UM RETRATO
DE COSTUMES
Nos anos 20/30
do século passado, a Associação era o centro da vida cultural e recreativa
daquele tempo. A certa altura foi levada à cena uma opereta de cujos versos e
músicas os autores se perderam no tempo. No entanto ficou um registo escrito
desse “espectáculo” com o título “PEDARS SOLTAS – COPLAS”.
Nele surgem
alguns versos que retractam o que era a vida nesses tempos. Com todo o gosto os
transcrevo.
MIUDO
Ao vento, à
chuva, ao sol pela Ribeira,
Descalço e
quasi nu; Eis meu tormento.
Orfão de
pai, sem ter eira nem beira…
E ninguém
compreende o meu lamento.
Que vida a
minha…
Roubar
sardinha
Para a fome
mitigar.
Minha avozinha,
‘Spera o
que eu lhe hei-de levar.
De lés a
lés,
Aos pontapés
Todos me
chamam ladrão.
Ai, não
existe
Vida mais
triste,
Mais
amargurado pão.
Mas tenho
fé em Deus Nosso Senhor,
Na
protecção do seu divino olhar.
Todas as
noites peço com fervor
Para
crescer, ser homem, trabalhar.
FADO DE
PENICHE
Peniche,
terra de lendas,
Romanescas
tradições,
Os teus
rochedos e rendas
Prendem
nossos corações,
Como os
mórbidos desejos
Nos enlaçam
dominantes;
Como a
doçura dos beijos
Prende os
lábios dos amantes.
Peniche,
Prodígio da natureza…
Peniche,
De belezas
sem egual...
Peniche,
És da costa
portugueza,
Peniche,
A rainha
sem rival.
Mãos de
fada, sem cessar
Seu
encantado labor,
Tecem
rendas de luar
Num sonho
terno de amor;
Enquanto
mãos calejadas,
Com ardor e
valentia,
Sobre ondas
encapeladas,
Lutam,
lutam… dia a dia.
VARINAS
Na gente da
beira-mar
Nós somos
Uns
salpicos joviais
Levando a
vida a cantar:
É
fresco!...
Hoje é
barato de mais!...
Um dia sem
vendaval
E então
Nosso canto
é mais dolente,
E atenuamos
o mal,
Dizendo
Que o
cantar faz bem à gente
Varinas,
Passam
lestas a correr,
Para a
sardinha vender,
Numa
constante canção.
Varinas,
Giga à
cabeça sorrindo,
Alegres vão
repetindo
O seu
risonho pregão.
Temos um
sonho de amor…
Singelo.
É toda a
nossa ambição
Um humilde
pescador
P’ra darmos
Inteirinho
o coração
E
partilhando esse amor,
Juntinhos,
Possamos
ter a alegria
De
trabalhar com ardor,
Ganhando
Para o pão
de cada dia.
COSTUREIRAS
Costureirinha
Vê bem a
linha,
Eu tenho a
agulha e o dedal
Na tua
mão!...
E por ser’s
bela,
Toma
cautela,
Não
descosas por teu mal
O coração.
Olha que o
choro, muitas vezes
Das
distracções é que vem.
Tem na vida
muito siso,
Perdes…a
linha também.
Eu já as
tenho avisado
Que há por
aí grande lote
De
sedutores aldrabões;
E é preciso
ter cuidado,
Para não
irmos no bote,
Por causa
das confusões.
Assim mesmo
é que é falar.
Pois é
melhor prevenir
Em vez de
remediar.
E p’ra
ninguém construir
Falsos
castelos no ar,
É melhor
pois repetir:
Costureirinha,
etc, etc,
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