quinta-feira, fevereiro 14, 2008

REFERÊNCIAS
Uma a uma vão desaparecendo as “pessoas-referência” que sempre associei ao meu pai. Agora é a vez do Joaquim Pinto que dentro de algumas horas vou acompanhar ao cemitério.
O snr. Pinto tem a ver tudo com uma época de explosão económica em Peniche. Era o proprietário do “Alcantarense”, barco de salvados marítimos que tantas vezes pisei nas mais diversas circunstâncias. Aqui o Pinto era mergulhador. Salvava barcos que se tinham cruzado com as rochas da costa portuguesa. Ou definitivamente desmantelava-os e vendia-os para a sucata.
Era também o dono dos tractores que puxavam para a praia os barcos da pesca da sardinha em época de defeso, ou deitava-os à água após as reparações de manutenção a que eram sujeitos.
Tudo isto num tempo de grande desenvolvimento das pescas em Peniche. O meu pai era o homem que punha todo o potencial mecânico das empresas do Snr. Pinto em movimento. Este, era um gosto ouvi-lo. No café Aviz ou na oficina ele e o Sr. Acelino de tudo sabiam. As suas opiniões eram enciclopédicas. Ouvi-los era uma delícia e era uma Escola. Agora resta-me a memória. E preservar o que ouvi. E o que vi. Não mais vou vender bilhetes para as Berlengas no Alcantarense, mas posso guardar essas memórias, se possível passá-las ao papel e tentar que o que representaram para mim e para a minha formação como pessoa, não se diluam.
Contar as “passadas” dum tempo em que conversar era o reino do saber. Que o teu barco não encalhe Pinto. Quem te há-de agora desencalhar a ti com o Alcantarense já fora de serviço?

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