segunda-feira, fevereiro 27, 2012

O CAMINHO
Percorro uma a uma as fotografias do espólio que ao longo dos anos fui acumulando. As minhas. As dos meus mais próximos. As dos meus pais e dos meus avós. Tal como Barthes procuro que seja a câmara clara que me ensine a fruir dos momentos fixados. Registo instantes que foram espaços únicos. Irrepetíveis.
É nestas fotos que me (re)encontro. E com o Eduardo Lourenço percorri o meu labirinto da saudade. A propósito destas fotos reli Sartre e Russel. Reli Santo Agostinho e Marcuse. É nestes saberes dispersos que me penitencio e encontro explicações.
De todas as fotos retive esta.
Trouxe-a o meu pai de um dia que em grupo de Peniche que foi ao “Maria Vitória” na 1ª metade do século passado ver uma revista à Portuguesa.
No círculo traçado podem ver-se da esquerda para a direita: O senhor meu pai, o Ludgero Assis Gonçalves, o João Narciso Dias, o seu pai Sr. Narciso Dias e o Sr. António Rodrigues (Minó).
Os cinco já não pertencem ao mundo dos vivos. Riem-se com a certeza de que o seu riso retém tudo o que de importante a vida deve conter. A imagem parou naquelo momento em que riem. Os cinco deixaram em Peniche preocupações, fábricas, barcos, oficinas, import/export. Só a sua alegria conta. Em Eugénio Salvador e Humberto Madeira encontram a dimensão do seu prazer a fruição do que mais os entusiasma.
Prendo-me nesta foto em oposição aos instantes que me perturbam. O meu pai e os seus amigos sempre foram a minha referência e o meu Porto de Abrigo. Difícil. Duro. Agreste. Rude. Parcimonioso. Sempre inflexível. O meu pai sempre foi a minha referência e o meu norte. Nele e com ele aprendi que a vida não é uma herança. É uma batalha que tem de ser travada. Hoje mais que nunca o admiro e respeito. Vê-lo rir é um momento único. Por isso trouxe esta foto à coação.

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