UM PORTUGAL
DESCONHECIDO
No passado
dia 1 de Maio o DN, publicou um artigo notável da jornalista Fernanda Câncio
sobre um Portugal que a grande maioria dos portugueses desconhece. É o Portugal
das memórias do colonialismo.
O nosso
passado colonial foi-nos sempre apresentado como modelo de atitude ética e de
modelo cristão de virtudes. O Infante D. Henrique um iluminado. E no entanto.
Em 1441 os
portugueses iniciaram o comércio de escravos instituído pelo infante D. Henrique.
Fomos nós que iniciámos o trabalho forçado imposto aos africanos e que perdurou
até ao final dos anos 60 do século passado. Não falámos nas escolas da
instituição do Estatuto do Indigenato desde 1926 até 1961. O racismo sempre
existiu em Portugal e em particular nas antigas colónias.
Com o
estatuto do indigenato foram criados 3 tipos de pessoas:
- Os indígenas,
sem costumes ditos “civilizados” e cristãos, não tinham cidadania portuguesa e
eram o objecto dos trabalhos forçados
- Os
assimilados, que não sendo cidadãos de pleno direito podiam movimentar-se com
alguma liberdade nas colónias e em Portugal continental
- E no topo
da pirâmide os cidadãos brancos e portugueses
Eu próprio
pude constactar esta realidade por força da minha curiosidade mórbida. Em 1963
era eu já aluno do Instituto Industrial li que iria ser possível frequentar um
Curso de Formação Ultramarina promovido pela Mocidade Portuguesa. Inscrevi-me e
lá participei nesse curso no Palácio das Necessidades. No final e como
consequência dos resultados que obtive (um 4º lugar), foi-me oferecida uma
viagem a S. Tomé e Príncipe.
O meu
alojamento foi a roça de “Monte Café” e o meu guia lá foi dos capatazes da roça
onde fiquei alojado juntamente com um filho do Prof. Matoso o tal dos livros de
História. Aí foi-me explicado como eram recrutados os trabalhadores da roça.
Erma de Angola. Vinham forçados pelos contratantes. Eram colocados a viver em
casas na roça. Só lá podiam comprar nas lojas da roça os produtos com que se
alimentavam. Ficavam em divida com a roça pelo dinheiro da viagem, da casa, das
compras na loja. As mulheres e filhas eram propriedade da roça e ficavam ao
serviço dos proprietários, das senhoras. O seu corpo era posto ao serviço dos
brancos. Dos capatazes. E dos seus amigos. Contraiam uma divida que nunca mais
ficaria paga.
Este era o
nosso colonialismo “exemplar”. Foi em S. Tomé que percebi o Estado Novo.
Sem comentários:
Enviar um comentário