sábado, janeiro 18, 2014

JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS

Perfazem hoje 30 anos sobre a morte do poeta. Sobre a sua condição de poeta os críticos e os eruditos falarão melhor que eu. Sobre quem fez da poesia uma arma, aí já poderei dizer o que sinto. Contribuiu como poucos para dar a palavra à canção. Todos já o cantaram de uma ou outra forma. Como cidadão foi controverso qb. Nunca se escondeu e buscou na discussão levar os outros a pensarem no Homem como a forma mais sublime da existência.
Por tudo isto, e pelo que não sou capaz de dizer, em jeito de homenagem deixo aqui um poema seu que permitirá a quem o ler compreender melhor o autor.
 
Meu Camarada e Amigo

Revejo tudo e redigo 
meu camarada e amigo. 
Meu irmão suando pão 
sem casa mas com razão. 
Revejo e redigo 
meu camarada e amigo 

As canções que trago prenhas 
de ternura pelos outros 
saem das minhas entranhas 
como um rebanho de potros. 
Tudo vai roendo a erva 
daninha que me entrelaça: 
canção não pode ser serva 
homem não pode ser caça 
e a poesia tem de ser 
como um cavalo que passa. 

É por dentro desta selva 
desta raiva   deste grito 
desta toada que vem 
dos pulmões do infinito 
que em todos vejo ninguém 
revejo tudo e redigo: 
Meu camarada e amigo. 

Sei bem as mós que moendo 
pouco a pouco trituraram 
os ossos que estão doendo 
àqueles que não falaram. 

Calculo até os moinhos 
puxados a ódio e sal 
que a par dos monstros marinhos 
vão movendo Portugal 
— mas um poeta só fala 
por sofrimento total! 

Por isso calo e sobejo 
eu que só tenho o que fiz 
dando tudo mas à toa: 
Amigos no Alentejo 
alguns que estão em Paris 
muitos que são de Lisboa. 
Aonde me não revejo 
é que eu sofro o meu país. 

 

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