quarta-feira, agosto 10, 2011

A FESTA JÁ ACABOU
Porque não se ouviam os foguetes. Porque Ferrel já rouba o pessoal à Sra da Boa Viagem. Mas não foi Ferrel que mandou abater os barcos de pesca e hoje, a santa que quase não tinha tempo para se coçar para tomar conta de mais de 100 barcos do cerco, agora com 3 ou 4, até tem tempo para ir à cabeleireira. Porque as bandas já não são o que eram. Valha-nos São Tony Carreira e o seu filho Mikaelinho. Já o Santo padroeiro, o Senhor São Pedro Telmo, continua pobrezinho e abandonado a percorrer os caminhos até Peniche de Cima numa Festa que lhe não pertence, mas por onde deixam vestir as roupinhas domingueiras um dia em 365.
Já não há as barracas dos tirinhos, nem as cavacas em cestos de verga com as vendedoras embrulhadas em xailes negros e alumiadas pelas ametolias de azeite.
Onde está o cheiro do polvo assado na brasa? E onde os restaurantes de frango assado onde o pessoal se juntava para uma ceia depois de uma visita ao Juncal?
Onde a Festa dos carrinhos de folha e dos carrosséis com mais uma “voltarela” para a Menina Manuela e mais uma voltinha prá menina Mariazinha. Onde os cobertores vendidos ao preço de fábrica e os sorteios das panelinhas?
A minha Festa acabou há muito. Restam-me estas recordações que me alimentam o ego. Agora vou descendo (ou subindo consoante a perspectiva) a Avenida do Mar em direcção à Ribeira Velha. Sou abalroado por dezenas de pessoas que se adiantam a mim na angústia de arranjarem um bom lugar para o espectáculo que lhes é oferecido gratuitamente por uma cadeia de supermercados com o cantor da moda. São milhares que se acotovelam no afã de conseguirem um bom lugar. Vão longe agora os tempos dos Ranchos Folclóricos e dos cantores de arraial acompanhados a acordeão.
 Subo em Direcção ao Campo da Torre em busca dos últimos “guardanapos” do Manel Barreto que Deus tem (salvo seja), e de novo a multidão numa correria em direcção ao palco de todas as ilusões.
Feita a compra dos “guardanapos” dirijo-me a casa entre um labirinto de carros estacionados de forma aleatória. Entro em casa e sinto que a Festa se afastou de mim, ou eu dela. Vou aguardar o fogo-de-artifício, último sinal que ainda me prende aos dias da Festa da minha infância e juventude.

1 comentário:

jorge saldanha disse...

É verdade Zé! Vamos vivendo de...recordações, boas por sinal. Costumes que se vão perdendo. Sinal da mudança dos tempos. São coisas como estas que nos vão fazendo, ou tornando....mais usados. Temos que acompanhar estas mudanças. Ficamos " cotas ", sim, mas modernos. Ehehehe!!!!
Abraço.