quinta-feira, maio 04, 2017


UM PORTUGAL DESCONHECIDO

No passado dia 1 de Maio o DN, publicou um artigo notável da jornalista Fernanda Câncio sobre um Portugal que a grande maioria dos portugueses desconhece. É o Portugal das memórias do colonialismo.

O nosso passado colonial foi-nos sempre apresentado como modelo de atitude ética e de modelo cristão de virtudes. O Infante D. Henrique um iluminado. E no entanto.

Em 1441 os portugueses iniciaram o comércio de escravos instituído pelo infante D. Henrique. Fomos nós que iniciámos o trabalho forçado imposto aos africanos e que perdurou até ao final dos anos 60 do século passado. Não falámos nas escolas da instituição do Estatuto do Indigenato desde 1926 até 1961. O racismo sempre existiu em Portugal e em particular nas antigas colónias.

Com o estatuto do indigenato foram criados 3 tipos de pessoas:

- Os indígenas, sem costumes ditos “civilizados” e cristãos, não tinham cidadania portuguesa e eram o objecto dos trabalhos forçados

- Os assimilados, que não sendo cidadãos de pleno direito podiam movimentar-se com alguma liberdade nas colónias e em Portugal continental

- E no topo da pirâmide os cidadãos brancos e portugueses

Eu próprio pude constactar esta realidade por força da minha curiosidade mórbida. Em 1963 era eu já aluno do Instituto Industrial li que iria ser possível frequentar um Curso de Formação Ultramarina promovido pela Mocidade Portuguesa. Inscrevi-me e lá participei nesse curso no Palácio das Necessidades. No final e como consequência dos resultados que obtive (um 4º lugar), foi-me oferecida uma viagem a S. Tomé e Príncipe.
O meu alojamento foi a roça de “Monte Café” e o meu guia lá foi dos capatazes da roça onde fiquei alojado juntamente com um filho do Prof. Matoso o tal dos livros de História. Aí foi-me explicado como eram recrutados os trabalhadores da roça. Erma de Angola. Vinham forçados pelos contratantes. Eram colocados a viver em casas na roça. Só lá podiam comprar nas lojas da roça os produtos com que se alimentavam. Ficavam em divida com a roça pelo dinheiro da viagem, da casa, das compras na loja. As mulheres e filhas eram propriedade da roça e ficavam ao serviço dos proprietários, das senhoras. O seu corpo era posto ao serviço dos brancos. Dos capatazes. E dos seus amigos. Contraiam uma divida que nunca mais ficaria paga.

Este era o nosso colonialismo “exemplar”. Foi em S. Tomé que percebi o Estado Novo.

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