segunda-feira, novembro 26, 2012

O PODER DO DINHEIRO
Fui estudar para Lisboa em 1961 tinha eu 16 anos. Nesse tempo não haviam Bibliotecas nas povoações, (exixtia uma carrinha da Gulbenkian que quinzenalmente aparecia no largo da Misericórdia e que emprestava livros), não havia NET, a maioria dos filmes era para maiores de 18 anos, o Teatro era uma miragem, e a TV dava os primeiros passos, sendo que em Peniche existia uma no Clube Recreativo, depois apareceu outra no Centro Patoquial que com um pequeno contributo financeiro poderia ser vista.
Nesse tempo uma viagem no João Henriques ou nos Claras para Lisboa demorava 3,5 horas, Teatro era uma prenda dos Deuses quando as companhias do Vasco Morgado faziam um périplo pela província.
O acesso às coisas da Cultutura e à discussão de ideias para percebermos melhor o tempo que vivíamos, era um milagre que ocorria para aqueles que tinham a felicidade de por esta ou aquela razão se poderem deslocar até às Caldas da Rainha (onde a intelectualidade foi sempre muito atuante) ou a Coimbra ou a Lisboa.
Nesse tempo, as Associações de Estudantes das diferentes Faculdades e os Cine-clubes eram um polo de debate e de divulgação do sentido critico a desenvolver nos jovens que os frequentavam. Recordo que recebi como prémio da escola Machado Castro um bilhete para assistir no Coliseu à apresentação de uma companhia de Teatro Grego que nos trazia os textos dos clássicos. Recordo também ter assistido no politeama à apresentação do Volpone pelo Grupo de Teatro da Faculdade de Direito de Lisboa onde já pontificava o Luís Miguel Cintra e recordo também de debates a que assisti no IIL a propósito de filmes a que assistíamos, um dos quais me ficou na memória pois o seu animador era o Presidente da RIA que mais tarde haveria de ser Presidente da República, o Jorge Sampaio.

Vem tudo isto a propósito de uma notícia que li no jornal sobre um debate que se realizou no Técnico promovido pelo seu Director onde foram interlocutores dois convidados de grande gabarito e honestidade intelectual, o José Pacheco pereira e o Francisco Louçã, a propósito da exibição de um filme que retracta os tempos actuais e os seus principais manipuladores.
“O dia antes do fim” é um filme em causa, realizado por Jeffrey Chandler, com Jeremy Irons, Kevin Space e Demi Moore, que relata as últimas 24 horas de uma firma do topo de de Wall Street, antes do desencadear da crise financeira nos EUA de que ainda hoje sofremos as ondas de choque na Europa e particularmente nos países do sul, onde somos mais dependentes da saúde financeira da alta finança.
O que é curioso é que embora sejam pessoas que se têm destacado na defesa de correntes ideológicas que não são muito confluentes, ambos concordaram ou acordaram, que o filme em questão relata de forma muito clara que somos simples marionetas da alta-finança e que os executores (os governos) dessas políticas nos tratam como se fossemos invisíveis. Somos carne para canhão, que servimos para gerar lucros e deixamos de ser úteis quando os for mais importante não gerarmos produto, para que os valores do mercado possam garantir as mais-valias que o neo-liberalismo pretende gerar para proveito próprio. As coisas deixaram de funcionar como luta de classes, porque hoje a pretexto de que o mercado global tem de se auto-sustentar já não importa se existem pobres. Existem poderosos e os que se tornaram fantasmas sem sentido.

Para mim próprio é garantido que só o debate de ideias e o contraditório permitirá a ressurreição das pessoas como valores que importa preservar. Enquanto corrermos atrás de tremoços, nunca chegaremos a ter almoço para nós e os nossos filhos.

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