O SILÊNCIO
DA CIDADE DE PENICHE
Percorremos
as tuas ruas e vivemos o descalabro em que caíste. Sucedem-se os espaços vazios
e os que se encerram sobre descalabros financeiros sucessivos. Em tempos numa
rocha colocada estrategicamente a emoldurar uma rua, lia-se mais ou menos isto:
“O progresso de Peniche é o resultado do labor dos seus pescadores.” Acabados
os pescadores, o progresso parece desvanecer-se.
Parece que
definitivamente nos voltamos para o Turismo e serviços. Isto tem um preço
difícil de pagar e a que assistimos todos os dias. Longe vai o tempo em que
Peniche era uma terra que não dormia. O labor de mais de uma centena de barcos
da pesca do cerco e o transporte de milhares de quilos de peixe para as
fábricas e para a distribuição em todo o país, enchia os nossos olhos e ouvidos
de espanto e maravilha.
O Turismo,
ainda uma indústria sazonal e muito fechada em áreas especificas está longe de
trazer o labor sem horas com que a pesca nos brindava. Os serviços muito
específicos e sem impacto financeiro dada a situação de crise em que todo o
país vive não faz reviver a multiplicidade de actividades que outros tempos já
viveram.
A cidade de
Peniche neste período de invernia tem dias em que mais parece uma cidade
fantasma.
Não falo já
de uma actividade cultural e/ou recreativa digna de registo. Neste campo somos
o que fomos e, para além do “facebook” uma vivência a raiar a cusquice, pouco
consegue animar as hostes.
Vivem hoje
pequenos grupos de uma relação muito agregadora em torno de projectos
comunitários muito próprios. É a Casa do Benfica, é p Vila Maria, são os bares
da Ribeira velha, ou uma ou outra convivência mais intima ainda sobre grupos
musicais sem expressão, ou encontros de fim-de-semana mais minoritários ainda.
Sobre
actividades políticas ou de associações sectoriais a que assistimos o resultado
é cada vez mais indigente, pois servem exclusivamente interesses pessoais
egoístas e de ascensão individual.
O silêncio
de Peniche tornou-se uma imensa gritaria que ensurdece os poucos que ouvem.
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