O conflito que se vai arrastando entre nacionalistas ucranianos e os dissidentes pró-russos (leia-se pró-soviéticos) no leste do país, perturba-me muito mais do que alguma vez pude imaginar.
Interroguei-me tentando perceber o que me incomodava mais naquele conflito que em tantos outros a que já assisti. E percebi porquê.
Nos meus 2 últimos anos como professor na EB 2.3 da Atouguia da Baleia calhou-me uma turma da qual faziam parte alunos naturais da Ucrânia.
Esses
alunos marcaram-me de forma definitiva. Trabalhadores, persistentes, curiosos, bem-educados,
excelentes alunos, com uma capacidade de trabalho acima da média, eram crianças
doces e simpáticas de quem todos os seus colegas e professores gostavam.
Passei
a olhar com outros olhos mais atentos os alunos vindos do Leste da Europa para
Portugal em busca de um melhor futuro.Passei a estar mais atento a esses fluxos emigratórios em Portugal e as características das crianças que deles faziam parte.
Aqui
em Peniche crianças de Chernobil passaram a ser acolhidos com um sucesso
extraordinário, mesmo aqueles que faziam parte de famílias carenciadas e com
problemas sociais.
Por
tudo isto passei admirar aquele povo e tornou-se cada vez mais incompreensível
para mim aquela luta fratricida. Em cada tiro que lá se dispara vejo como alvo a
cara de uma aluna minha ou de um aluno meu. Cada corpo estendido nas ruas é uma
criança como aquelas com quem trabalhei.
Por
tudo isto sempre que as TVs falam da Ucrânia mudo de canal. Gosto demasiado dos
meus alunos para poder vê-los como vitimas da estupidez humana.
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