O senhor vereador da Câmara Municipal de Peniche responsável pela “Mostra Internacional de Rendas de Bilros”, enviou-me um amável convite para assistir a esse evento por eu ter sido em anterior executivo responsável por esse mesmo sector.
Com o convite enviou-me um comunicado à imprensa onde relata situações em que diversos criadores utilizaram ou rendas de bilros ou seus fragmentos, em objectos de moda contemporânea.
Reconheço
em mim alguma dificuldade para poder aceitar alguns aspectos ditos “criativos”
que envolvem certas actividades ancestrais. Serei “bota-de-elástico”.
Mas
continuo a ver a nobreza das rendas de bilros em toalhas de linho para mesas em
dias especiais. Ou em “naperons” que ostentam o que de melhor as casas dispõem
em dias de festa. Vejo as rendas de bilros em lençóis de noivas, ou em camisas
de noites nupciais.Vejo estas obras de arte tecidas em linhas de grande qualidade e com desenhos de nobreza singular em vestidos de noiva de singular requinte.
Recordo
as técnicas ancestrais e os ensinamentos de grandes mestres desde a idade média
que justificam a utilizaçãi de materiais nobres, de acordo com a função em que
serão aplicados, a forma que lhe deverá ser moldada e a função que
desempenhará.
Daí
a minha estranheza de que o município de Peniche, guardião último da
integridade e qualidade das Rendas de Bilros, aceite a aplicação destas em calçado
ainda que executado em material nobre como é a cortiça.
Sapatos
são para se utilizarem nos pés como protecção destes em relação a pisos sejam
que de tipo forem. Rendas de Bilros em contacto com poeiras, materiais duros ou
altamente desgastantes e abrasivos, é como condenar as Rendas a uma situação em
que não poderão nunca sair incólumes. Aceitar isto é aceitar que se forrem
gavetas com quadros da Josefa de Óbidos ou pintar altares em talha dourada, com
tinta plástica cor de ouro.
Nem
tudo é aceitável neste cantinho aculturado e espúrio em relação às nossas
tradições ancestrais. Agradeço o esforço que se faz em nome da eventual defesa
das Rendas de Bilros. Mas por favor não ultrapassem o limite do razoável. Ou
não façam nada.
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