segunda-feira, setembro 05, 2016


EU E DEUS

No dia 30 do passado mês de Agosto, publiquei aqui duas imagens perturbadoras da morte de 2 crianças que intitulei, “QUANDO O DEUS SE DISTRAI”.

A utilização do artigo “O” teve o intuito de não ferir susceptibilidades. Serve para todos os deuses e para nenhum em particular.

À guisa de esclarecimento importa para mim ser muito claro quanto a este assunto. Ser-me-ia cómodo dizer que sou agnóstico. As pessoas parecem aceitar isto com alguma bonomia. Mas como já não estou em fase de disputar o que quer que seja a quem quer que seja prefiro reafirmar em primeiro lugar que não sou cristão, nem me sinto próximo do cristianismo.

Isto é, fui baptizado segundo os ritos da religião católica porque nasci em Portugal em 1944. Porque se tivesse nascido noutro sitio seria baptizado no rio Jordão, ou então no Ganges. Foram circunstâncias de tempo e lugar que fizeram de mim católico.

Quem explica estas coisas muito bem é Roger Martin du Gard no livro “O Drama de João Barois”.

Não repudio nenhuma religião em particular e atrai-me o misticismo de todas elas e o seu lado onírico. Chego a comover-me até às lágrimas ao assistir a ritos de todas elas.

O amor irradiante do Papa Francisco é para mim tão comovente, como a humildade dos Hindus, ou a paixão dos muçulmanos.

Posto a isto o que me resta? A Humanidade. A beleza do Ser Humano. A sua capacidade de valorizar os seus dias e os seus semelhantes.

De todo que não faz parte das minhas preocupações como o Universo surgiu. Quem quiser que acredite num click cósmico ou noutra qualquer explicação. Preocupa-me muito mais a incapacidade das pessoas de serem coerentes com aquilo que dizem acreditar.

Ver políticos em actos religiosos não me perturba se só se representarem a si próprios e se misturarem com as pessoas comuns. Já me ofende que representem o órgão institucional em que servem. E que depois sejam corruptos ou facilitem a corrupção e o favoritismo.

Perturba-me a história de terem entrado na moda os funerais religiosos. E mesmo pessoas que reconhecidamente sempre foram hostis à religião, levem uma missa por cima dos ossos para que cheguem mais depressa ao seu destino.

Por mim já disse em casa quero ir para a Casa Mortuária Municipal, urna fechada para não deitar mau cheiro e ossos incinerados para que de mim só reste a recordação boa ou má que fui construindo ao longo da minha vida. Quem quiser rezar por mim que reze. Quem me quiser insultar que o faça.  

   

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