segunda-feira, fevereiro 20, 2017


QUE ESCOLA QUEREMOS?

                                                  Para o Pedro, meu ex-aluno da Escola da Atouguia
                                                  com a minha maior  amizade

A última revista (E) do jornal “Expresso” na sua rubrica fisga publica uma entrevista conduzida por Luciana Leiderfarb com o professor César Bona, que me impressionou sobremaneira pelo desassombro com que são colocados problemas sobre educação, que há muito constituem dúvidas com que todos nós que nos envolvemos no processo educativo nos questionamos. O entrevistado é um dos 50 melhores professores do mundo, finalista do Global Teatcher Prize.

Pensei em tantos colegas meus com que me orgulhei de trabalhar. E dei por mim a trabalhar esta entrevista dando-lhe um outro formato. À autora peço desculpa pelo meu arrojo. Ma sjulguei que arrumando-a de uma outra forma se tornaria mais apetitosa a sua leitura. No fundo apropriei-me do texto e tratei-o à minha maneira. Para contribuir para a sua leitura mais vasta e a sua discussão. O que penso terá sido o objectivo da autora do trabalho

Por último dediquei-o a um meu ex-aluno, que nunca consegui que os professores da minha escola lhe conferissem sequer o 6º ano de escolaridade. Ficou-se pela sua frequência. O que me provocou uma angustiante revolta que ainda não ultrapassei. Este meu ex-aluno conseguiu nunca fazer a vontade aos seus professores: este o seu mérito.

“Para que serve (a escola)? A educação tornou-se uma competição desportiva, não é valorizada.

Perguntar aos alunos que tipo de escola querem. O conhecimento é importante, Mas outros aspectos também o são. Noções como a empatia, a imaginação e o respeito são essenciais numa sala de aula.

Os vícios (mais frequentes) coisas que, por inércia, a repetir. Um é pensar que o respeito se impõe, em vez de se ganhar. Outro é achar que a escola serve para transmitir conteúdos. A educação para a felicidade é banalizada, à escola não se vai para ser feliz, vai-se para aprender.

Dar ferramentas (ao aluno), entre elas o conhecimento. Mas também o respeito por si próprio e perante o outro, a responsabilidade social.

Umaq criança pode avaliar o seu próprio trabalho e dizer se eu não acho isto bom, o professor também não vai achar. Isto é válido para o docente: não grites se não queres que gritem; respeita se queres que te respeitem; usa correctamente a tecnologia se queres que eles a usem…Não podemos pedir-lhes o que não lhes vamos dar.

Damos importância a perguntas cujas respostas já lhes demos previamente. E queremos que a reproduzam, esquecendo o processo. A pergunta serve para eles se envolverem, investigarem, partilharem. Mas, no fim, o que conta é que repitam o que o professor disse. Que saibam a resposta. Creio que devemos ensiná-los mais a reflectir e menos a passar nos testes.

Em geral, (os professores) aprendem cada vez mais matéria de língua e de matemática, mas não as ferramentas para ensinar. E acredito que, no ingresso à universidade, notas altas não deveria ser suficiente. Deveria ser possível medir o grau de compromisso social do candidato, porque trabalhar em educação é um privilégio e uma responsabilidade enorme.

(o professor) Deve convidar os alunos a extrair o que está dentro deles. Eles são curiosos por natureza. Bastaria sermos capazes simplesmente de alimentar essa curiosidade.

As 3escolas têm horas estabelecidas, que se podem alargar consoante a necessidade dos pais. Isso é uma questão. Depois está o tema dos TPC, que é o braço invasivo da escola e dos seus piores vícios em casa. É o absoluto esquecimento da infância.

Porque o tempo voa, a infância passa num instante. Se as crianças passarem as tardes a trabalhar, vão perder coisas verdadeiramente importantes. Os TPC impedem que elas façam coisas com os pais, mexem com o tempo interno das famílias, carregam os laços familiares de tensão e de uma sensação de perda de oportunidades. E o mais paradoxal é havere famílias que exigem TPC para os filhos. A essas gostava um dia de lhes perguntar: conseguiram desfrutar da infância deles?

As crianças não têm culpa que os currículos sejam tão extensos. E os TPC não podem servir para compensar isso. Se existirem devem servir para complementar ou investigar certas coisas. Mas pontualmente. A criança tem direito ao seu tempo, a chegar ao fim de semana e desligar – e ao fim de semana levam mais trabalhos porque têm mais tempo! Não podemos exigir-lhes algo que não queremos para nós.

Conheci escolas que baseiam os programas nas perguntas dos alunos. Por exemplo: porque temos um umbigo? Isto leva a uma explicação e a uma outra pergunta. E o impulso vem da curiosidade.

Tendemos a educar como fomos educados. E achamos que qualquer mudança vai levar ao cataclismo. Mas o cataclismo já está a acontecer, os resultados não são bons e há cada vez mais fracasso escolar. Porém, as crianças são a projecção dos pais, e os pais da sociedade. Vivemos submersos em stresse, consumismo, competitividade – e é o que lhes estamos a dar.

O exame não é importante, o qu3e importa é a avaliação. E o que devemos avaliar é a aprendizagem. Aprender é encontrar as ferramentas para obter a informação e partilhá-la. Quem souber fazer isso pode fazer mil exames. Queremos dar às crianças ferramentas para o futuro, mas quais são elas? Os conteúdos, aquilo que todos nós esquecemos? Não. A maior ferramenta é saber pensar.”

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