O homem tem de encontrar sozinho o seu caminho, a liberdade ou a morte... Perdoa-me! Talvez eu volte um dia – serás tu a mesma?
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