sexta-feira, julho 21, 2017


RAZÕES PARA AS COISAS

Lembro-me (e só me estou a recorrer da memória) de existirem 3 jornais desportivos: A Bola, o Record e o Mundo Desportivo. Mais um esforço e o 1º e o 3º saiam à 2ª, 4ª e Sábado e o 2º à 2ª, 5ª e Domingo.

Nesse tempo as notícias sobre futebol eram escassas. Esta modalidade ainda não se tinha descoberta como indústria geradora de rios de dinheiro, não existiam empresários, nem programas de televisão massacrantes. Tudo isto se alterou quando os jornais desportivos passaram a diários, as TVs generalistas passaram a 3, o Futebol se tornou uma indústria que movimenta milhares de milhões de euros, os empresários se tornaram uma das principais figuras deste mundo empresarial, a FIFA se tornou uma holding com leis próprias e os dirigentes desportivos encontraram aí uma forma de ganharem rios de dinheiro, já que eram um fracasso nas suas empresas. A lavagem de dinheiros tomou conta do futebol e as empresas de apostas começaram a facturar milhares de milhões e a corrupção alastrou em progressão geométrica. O futebol invadiu o mundo da política como forma de criar visibilidade aos que desejavam chegar tão longe quanto possível nesse domínio do poder.

Um dia destes a minha mulher em arrumações aqui em casa foi encontrar os equipamentos de futebol do meu pai. Passados 80 anos. Quando quem jogava à bola comprava os seus equipamentos. Quando a certa altura se tornou necessário para comer melhor uma refeição por semana jogar à bola.

Esse tempo acabou. E se existem algumas pessoas genuinamente adeptas dessa arte de com os pés se proporcionar o deleite de quem assiste, hoje o futebol até serve para pessoas com elevado nível intelectual ofenderem a mãe de alguns jogadores. E se é verdade que antigamente no calor de um desafio era comum ouvir-se “ah! Ganda filho da puta”, sendo que essa era uma expressão que envolvia uma descarga emocional e nunca visava individualmente as pessoas em causa, hoje ouvir um médico genial dizer que a mãe de um jogador era uma mulher sem estrutura moral, é muito mais ofensivo porque visa mãe e filho de serem indigentes morais e civicamente seres abjectos. Antigamente não ofendia porque era uma alarvidade, hoje ofende porque é objectivo e direcionado.

Se as novas tecnologias nos trouxeram mais conforto, já o mesmo não podemos dizer das atitudes comportamentais das populações e dos seus representantes mais evoluídos.

 

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