terça-feira, agosto 02, 2011

ESTÓRIAS
Em Setembro de 1960 eu fui estudar para Lisboa para a Escola Industrial Machado de Castro. Passado algum tempo de eu lá estar a Mocidade Portuguesa abriu no Palácio da Independência um curso de Formação Ultramarina para jovens que frequentavam os estabelecimentos de ensino do Secundário de Lisboa. Inscrevi-me, fui aceite e frequentei esse curso. No final do curso pela classificação que obtive foi-me atribuído um prémio que constava de uma estadia de um mês em S. Tomé e Príncipe. E no Verão de 1961 lá fui eu a caminho de S. Tomé, uma viagem de 18horas num quadrimotor da TAP com escala em Cabo Verde e na Guiné. A paragem em Bissau foi um pouco empolgante pelo número de tropas que enchiam o aeroporto, já que pouco tempo antes se tinha iniciado a guerra em Angola.
Já a chegada a S. Tomé foi pacífica e fiquei deslumbrado com o que via. Eu e um colega meu fomos recebidos pelo Governador e após as boas vindas foi-nos estabelecido como local de estadia a Roça de Monte Café. Foi um mês alucinante o que ali vivi e foi ali (em S. Tomé) que ao perceber as relações de trabalho que as roças tinham estabelecido com os negros de Angola, Cabo Verde e Moçambique, que me tornei anti-colonialista e mais convicto da injustiça de um domínio baseado na cor da pele.
No período em que estive em S. Tomé vi as filhas dos trabalhadores das roças servirem de pasto aos capatazes. Vi gente local ser arredada dos passeios para um grupo de brancos do qual eu fazia parte poder passar sem dificuldades nem embaraços.
Passados 50 anos sobre estes factos vejo angolanos comprarem (?) bancos portugueses. Vejo Angola como um país emergente, como agora se diz, e nós entregues ao peditório internacional e submetidos ao vexame de sermos afastados dos passeios para os Grandes Senhores da Economia, nos quais se incluem Brasil e Angola, poderem passar orgulhosos das suas capacidades e do poder que detêm.

Penso nisto e penso na ironia dos tempos.

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