GENTE DE POUCA FÉ
No início do século XX a família do meu pai constituía um clã muito respeitado na então vila de Peniche, família que veio a perder importância ao longo dos anos. O seu avô era o celebrizado “Baterremos”. Casado e com uma prole de 7 filhos, era proprietário de barcas (de onde lhe veio a alcunha) e de lojas de peixe, existindo ainda hoje os restos de uma delas na Ribeira Velha, que ostenta para quem a quiser reconhecer um painel de azulejos com a designação de “A Amiga de Peniche”.
Esse meu bisavô tinha um repertório de histórias que faziam a minha delícia quando o meu pai se dispunha a contá-las em tertúlias mais ou menos improvisadas. Uma delas era sobre um irmão dele, o “Joaquim Baterremos”, que ao que constava das crónicas apanhou uma bebedeira aos 16 anos por razões do coração, morrendo aos 33 anos dessa piela de que nunca mais se curou.
O Joaquim entrou por isso no anedotário da época por mérito próprio não abdicando nunca do lugar principal a que chegou a ascender. Uma das muitas que dele o meu pai contava e que hoje vou passar a escrito, é sobre uma época que se atravessou aqui na zona em que a chuva tardava em aparecer.
Na altura os recursos à água eram os dos poços individuais ou comunitários e pouco mais. A falta de água era um drama que atingia toda a gente por igual, pobres e ricos. Mais os ricos e remediados que os pobres, porque estes sempre viveram parcos na sua utilização. O drama das famílias mais necessitadas era a seca dos poços comunitários e dos riachos que por aqui haviam, tornando difícil até o simples acto de cozinhar.
No início do século XX a família do meu pai constituía um clã muito respeitado na então vila de Peniche, família que veio a perder importância ao longo dos anos. O seu avô era o celebrizado “Baterremos”. Casado e com uma prole de 7 filhos, era proprietário de barcas (de onde lhe veio a alcunha) e de lojas de peixe, existindo ainda hoje os restos de uma delas na Ribeira Velha, que ostenta para quem a quiser reconhecer um painel de azulejos com a designação de “A Amiga de Peniche”.
Esse meu bisavô tinha um repertório de histórias que faziam a minha delícia quando o meu pai se dispunha a contá-las em tertúlias mais ou menos improvisadas. Uma delas era sobre um irmão dele, o “Joaquim Baterremos”, que ao que constava das crónicas apanhou uma bebedeira aos 16 anos por razões do coração, morrendo aos 33 anos dessa piela de que nunca mais se curou.
O Joaquim entrou por isso no anedotário da época por mérito próprio não abdicando nunca do lugar principal a que chegou a ascender. Uma das muitas que dele o meu pai contava e que hoje vou passar a escrito, é sobre uma época que se atravessou aqui na zona em que a chuva tardava em aparecer.
Na altura os recursos à água eram os dos poços individuais ou comunitários e pouco mais. A falta de água era um drama que atingia toda a gente por igual, pobres e ricos. Mais os ricos e remediados que os pobres, porque estes sempre viveram parcos na sua utilização. O drama das famílias mais necessitadas era a seca dos poços comunitários e dos riachos que por aqui haviam, tornando difícil até o simples acto de cozinhar.
A situação de seca tornou-se de tal forma insustentável que o pároco da época, decidiu organizar uma procissão de desagravo de Peniche de Baixo ao Senhor dos Remédios. Prepararam-se os meios e as preces e no dia aprazado lá saiu a procissão da Igreja da Conceição entre orações e cânticos, pedindo que a intervenção divina concedesse a Graça de uma chuvada ao seu povo devoto.
Ia a procissão a chegar aos Remédios quando de uma qualquer cortada aparece o Jaquim Baterremos de fato de oleado, botas de borracha, sueste e chapéu de chuva e integra-se na procissão. Blasfemo, ímpio, desavergonhado, bêbado, malandro, foram alguns dos epítetos que as beatas lhe dedicaram, para além do olhar feroz e excomungatório do padre, enquanto o Jaquim seguia imperturbável no meio do mulherio.
Chegados perto do Santuário, pára a procissão e aprestam-se os crentes para iniciarem as rezas finais. Nessa altura começam a cair uns pinguitos de chuva. Ainda as beatas, não tinham tido tempo para dizer MILAGRE! e já caía uma bátega de água que a todos começou a encharcar. Todos não. Enquanto mulheres, padre e sacristão fugiam a bom fugir para se abrigarem, o meu tio Jaquim Baterremos impávido e sereno, de chapéu de chuva aberto, vociferava em alto tom de voz: -GENTE DE POUCA FÉ!!! DESCRENTES!!! Castiga-os Senhor que não acreditam em Ti!!! SUAS FALSAS!
Consta-se que tão cedo não tornou a haver preces para que chovesse em Peniche.
Deixo à vossa consideração a moral da história, do meu tio bêbado e da chuva...
Ia a procissão a chegar aos Remédios quando de uma qualquer cortada aparece o Jaquim Baterremos de fato de oleado, botas de borracha, sueste e chapéu de chuva e integra-se na procissão. Blasfemo, ímpio, desavergonhado, bêbado, malandro, foram alguns dos epítetos que as beatas lhe dedicaram, para além do olhar feroz e excomungatório do padre, enquanto o Jaquim seguia imperturbável no meio do mulherio.
Chegados perto do Santuário, pára a procissão e aprestam-se os crentes para iniciarem as rezas finais. Nessa altura começam a cair uns pinguitos de chuva. Ainda as beatas, não tinham tido tempo para dizer MILAGRE! e já caía uma bátega de água que a todos começou a encharcar. Todos não. Enquanto mulheres, padre e sacristão fugiam a bom fugir para se abrigarem, o meu tio Jaquim Baterremos impávido e sereno, de chapéu de chuva aberto, vociferava em alto tom de voz: -GENTE DE POUCA FÉ!!! DESCRENTES!!! Castiga-os Senhor que não acreditam em Ti!!! SUAS FALSAS!
Consta-se que tão cedo não tornou a haver preces para que chovesse em Peniche.
Deixo à vossa consideração a moral da história, do meu tio bêbado e da chuva...
--------------------------------------------------------------
Eu VOTO SIM à despenalização do aborto
--------------------------------------------------------------
Sem comentários:
Enviar um comentário