EU E DEUS
No dia 30
do passado mês de Agosto, publiquei aqui duas imagens perturbadoras da morte de
2 crianças que intitulei, “QUANDO O DEUS
SE DISTRAI”.
A
utilização do artigo “O” teve o intuito de não ferir susceptibilidades. Serve
para todos os deuses e para nenhum em particular.
À guisa de
esclarecimento importa para mim ser muito claro quanto a este assunto.
Ser-me-ia cómodo dizer que sou agnóstico. As pessoas parecem aceitar isto com
alguma bonomia. Mas como já não estou em fase de disputar o que quer que seja a
quem quer que seja prefiro reafirmar em primeiro lugar que não sou cristão, nem
me sinto próximo do cristianismo.
Isto é, fui
baptizado segundo os ritos da religião católica porque nasci em Portugal em
1944. Porque se tivesse nascido noutro sitio seria baptizado no rio Jordão, ou
então no Ganges. Foram circunstâncias de tempo e lugar que fizeram de mim
católico.
Quem
explica estas coisas muito bem é Roger Martin du Gard no livro “O Drama de João
Barois”.
Não repudio
nenhuma religião em particular e atrai-me o misticismo de todas elas e o seu
lado onírico. Chego a comover-me até às lágrimas ao assistir a ritos de todas
elas.
O amor
irradiante do Papa Francisco é para mim tão comovente, como a humildade dos
Hindus, ou a paixão dos muçulmanos.
Posto a
isto o que me resta? A Humanidade. A beleza do Ser Humano. A sua capacidade de
valorizar os seus dias e os seus semelhantes.
De todo que
não faz parte das minhas preocupações como o Universo surgiu. Quem quiser que
acredite num click cósmico ou noutra qualquer explicação. Preocupa-me muito
mais a incapacidade das pessoas de serem coerentes com aquilo que dizem
acreditar.
Ver políticos
em actos religiosos não me perturba se só se representarem a si próprios e se
misturarem com as pessoas comuns. Já me ofende que representem o órgão
institucional em que servem. E que depois sejam corruptos ou facilitem a
corrupção e o favoritismo.
Perturba-me
a história de terem entrado na moda os funerais religiosos. E mesmo pessoas que
reconhecidamente sempre foram hostis à religião, levem uma missa por cima dos
ossos para que cheguem mais depressa ao seu destino.
Por mim já
disse em casa quero ir para a Casa Mortuária Municipal, urna fechada para não
deitar mau cheiro e ossos incinerados para que de mim só reste a recordação boa
ou má que fui construindo ao longo da minha vida. Quem quiser rezar por mim que
reze. Quem me quiser insultar que o faça.
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