RAZÕES PARA
AS COISAS
Lembro-me (e
só me estou a recorrer da memória) de existirem 3 jornais desportivos: A Bola,
o Record e o Mundo Desportivo. Mais um esforço e o 1º e o 3º saiam à 2ª, 4ª e
Sábado e o 2º à 2ª, 5ª e Domingo.
Nesse tempo
as notícias sobre futebol eram escassas. Esta modalidade ainda não se tinha
descoberta como indústria geradora de rios de dinheiro, não existiam
empresários, nem programas de televisão massacrantes. Tudo isto se alterou
quando os jornais desportivos passaram a diários, as TVs generalistas passaram
a 3, o Futebol se tornou uma indústria que movimenta milhares de milhões de
euros, os empresários se tornaram uma das principais figuras deste mundo
empresarial, a FIFA se tornou uma holding com leis próprias e os dirigentes
desportivos encontraram aí uma forma de ganharem rios de dinheiro, já que eram
um fracasso nas suas empresas. A lavagem de dinheiros tomou conta do futebol e
as empresas de apostas começaram a facturar milhares de milhões e a corrupção
alastrou em progressão geométrica. O futebol invadiu o mundo da política como
forma de criar visibilidade aos que desejavam chegar tão longe quanto possível
nesse domínio do poder.
Um dia
destes a minha mulher em arrumações aqui em casa foi encontrar os equipamentos
de futebol do meu pai. Passados 80 anos. Quando quem jogava à bola comprava os
seus equipamentos. Quando a certa altura se tornou necessário para comer melhor
uma refeição por semana jogar à bola.
Esse tempo
acabou. E se existem algumas pessoas genuinamente adeptas dessa arte de com os
pés se proporcionar o deleite de quem assiste, hoje o futebol até serve para
pessoas com elevado nível intelectual ofenderem a mãe de alguns jogadores. E se
é verdade que antigamente no calor de um desafio era comum ouvir-se “ah!
Ganda filho da puta”, sendo que essa era uma expressão que envolvia uma
descarga emocional e nunca visava individualmente as pessoas em causa, hoje
ouvir um médico genial dizer que a mãe de um jogador era uma mulher sem
estrutura moral, é muito mais ofensivo porque visa mãe e filho de serem
indigentes morais e civicamente seres abjectos. Antigamente não ofendia porque
era uma alarvidade, hoje ofende porque é objectivo e direcionado.
Se as novas
tecnologias nos trouxeram mais conforto, já o mesmo não podemos dizer das
atitudes comportamentais das populações e dos seus representantes mais evoluídos.
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